14. Amber

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O céu já estava pintado de laranja quando finalmente acabaram os treinos. Amber sentia seus músculos arderem sob o uniforme suado. Estava na cozinha de seu dormitório, procurando algo fácil para comer. Viu alguns lanches e comidas instantâneas, escolheu um deles e retirou-se para o quarto.

Depois de um banho tomado, cabelos lavados e escovados, deitou-se na cama, olhando para o teto branco, meio mofado. Dormiria facilmente naquela noite, considerando o quão cansada estava, especialmente depois de ser derrubada por Mitsue mais de dez vezes seguidas.

- Você falou que atacaria para a direita! Isso era a esquerda! - disse, depois de um golpe duro da bainha da katana da diretora.

- Menti - foi a resposta seca de Mitsue.

Entretanto, o descanso foi atrapalhado por pequenas batidas na janela. No início, Amber pensou ser o vento, mas, como as batidas não paravam, levantou-se para entender o que estava acontecendo. Viu pequenas pedras na calha do telhado de barro. Abriu a janela e se debruçou para frente. No começo, não havia ninguém, mas logo depois, algo embaçado se moveu, e uma pedra a acertou na testa.

- Ai!! - exclamou, levando a mão à cabeça. - Bem na minha cicatriz!

- Desculpe!! - respondeu Hiro, visivelmente constrangido. - Não foi a intenção, não tinha te visto na janela antes de atirar.

Amber já não usava mais os curativos na cicatriz. Algumas curandeiras haviam lhe dito para passar bálsamos e evitar tocá-la (algo que já fizera duas vezes naquele dia: uma no boneco de treino e agora, graças a Hiro).

- O que você quer? - perguntou, em tom meio grosseiro. Hiro pareceu afetado por suas palavras, recuando um pouco os ombros. Amber percebeu isso e se desculpou.

- Foi mal... Passei o dia todo com a Mitsue, acho que peguei o jeito de falar dela.

O garoto sorriu, meio tímido, o que fez Amber se sentir um pouco melhor.

- Estou aqui a mando da Leka - disse Hiro, ainda com um leve embaraço. - Ela quer saber se você topa fazer uma festa do pijama ou algo assim.

- E isso é permitido? - Amber arqueou as sobrancelhas.

Hiro apenas deu de ombros. Amber estava tão cansada que não queria arriscar levar mais uma bronca de Mitsue no treino do dia seguinte.

- Hannah pode me denunciar - murmurou.
Ah, sim. Sobre isso... Hannah dividia o prédio com Amber. Havia quatro prédios no total, e, para sua infelicidade, Mitsue escolhera justo aquele onde estava a garota que parecia querer vê-la morta.

- Hannah nem vai se importar - respondeu Hiro, como se fosse óbvio, mas Amber ainda tinha suas dúvidas.

Ela queria rejeitar o convite. Não se sentia confortável o suficiente naquele lugar para sequer pensar em construir uma amizade. Mas, ao se levantar da cama, pegar um pijama (um que Mitsue havia providenciado) e caminhar até o dormitório de Leka, suas ações diziam o contrário. Talvez a companhia daqueles dois fosse melhor do que ficar olhando para o teto mofado.

Ao passar pela cozinha, encontrou Hannah sentada, comendo picles puros de um pote aberto. Amber ouvia o som das mastigadas fortes enquanto a garota saboreava os picles com vontade.

- O que você está fazendo? - perguntou Amber, segurando um sorriso. Para ela, a cena era tanto hilária quanto um pouco nojenta. Hannah tomou um susto ao perceber sua presença.

- O que você está fazendo?! - retrucou Hannah, nervosa. - Por que está me bisbilhotando?

- Não estou te bisbilhotando - respondeu Amber, finalmente soltando uma risada leve. - Estava indo para o dormitório da Leka e...

O Demônio Do Jardim SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora