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O casamento foi pequeno, com apenas os parentes mais próximos presentes. Havia mais membros da imprensa do que convidados. Certamente houve mais discursos políticos do que parabéns aos recém-casados.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, tudo acabou. A imprensa saiu, Lorde Ksar'ngh'chaali deu um seco parabéns e partiu também, após avisá-los que voltaria dentro de alguns meses para a eleição de seu novo Lorde
Chanceler - ou pelo menos foi o que ele disse. Cinicamente, Minho pensou que Ksar voltaria porque não confiava neles para manter a paz.

De qualquer forma, restavam apenas as duas famílias e o primeiro-ministro Kim. O último estava falando com Jisung. Seu marido.

Minho ainda não conseguia acreditar totalmente. Ele tinha um marido.

Um marido que ele conheceu algumas horas atrás. Parecia surreal.

— Minho.

Ele se virou ao som da voz de seu pai.

— Sua Majestade!

Rei Donghae parecia descontente, não que fosse uma novidade.

— Não quero ficar aqui mais do que o necessário. Vamos nos despedir agora que esta farsa finalmente acabou. Eu Já disse ao piloto para preparar nosso avião para a partida.

Minho acenou com a cabeça e olhou para a mãe. Ela estava falando com a mãe de Jisung.

— Vou avisar a mamãe e então podemos ir...

— Aonde você está indo?

A voz profunda familiar fez Minho congelar. Ele se virou e olhou para Jisung - para seu marido. O beta estava olhando para eles com a testa franzida, seus olhos escuros passando de Donghae para Minho e vice-versa.

Antes que Minho pudesse dizer qualquer coisa, seu pai respondeu friamente:

— Estamos nos despedindo.

A carranca do Han se aprofundou. Ele olhou para Donghae por um longo momento antes de dizer suavemente:

— Desejo a você e sua esposa um bom vôo, mas meu marido ficará aqui.

Uma veia se contraiu na têmpora de Donghae.

— Perdão? — Ele resmungou. — Eu e minha família estamos indo embora. — Seu tom foi definitivo. — Venha, Minho.

Jisung pôs a mão no ombro de Minho.

— O meu marido vai ficar aqui. — Ele repetiu, sua voz como aço.

Uma risada histérica borbulhou na garganta de Minho. O rosto de seu pai não tinha preço. Ele honestamente não conseguia se lembrar da última vez que alguém se atreveu a contradizer seu pai, muito menos um beta fazendo isso. Não que os betas não pudessem ser confiantes, mas era biologicamente difícil para os betas enfrentar os alfas: os feromônios alfa geralmente eram opressores e intimidantes demais.

Até mesmo agora, os feromônios alfa de seu pai estavam tentando subjugar a vontade de Jisung, mas, para espanto de Minho, o Han não parecia afetado em nada, sua expressão era firme e impressionada.

— Seu marido... — Donghae disse, zombando. —O oficial do Conselho Galáctico foi embora e não há mais repórteres aqui; não há necessidade de continuar atuando. Todos nós sabemos que esse casamento é uma farsa.

Jisung olhou para o rei com firmeza.

— Você está sendo ingênuo ou míope se acha que podemos simplesmente abandonar o "ato" agora que Lorde Ksar se foi. Não, não pode. Para que a paz dure, nosso povo precisa acreditar que estamos falando sério sobre a paz e sobre esta união. Seu filho é casado comigo. Ele é meu marido e não pode deixar Kadar tão cedo. Certamente tornaria óbvio para todos que este casamento nada mais é do que uma farsa e tornaria inútil tudo aquilo que fizemos hoje.

Minho franziu a testa, pensativo. Han estava certo. Ele precisava ficar mais um pouco. Mas seu pai nunca permitira que a opinião de ninguém mudasse a sua, e duvidava que ele fosse começar agora.

O rosto avermelhado de Donghae confirmou isso.

— Você...

— Pai — interrompeu Minho, mantendo a voz firme, mas respeitosa, o tom que ele aperfeiçoou ao longo das décadas. Ele precisava ajudar seu pai a salvar sua face, ou Donghae nunca desistiria. — Eu concordo com você: o ponto do senador é válido. Ficarei em Kadar um pouco e depois voltarei para casa. Você e a mamãe devem ir em frente.

Por um momento, ele pensou que seu pai fosse explodir. Mas então Donghae respirou fundo e soltou o ar.

— Tudo bem. — Ele quase rosnou. — Esperamos você em casa em breve. — E agarrando sua esposa, ele saiu da sala, sem se preocupar em dizer adeus a Minho.

Minho suspirou, vendo seus pais partirem com sentimentos contraditórios. Por um lado, ele estava aliviado por estar longe das importunações do pai, mas também estava muito consciente de que agora estava sozinho em um país estrangeiro, entre pessoas que não o amavam; muito pelo contrário.

Ele se voltou para Han e os dois apenas se encararam, cautelosos e tensos.

— Han...

— É Jisung. Você é meu marido.

— Jisung. — Disse Minho. — Embora eu não goste de você fazer escolhas e falar por mim sem me consultar primeiro, admito que seu ponto foi válido: não posso ir agora.

— Mas?

— Mas eu sou o príncipe herdeiro. — Disse Minho. — Não posso ficar muito tempo. Tenho deveres que não posso abandonar. Meu pai espera que eu volte para eles em breve.

Os olhos do beta se cravaram nele.

— Quais seriam essas funções?

— Sou o general do exército pelugiano para começar.

— Para que você precisaria do exército se realmente espera que a paz dure?

Minho o fulminou com o olhar, seu cheiro se intensificando.

— Você está insinuando que Pelugia pretende trair Kadar?

Jisung deu a ele um olhar firme.

— Não estou insinuando nada, Vossa Alteza. Estou simplesmente fazendo uma pergunta.

— Jisung. — Minho grunhiu. — Eu não deveria ser seu marido? Ou você se lembrará apenas quando for conveniente para você?

As narinas de Jisung dilataram-se. Ele seguiu em frente até que estivessem nariz com nariz. Eles tinham exatamente a mesma altura, ou talvez Jisung fosse um pouco mais baixo; era difícil ter certeza quando eles estavam tão perto.

Minho respirou trêmulo, o seu coração batendo forte nos ouvidos. O cheiro neutro de Jisung estava misturado com algo mais espesso, mais escuro, algo que fez sua pele arrepiar de agitação.

— Minho. — Disse Jisung. — Você é meu marido. Eu não esqueci. Você vai vir comigo para Han House. Você vai comparecer a vários eventos comigo por uma boa publicidade. Você vai ficar aqui em Kadar até que as pessoas comprem nosso casamento.

Minho queria mandá-lo se foder. Não por causa do que Jisung estava dizendo, mas por causa daquele tom irritante e autoritário. Ninguém falava com ele dessa maneira. Que safado!

Ele sentiu seu próprio cheiro ficar mais espesso - uma reação alfa natural por ser ameaçado - mas Jisung nem mesmo vacilou. Ele continuou olhando para Minho, aquele cheiro de terra molhada aparecendo em seu cheiro novamente e se tornando tão opressor que o fez estremecer.

A tensão estalou como eletricidade estática, presa entre seus dois corpos. Tudo o que ele podia ver eram olhos negros olhando para ele atentamente.

Minho foi o primeiro a desviar o olhar.

— Tudo bem. — Disse ele, incapaz de acreditar em si mesmo. Se seu pai estivesse aqui, se visse seu filho alfa se submetendo à vontade de um beta, ele o negaria na hora.

O cheiro de Jisung se tornou menos opressor, mas não mudou de volta para seu cheiro neutro, os tons agudos persistentes.

— Bom. — Jisung disse e deu um passo para trás.

Minho soltou a respiração que não percebera que estava prendendo.

Que porra.

𝐔𝗇𝗇𝖺𝗍𝗎𝗋𝖺𝗅  •  𝐌𝗂𝗇𝐒𝗎𝗇𝗀Onde histórias criam vida. Descubra agora