13. Mitsue

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- Por acaso já teve alguma experiência em combate?

Mitsue e Amber caminhavam em silêncio em direção à área afastada que Mitsue havia arrumado. A pergunta inesperada quebrou o silêncio, fazendo Amber se sobressaltar.

- Uma vez soquei o estômago de um garoto - respondeu Amber. Mitsue ergueu as sobrancelhas, ligeiramente surpresa. Não pela agressão em si-ela certamente já fizera pior-, mas por imaginar a garota frágil ao seu lado envolvida em algo assim.

- Não me arrependo. Ele mereceu.

Logo chegaram ao campo aberto que Mitsue havia escolhido. Era uma clareira mais isolada, cercada por árvores finas e pequenas. Um lugar que Mitsue considerou apropriado para o treino. Ela se acomodou em uma cadeira de madeira à sombra de uma árvore maior, sem explicar muito.

- O que está fazendo? - perguntou Amber, confusa, ao vê-la se sentar.

- Observando você treinar - Mitsue limpou os óculos e pegou um livro que estava guardado no bolso interno de sua manta. - Ou melhor, ainda não está treinando, não é? Vá lá, faça o que deve ser feito. - E começou a ler o livro.

- Está louca? Eu nunca fiz isso na vida! O que devo fazer, caramba? - Amber ficou furiosa, gesticulando para o campo.

- Tsc, que coisa irritante - Mitsue não tirou os olhos do livro. - Não vê o que está à sua frente? Tem ali um boneco de treino, diferentes tipos de armas... Tudo o que você precisa está ali. Escolha uma.

Amber respirou fundo, desistindo de continuar a discussão. Caminhou até a mesa com as armas, pegando algumas para avaliar o peso e o encaixe nas mãos.

- Não se preocupe com a escolha da arma - disse Mitsue, elevando a voz devido à distância. - Muitos alunos demoram quase três anos na Academia para encontrar a arma perfeita para si.
- E você? Quanto tempo demorou para escolher essa espada?

- Primeiro, isso não é uma espada, é uma katana. Uma arma tradicional entre os clãs - Mitsue notou Amber revirar os olhos, mesmo à distância, e não gostou. - E, para responder à sua pergunta: nenhum tempo. Eu nasci e cresci com essa arma ao meu lado, nunca tive dúvidas sobre minha escolha.

Amber murmurou alguns xingamentos baixinho, acreditando que Mitsue não ouviria, mas a diretora escutou claramente.

- Cuidado com a língua - alertou, ainda sem desviar os olhos do livro.

Finalmente, Amber pareceu escolher uma arma. Mitsue observava de longe, mas, ao ver a escolha, franziu o cenho.

- O que pensa que está fazendo?

- Você disse para eu escolher uma arma.

- Sim, uma arma, não uma foice. O que acha que vai fazer com isso? Colher trigo? Aparar o mato?

- Tenho mais experiência com foices do que com qualquer outra coisa nesta mesa.

- Esqueça isso - interrompeu Mitsue, virando a página do livro. - Vá treinar seus socos. Você tem experiência nisso, não tem?

Amber suspirou, visivelmente irritada, e se dirigiu ao boneco de treino. Mitsue observava cada movimento, procurando por sinais que confirmassem suas suspeitas. Quando Amber acertou o primeiro soco, o boneco reagiu com um mecanismo de defesa, girando e atingindo-a no rosto.

- Ai! Ele me acertou na cara! - reclamou Amber, esfregando o rosto.

- É idiota ou o quê? - Mitsue bufou, sem paciência.

- Qual é a sua, Mitsue? - Amber gritou de volta, agora perdendo a compostura. - Hannah tem razão em perguntar por que este treinamento é diferente. Ela sabe que eu sou incapaz, e você, mais do que ninguém, sabe disso!

Algo mais profundo transparecia nas palavras de Amber. Mitsue viu além da raiva óbvia.

- Não pense que não ouvi o que você disse a ela - continuou Amber. - Você acha que eu sou perigosa. Me mantém afastada porque tem medo que eu machuque os outros. Se sou um perigo, por que não acabou comigo quando teve a chance?

Amber desferiu outro soco no boneco, com mais força. Dessa vez, o boneco quebrou. A intensidade do golpe não vinha apenas do físico dela-havia algo mais. Mitsue percebeu de imediato. Ela se levantou, aproximando-se para poder ouvir melhor, mas mesmo assim o som ainda parecia abafado.

- Se acha fraca? - perguntou Mitsue, retoricamente. - Você literalmente destruiu uma muralha de dois séculos e agora quebrou esse boneco.

- Não me acho fraca, me acho desnecessária aqui.

- Não vou mentir, você é desnecessária. - Amber lançou-lhe um olhar fulminante, mas Mitsue continuou impassível. - Quando você chegou, as seletivas do primeiro ano já tinham sido feitas, e a turma já estava formada.

- Então por que tudo isso? Pra quê o esforço?

- Não gosto de admitir, Amber, mas muitas vezes me vejo em você - disse Mitsue com sinceridade. Amber a encarou, desconfiada. - Não é uma tentativa de consolo. Já passei pelo que você passou. Vivi experiências similares e senti uma dor parecida. Não subestime o que eu sei sobre o que você está sentindo.

Mitsue recuperava seus sentidos à medida que Amber se acalmava, o som ao redor voltando ao normal.

- Viu o que fez? - continuou Mitsue, como se não estivesse desconfiada. - Ativou suas habilidades. Você funciona com um gatilho emocional. Talvez, se aprender a controlar isso até o fim do ano, conseguirá controlar seus poderes. Agora continue o treino.

Amber revirou seus olhos e respirou fundo, mas obedeceu. Para as perguntas que Amber havia feito-lhe e que Mitsue apenas as contornou: ela nunca diria as respostas. Para a diretora, isso é algo maior do que ela; um sentimento de empatia. Não mentiu quando disse sobre se ver na garota; era quase como um reflexo às vezes. O que fazia Mitsue insistir nisso tudo era uma obrigação.

Emma fizera isso por ela a troco de nada, pensava, então poderia fazer o mesmo por aquela garota. Mas, ao mínimo, esperava Mitsue que ela não tivesse o mesmo fim trágico de sua mentora.

━━ ━━━━━━━━🌸Fim: capítulo 13🌸━━━━━━━━ ━━

Sempre bom saber!

Tome como nota, leitor, que esse lugar o qual Amber e Mitsue ficaram era o mesmo que Hiro e as garotas estavam antes da explosão. Como não há como Mitsue saber dessa informação, logo vos digo como uma informação à parte.

O Demônio Do Jardim SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora