8 - Entre Desejos e Incertezas

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O sol já estava alto quando Meryl Streep terminou suas gravações. A última cena, uma discussão acalorada com Steve Martin em meio ao jardim do castelo, sugara o restante de sua energia. Contudo, o esgotamento físico não era nada comparado à agitação emocional que borbulhava dentro dela. Sentada no banco do carro, ao lado de Steve, a cabeça de Meryl fervilhava de pensamentos e sentimentos conflitantes.

Nunca se imaginara em uma situação como aquela. Racional até a medula, sempre focada no trabalho e acostumada a separar a vida pessoal do profissional, Meryl agora se via envolvida por um desejo tão inesperado quanto avassalador. Não era apenas uma mulher, mas duas — Julianne Moore e Christiane Torloni —, que haviam penetrado suas defesas com ousadia e charme irresistíveis.

Ela tentou prestar atenção nas palavras de Steve, que dirigia enquanto falava sobre a gravação e fazia comentários irreverentes sobre seus personagens. A cada curva, ele gesticulava animadamente, mas Meryl apenas assentia com um sorriso forçado. Seus pensamentos estavam muito longe dali, girando em torno das duas mulheres que, de maneira desconcertante, tinham despertado nela algo que nunca havia sentido antes.

Julianne. Tão provocativa e sedutora, uma presença felina que irradiava perigo e fascínio. E Christiane, com sua beleza madura e confiança arrebatadora, exalava uma sensualidade natural que tornava impossível não se render a ela. As duas haviam jogado suas cartas mais cedo, e Meryl sabia que estava em suas mãos decidir como aquilo avançaria. A ideia de voltar para o chalé e estar novamente na presença delas fazia seu coração disparar.

— Então, nos vemos amanhã, certo? — perguntou Steve, estacionando o carro em frente ao chalé onde Meryl estava hospedada com as duas atrizes.

— Claro, amanhã cedo. — Ela forçou um sorriso, colocando a mão na maçaneta. — Desculpa meu querido, acho que não fui uma boa companhia, mas é que estou exausta, definitivamente. Não contava com essa alteração da Amora em minha escala de gravação. Preciso descansar, aliás, nós dois precisamos.

— Não há de que se desculpar Meryl. Sua exaustão está estampada em seus olhos — Disse carinhoso. — Descanse e logo estará renovada.

A desculpa não era completamente falsa. O dia fora longo, e Meryl realmente precisava de repouso, mas o motivo pelo qual se despediu tão apressadamente era outro. A urgência em rever Julianne e Christiane a consumia por dentro, como uma chama crescente.

Assim que fechou a porta do chalé atrás de si, uma onda de perfume suave a envolveu, o cheiro inconfundível das duas mulheres. Era uma mistura de notas florais e amadeiradas, algo entre o sensual e o íntimo, que fez o corpo de Meryl reagir instantaneamente. Ela fechou os olhos por um breve momento, inspirando fundo, como se quisesse capturar e armazenar aquela essência em sua memória.

O chalé estava silencioso, e as luzes estavam baixas, criando uma atmosfera acolhedora. Meryl tirou os sapatos no hall, deixando-os de lado, e caminhou lentamente pelo corredor que levava aos quartos. A madeira sob seus pés rangia levemente a cada passo, mas o silêncio parecia quase cúmplice, como se o ambiente inteiro aguardasse o desenrolar daquela noite.

Quando chegou à porta entreaberta do quarto de Christiane, Meryl parou por um momento, hesitante. Sua mão pousou no batente, e ela espiou para dentro. O que viu fez seu coração saltar no peito.

Julianne e Christiane estavam deitadas juntas, enroscadas sob o edredom grosso que mal cobria seus corpos. A luz suave do abajur iluminava parcialmente a cena, criando sombras delicadas sobre as curvas das duas mulheres. Julianne, com seu cabelo ruivo espalhado como uma chama sobre o travesseiro, tinha um braço e uma perna jogados despreocupadamente sobre a cintura de Christiane, como se pertencessem uma à outra desde sempre.

O peito de Meryl apertou. Julianne, com aquela aparência quase inocente, transmitia uma serenidade provocativa, como se soubesse exatamente o efeito que causava. E Christiane, deitada de lado, mantinha uma expressão tranquila, mas havia algo de inerentemente sensual na maneira como seu corpo se encaixava sob o de Julianne. A cena era de uma intimidade tão profunda e natural que Meryl sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha e ciumes?

Não sabia ao certo se sentia ciúmes, mas sabia que desejava estar ali entre elas.

Ela permaneceu ali, observando-as, incapaz de desviar o olhar. Aquele momento silencioso tinha uma força magnética, como se houvesse algo proibido e ao mesmo tempo irresistível naquela conexão. O perfume delas parecia mais intenso no quarto, misturado ao calor dos corpos adormecidos, e Meryl se pegou sorrindo, embora o sorriso fosse carregado de incredulidade.

Jamais imaginara se sentir assim, e muito menos em relação a duas mulheres. Ela sempre fora tão meticulosa e controlada em seus desejos, mas agora, tudo isso parecia insignificante diante da intensidade daquilo que a aguardava. Ver Julianne e Christiane assim, juntas, a fez desejar estar entre elas, naquele espaço que parecia exalar uma promessa de prazer e aconchego.

Meryl deu um passo à frente, hesitante. Parte dela queria se juntar a elas, deslizar para debaixo do edredom e permitir que o calor das duas a envolvesse. Mas a outra parte, a mais racional, hesitava, temerosa do que aquilo significaria. Contudo, uma coisa era certa: fugir já não era uma opção.

Com um suspiro suave, Meryl recuou, preferindo não interromper o sono delas. No entanto, a inquietação dentro dela não desapareceu. Ela voltou para a sala, serviu-se de uma taça de vinho e sentou-se no sofá, cruzando as pernas enquanto observava a lareira apagada.

A cena das duas adormecidas permanecia viva em sua mente, e a cada gole de vinho, a imagem se tornava mais nítida. Ela se permitiu imaginar, apenas por um momento, como seria estar ali, no meio das duas, sentindo o toque das mãos delas em sua pele.

Era estranho, quase desconfortável, mas também inevitavelmente excitante. E pela primeira vez em muito tempo, Meryl se deu conta de que talvez estivesse pronta para deixar o controle de lado. O desejo que sentia por Christiane e Julianne era inegável, e, mais cedo ou mais tarde, ela sabia que teria que se entregar àquilo.

Com um último gole de vinho, ela se levantou e apagou as luzes. Enquanto subia para o quarto, uma decisão se formava lentamente dentro dela. Não seria naquela noite que resolveria tudo, mas, quando a manhã chegasse, ela sabia que não se esconderia mais.

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