Casa

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Caminhamos de volta em direção ao pub com o céu começando a ganhar tons alaranjados do final da tarde. O vento leve soprava enquanto Erin e Mailyn caminhavam à nossa frente, conversando animadamente sobre algo que eu não conseguia ouvir direito. Jack, ao meu lado, estava mais quieto do que o normal, talvez refletindo sobre o que tínhamos discutido na loja.

Chegando na porta do pub, onde tudo começou na nossa primeira noite em Galway, eu senti um aperto no peito. Erin virou-se para mim, com aquele sorriso suave que fazia o tempo parecer mais lento.

— Nos vemos mais tarde? — ela perguntou, inclinando a cabeça de leve.

— Claro — respondi, mas sabendo que cada encontro agora carregava o peso da despedida iminente.

Jack e Mailyn também trocavam algumas palavras mais tranquilas, e depois de um último abraço, nos despedimos delas e começamos a caminhar em direção ao hotel. O silêncio entre mim e Jack era estranho no início, algo que raramente acontecia, mas logo ele quebrou o gelo.

— Cara, eu não quero voltar — soltei de repente, sem conseguir segurar mais o pensamento. Olhei para o céu, tentando absorver cada pedaço da paisagem como se pudesse guardá-la para sempre. — Galway, Erin, tudo aqui... Parece que a gente encontrou algo diferente, sabe?

Jack soltou um suspiro profundo, balançando a cabeça em concordância.

— Tô contigo, cara. Sabe o que é engraçado? Eu tava pensando a mesma coisa. Não quero ir embora. — Ele olhou para o chão por alguns segundos antes de continuar, com um meio sorriso. — Se eu ficasse por aqui, talvez eu arrumasse um trampo no pub onde Mailyn e Erin tocam com a banda. Sei lá, ajudaria a organizar as mesas ou qualquer coisa assim.

Eu ri, imaginando Jack realmente trabalhando no pub e se metendo em encrenca com os frequentadores regulares.

— E se você tivesse sorte... — comecei, provocando.

— Se eu tivesse sorte, quem sabe? Casaria com a Mailyn. — Jack riu, mas logo sua risada se tornou mais suave, quase sonhadora. — Ela é demais, cara.

Dei uma risada baixa, sabendo que, por mais que ele estivesse brincando, havia uma verdade sincera no que Jack dizia. Ele estava tão envolvido quanto eu. E o pensamento de que nossas vidas estavam prestes a mudar de novo, com o retorno para Londres, fazia tudo parecer ainda mais urgente. O tempo estava correndo.

— E você? — Jack me encarou, dando um soco leve no meu braço. — Vai ficar por aqui também, casar com a Erin, montar uma casa em algum lugar perto do mar?

Eu ri, mas dessa vez, o peso da pergunta ficou pairando por mais tempo.

— Não sei — respondi, tentando soar mais leve. — Mas, seja o que for, acho que vale a pena arriscar, né?

Jack sorriu de lado, e andamos em silêncio até o hotel, cada um de nós perdido em seus próprios pensamentos sobre o que o futuro poderia nos reservar. Sabíamos que o fim da viagem estava se aproximando, mas também sabíamos que, de alguma forma, Galway já tinha nos mudado.

Enquanto caminhávamos, Jack começou a falar de novo, a animação voltando ao seu tom.

— Olha, Liam, eu tô pensando em voltar pra Londres só pra arrumar as minhas coisas. Mas não por muito tempo. Assim que eu resolver tudo, já era, eu volto pra cá — disse ele, com um brilho determinado nos olhos. — Volto pra Mailyn, pra esse lugar.

Suas palavras ressoaram em mim, e eu comecei a refletir. A ideia de que ele estava disposto a deixar tudo para trás por causa de alguém que conheceu em tão pouco tempo era impressionante. Eu tinha certeza de que ele sentia que algo especial estava acontecendo.

— Casa não é apenas um lugar — Jack continuou, agora mais sério. — Casa é onde você se sente bem, onde risos e conversas são frequentes e calorosos. E agora, pra mim, a casa é a Mailyn.

Aquelas palavras foram um golpe de sabedoria que me atingiu em cheio. Eu parei por um momento para processar o que ele estava dizendo. Jack estava certo; ele tinha encontrado algo que fazia sentido para ele aqui.

— Eu... — comecei, hesitando um pouco. — Eu percebi que não sinto falta de Londres. Sério. Eu não tô sentindo nada disso porque, de alguma forma, já estou em casa. Erin é minha casa, e eu acho que ela é a luz que eu sempre procurei.

Jack me olhou, um sorriso se formando em seu rosto, mas havia uma sinceridade no olhar dele que eu nunca tinha visto antes.

— Então, o que você vai fazer agora? — ele perguntou, com um tom quase ansioso.

— Não sei ainda, mas quero explorar isso. Quero ver aonde isso nos leva, a mim e à Erin. — Eu olhei para a frente, lembrando do sorriso dela, da risada dela. — Quero que ela saiba como eu me sinto.

Jack deu um tapinha nas minhas costas.

— Aí sim, meu amigo! Vê se não espera muito. Aproveita, porque essa viagem não vai durar pra sempre.

Concordei com a cabeça, enquanto seguimos em direção ao hotel. A ideia de que estávamos apenas começando uma jornada, tanto pessoalmente quanto nas nossas novas amizades, parecia reconfortante.

E naquele momento, enquanto caminhávamos em silêncio, percebi que o verdadeiro significado de casa não era apenas físico, mas emocional. Galway e, mais importante, Erin, estavam se tornando tudo o que eu precisava.

Garota de GalwayOnde histórias criam vida. Descubra agora