17. Amber

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Passou-se algum tempo desde o incidente que colocou Amber na situação toda. Nesse meio-tempo, ela se aproximou ainda mais de Leka e Hiro. Não que não pudesse dizer o mesmo das outras colegas, mas aqueles dois estavam sempre por perto quando precisava. Como no momento em que se encontravam: a primeira missão.

— Certo… — disse Leka, confusa, ainda não satisfeita com a resposta que recebera. — Então Mitsue viaja e nós é que pagamos o pato? É isso?

— Não, não é isso — murmurou o professor que os acompanhava. — Essas missões são comuns… a viagem só coincidiu com isso tudo.

A Academia estava um caos sem Mitsue. Parecia que os alunos tinham perdido todo o medo que sentiam por ela e resolveram fazer o que bem entendessem. Principalmente Leka, que, na maior parte daquela semana, mal compareceu às aulas, escondendo-se no banheiro.

Hanael estava no comando no lugar de Mitsue, por isso não podia acompanhá-los na missão. Em seu lugar, ficou Boris, tio de Czae! Sim, o tio dela era o professor do segundo ano. Por causa disso, ele ficou com o outro grupo. A professora responsável pelo grupo de Brenda, Czae e Hannah explicou que parentes não poderiam ficar juntos, pois isso poderia influenciar na nota final. Mais tarde, depois de tudo, Amber mal imaginava o quanto ouviria Hannah reclamar do quanto aquela mulher era durona e rigorosa, em longas queixas na cozinha.

— Então, para onde vamos? — perguntou Amber.

Ela não parecia muito animada com a viagem. De certo modo, ia contra tudo o que Mitsue lhe dissera para evitar. Não expor suas habilidades, não voltar para onde tudo começou e, pior ainda, sair da proteção da Academia. Mas, agora, já era tarde para pensar nisso.

— Parece que Baixa Interior tem muitos problemas com animais de grande porte, não é? — perguntou o professor para Amber, que assentiu, já pensando na trabalheira que teria.

Quanto à aparência de Boris, Amber achava estranho olhar para ele e ver um reflexo de Czae. O professor tinha os mesmos cabelos brancos da sobrinha e o mesmo sorriso largo. Diferente de Czae, ela conseguia ver a cor dos olhos dele, que eram de um azul bem escuro. Ele era alto, talvez mais que Mitsue, e andava com um ar descontraído. Sorte de Amber, visto que a outra parecia mais com uma general do exército imperial. Palavras que ouviria de Hannah num futuro próximo.

— Então, o que devemos fazer? — perguntou Hiro, com um tom de tédio. — Vamos andar e andar até acharmos o bichinho? Eu pensava que as missões envolviam correr atrás de bandidos perigosos ou algo assim.

— Algumas são assim — respondeu o professor. — Mas estamos no Interior, é um continente pequeno, não há tanta violência por aqui.

Amber já tinha pensado assim antes, mas não diria isso em voz alta. Apenas assentiu junto à afirmação do professor. Hiro e Leka pareciam um pouco entediados, mas resignaram-se, pois era a única coisa que poderiam fazer agora.

— Mal posso esperar para o fim do ano! — exclamou Leka, empolgada. — Pense só, a Batalha entre as Academias é o evento que para, não só a Capital, mas toda Laosi. O mundo inteiro nos vendo competir!

— Pensei que só estava querendo voltar por causa da comida — disse Hiro, rindo zombeteiro.

— De certo modo, também — respondeu ela, após dar um tapa não tão leve nas costas dele.

A conversa sobre a Capital fazia Amber pensar em duas coisas. Além de imaginar como era a cidade que só conhecia dos livros, cheia de prédios, comércios e pessoas circulando nas ruas apertadas, também pensava em Mitsue.

Nunca tinha visto a diretora daquele jeito. Parecia tão apreensiva com a viagem. As condições também não eram favoráveis, não é? Que confusão Amber fora lhe meter… Mitsue dissera a ela que não precisava se preocupar, visto que o convite para a viagem viera antes do acontecido.

Amber chegou a perguntar o que poderia ser tão urgente, mas Mitsue não respondeu. No dia seguinte, partiu.

O Demônio Do Jardim SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora