15. Amber

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Havia sinos, ouvia-os ao longe.

Não sabia onde estava. Parecia um grande salão de festas, visto que diversos casais rodopiavam ao som de uma dança nem animada e nem parada, mas sim numa melodia perfeita.

Percebeu finalmente que havia um casal em destaque. Não conseguia vê-los ou descrevê-los, apenas acompanhava o bailar de suas silhuetas.
O casal era magnífico. Todos paravam para olhá-los.

Somente pararam de rodopiar e saltar quando a música havia cessado. Enquanto as palmas surgiam, o casal às pressas corria risonho para fora do salão.

Ela não tinha escolha a não ser acompanhá-los.
Desceram uma grande escadaria de um palácio cercado por uma natureza exuberante. Correram por uma trilha entre árvores e finalmente chegaram onde planejavam ir.

No primeiro momento, parecia nada demais. Havia uma porta de madeira acima de alguns degraus de pedra musgosa sob uma parede tomada pelo verde. Entretanto, quando abriram essa porta, tudo se transformou.

Do outro lado havia um imenso jardim. Nele, as mais diversas flores cercavam uma grande árvore com provavelmente mais de duzentos metros. Borboletas e vagalumes incrementavam a paisagem. Era incrível.

O casal parecia falar algo, mas Amber não escutava. Estava distante, e algo a impedia de se aproximar. Mas pareciam tão felizes e apaixonados… Ela não esperava que algo terrível pudesse acontecer. Entretanto, aconteceu.

A silhueta mais alta se transformava, agoniada, em algo terrível. Seu corpo se contorcia enquanto seus dedos se tornavam afiados, suas costas davam espaço para duas asas pesadas e, o mais terrível para Amber, dois chifres começaram a se formar em sua cabeça.

Aquele homem havia se tornado um demônio.

...

Amber acordou num sobressalto, respirando fundo para tentar recuperar o ar que lhe faltava. O que foi aquilo? Pensou. Estava tão assustada que não conseguia parar de pensar no sonho.

Olhou ao redor para tomar conta da realidade novamente e viu Leka e Hiro dormindo, a primeira roncando e o segundo sorrindo bobo. Mas Amber os ignorou enquanto atravessava a passos leves o caminho da cama até a porta.

Caminhou sem rumo pela noite dentro das muralhas da Academia Mallmes, refletindo sobre o pesadelo. Não era a transformação que a incomodava, mas sim a agonia daquele homem, contorcendo-se em dor entre gritos e gemidos. Não sabia dizer o que tinha acontecido, foi tão rápido que nem conseguira perceber como a mulher reagiu. Amber nunca havia sonhado com algo assim.

Por que agora, quando tudo já estava tão estranho?
Enquanto continuava a caminhada, percebeu que subia a escadaria que levava ao prédio principal da Academia. Ao olhar para cima, viu os pés de Mitsue na beira do telhado. Apenas a ignorou.

Amber andava pelos corredores, sem rumo, quando ouviu um barulho de queda vindo de uma das salas próximas. Viu uma pequena fresta de luz, iluminada por uma vela fraca, e entrou.

— Tem alguém aí? — perguntou.

— Amber! — exclamou Hanael, dando um pulo de susto. — Você me assustou! O que faz aqui a essa hora?

— Nada, eu só estava caminhando e acabei parando aqui. — concluiu.

Finalmente, Amber pareceu perceber onde estava. Era uma grande biblioteca de dois andares, com diversas estantes repletas dos mais variados tipos de livros. Ao fundo, um mapa de Laosi estava pendurado em um quadro antigo. De cima, um grande candelabro iluminava o local.

O Demônio Do Jardim SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora