10. Amber

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Amber acordou antes do sino que bateu, anunciando as seis horas da manhã. Na verdade, não se podia nem dizer que dormira. Passara a noite olhando para o teto, depois para a janela e, por fim, para as estrelas. Pouco antes, Mitsue lhe mostrara seu novo quarto, despedindo-se com palavras "amigáveis". Agora, ela estava sozinha em um espaço com paredes metade vermelhas, metade brancas. Percebeu que o vermelho era a cor que representava a Academia de Interior, como se estivesse cercada por um lembrete constante de onde estava e do que aquilo significava.

Lembrou-se das palavras de Mitsue enquanto seguia para o refeitório para o desjejum.
- Vai ser difícil - dissera ela, fixando os olhos nos dela. - Os boatos sobre você já devem ter se espalhado.
E, como Amber logo perceberia, Mitsue não errara em nenhuma de suas palavras. Andando pelo corredor, ela mantinha a cabeça baixa, tentando ignorar os sussurros que vinham das pessoas ao redor. "A garota explosiva", diziam. Segurava as lágrimas. Talvez não tivesse muita coragem ou determinação, mas fraca, Amber definitivamente não era.

- Aqui começa sua nova vida - as palavras de Mitsue ecoavam em sua mente. - Você terá um quarto, roupas novas e comida de graça.

Amber pegou um prato na bandeja vermelha e colocou algo para comer, sem se importar muito com o que era. Mas ao passar pela área das sobremesas, escolheu cuidadosamente os melhores biscoitos de coco que restavam, sentindo um pouco de conforto. Caminhou pelo salão, procurando uma mesa em meio às vozes desconhecidas até que uma voz familiar chamou seu nome.

- Amber! - gritou Leka, acenando freneticamente. - Aqui! Senta com a gente!

- Leka, senta, por favor, tá todo mundo olhando - pediu Hiro, o garoto que também estivera na enfermaria.

Outras garotas na mesa olharam para Amber com desconfiança, mas mantiveram-se em silêncio quando ela se aproximou e sentou-se.

- Vejo que a senhorita Mitsue deixou você ficar - comentou Leka, quebrando o gelo. - Ia apostar com o Hiro o que aconteceria com você. Meu palpite era esse, mas ele falou que era algo sério demais pra gente discutir naquele momento. Besteira, né?

- Quer parabéns pela não-aposta-ganha, Leka? - disse Hiro, à esquerda de Amber.

Na disposição da mesa redonda, Amber tinha Hiro à sua esquerda e uma garota de cabelos pretos e pele negra à sua direita. Ao lado de Hiro, uma ruiva, depois Leka, e, ao lado dela, uma garota de capuz com cabelos brancos escondendo boa parte do rosto.

- E vocês? - Leka olhou para as outras garotas. - Não vão se apresentar? Amber precisa ter mais amigos do que eu e Hiro.

"Amigos?". Amber sentiu o rosto corar. Estava feliz pela consideração, mas envergonhada, pois ainda não se sentia assim em relação a eles.

- Ela nem devia estar aqui - murmurou a garota de cabelos pretos ao lado de Amber. Seu sotaque era estranho aos ouvidos da recém-chegada. - A garota explosiva não deveria sequer pensar em sentar-se conosco.

- Meu nome é Amber - interveio, sentindo o apelido incomodá-la.

A garota de cabelos pretos olhou-a de cima a baixo com seus olhos dourados.

- Sei disso, todos sabem. Mas ninguém liga.

Amber sentiu raiva, uma raiva diferente da que sentia por Mitsue. Era uma sensação que a consumia aos poucos, ao ponto de sentir sua pele ferver sob o uniforme. O tecido, aliás, parecia um tanto largo em seu corpo, uma roupa emprestada do depósito, como Mitsue explicara. Ela prendeu o cabelo em uma longa trança que caía por cima do ombro, tentando deixar o visual mais apresentável.

- Não se sinta mal por Hannah - disse a garota sombria de capuz, sua voz fina e com um leve sotaque. - Ela está assim porque está com medo de você. Shishishi... - riu. - Aliás, meu nome é Czae.

O Demônio Do Jardim SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora