O Legado do Desejo

5 - Entre Orquídeas e Corações Partidos

O sol começava a baixar sobre Valência, lançando uma luz dourada nas fachadas esculpidas do Palácio de Marqués de Dos Aguas, um cenário perfeito para as próximas gravações. A imponência do palácio, com seus arcos ornamentados e fontes de mármore, sugeria mistério e opulência — um lugar onde romance, traição e segredos poderiam se entrelaçar com naturalidade.

Amora Rivera caminhava pelo set, atenta a cada detalhe. Sem o menor vestígio de cansaço, ela verificava o posicionamento das câmeras, ajustava a luz e coordenava a equipe com sua precisão característica. Vestia uma camisa branca de corte impecável e uma calça de alfaiataria, realçando a elegância que lhe era natural.

— Vamos nos concentrar na sutileza — disse Amora, em um tom firme e encorajador. — O beijo entre Agnes e Tereza precisa ser mais que um gesto físico. É uma confissão silenciosa, um acordo não verbal entre duas mulheres que sabem o quanto estão arriscando.

Ela virou-se para Meryl, Christiane e Julianne, as protagonistas da cena.

— E Julianne, Carmen está ali não só para roubar uma joia, mas para roubar corações. Ela começa a questionar o que é mais valioso: a orquídea azul ou essas duas mulheres. Você está confusa, dividida entre desejo e dever. E queremos ver essa dúvida nos seus olhos.

As três atrizes trocaram olhares cúmplices, ajustando mentalmente as nuances que precisariam transmitir. Não era apenas um filme de ação — era um jogo de emoções, e cada detalhe contaria.

As câmeras começaram a rodar. No centro da cena, Agnes (Meryl) e Tereza (Christiane) estavam lado a lado, rodeadas por antiguidades e peças de arte que pareciam testemunhas silenciosas daquele momento íntimo.

Agnes se virou para Tereza, seus olhos refletindo uma tensão contida. Ela tocou delicadamente o rosto da outra mulher, como se tentasse memorizar cada contorno, cada curva familiar, mas sempre inacessível. A proximidade entre elas não era nova, mas agora havia um entendimento implícito de que não poderiam mais ignorar o que sentiam.

Então veio o beijo. Primeiro lento, hesitante, como se pedissem permissão uma à outra. Mas logo, os lábios se encontraram com maior firmeza, entregando-se ao desejo há muito reprimido. Era um beijo silencioso, mas que dizia tudo: um risco, um pacto, uma promessa de algo impossível de controlar.

Enquanto isso, Carmen (Julianne) observava tudo à distância, escondida entre as sombras do salão. Seu objetivo era claro — roubar o lendário colar com a orquídea azul. Mas agora, seus olhos estavam presos em algo muito mais intrigante: o beijo entre aquelas duas mulheres.

Carmen não sabia se estava mais fascinada pelo colar ou pelas duas magnatas que agora pareciam tão vulneráveis e intensamente conectadas. Pela primeira vez em muito tempo, a ladra se viu dividida. Agnes e Tereza eram, a princípio, apenas alvos. Agora, eram objeções ao seu próprio desejo.

Julianne interpretou a cena com perfeição. Seus olhos, levemente marejados, refletiam a confusão de Carmen: o desejo por elas e a obrigação de cumprir seu plano. A câmera capturou cada nuance do conflito interno, como se o silêncio do salão amplificasse suas emoções.

Na sequência, Carmen precisava escapar do palácio. A ladra se moveu com destreza, desviando das câmeras de segurança e se esgueirando pelos corredores labirínticos. Quando finalmente alcançou seu Aston Martin, um clássico de pintura reluzente, ela ligou o motor com um rugido e partiu em alta velocidade pelas ruas estreitas de Valência.

A câmera seguiu o carro pelas curvas sinuosas, enquanto Carmen dirigia como se tentasse escapar não apenas dos guardas, mas também dos sentimentos que a invadiam. As luzes da cidade se refletiam nos vidros do carro, transformando a fuga em uma metáfora de sua confusão interna.

Dentro do veiculo, o rosto de Carmen estava tenso. A câmera focou no retrovisor, onde o reflexo do beijo entre Agnes e Tereza parecia ainda assombrá-la. Julianne expressava a mistura de desejo, frustração e dúvida com uma precisão sutil — Carmen queria mais do que a joia; queria as duas mulheres que haviam bagunçado seus planos e seu coração.

Enquanto Carmen desaparecia nas ruas da cidade, o foco voltou para Agnes e Tereza no interior do palácio. Deitadas no divã, ainda envolvidas em uma aura de intimidade, suas mãos se tocavam como se quisessem prolongar o momento.

— Sabemos que precisamos ter cuidado para não sermos vistas. Ainda não é o momento de Carlo e Martin saberem sobre nós. — murmurou Agnes, com um sorriso triste.

Tereza a observou, seus dedos deslizando pelos cabelos prateados da outra.

— Então vamos aproveitar enquanto podemos, — sussurrou, o brilho apaixonado nos olhos.

A luz suave do final de tarde iluminava seus rostos, conferindo ao momento um ar etéreo. Elas pareciam duas almas que, finalmente, haviam encontrado paz uma nos braços da outra — pelo menos por aquele instante.

— Corta! — gritou Amora Rivera, satisfeita com o resultado. Ela sorriu largamente enquanto os técnicos aplaudiam, comemorando a complexidade e a beleza das cenas que haviam capturado.

Meryl e Christiane se afastaram lentamente, ainda mergulhadas na intensidade da interpretação. Enquanto ajustavam seus figurinos e voltavam à realidade, Julianne se aproximou, lançando um olhar divertido para as duas.

— Acho que Carmen está começando a se meter em problemas que nem ela pode resolver, — provocou, sorrindo.

Christiane ergueu uma sobrancelha, brincalhona:

— E quem disse que não é exatamente o que queremos?

As três riram, compartilhando uma cumplicidade que ia além dos personagens que interpretavam. Entre olhares e gestos sutis, havia uma promessa não declarada de que as linhas entre ficção e realidade não seriam respeitadas por muito tempo.

Enquanto se preparavam para a próxima sequência, sabiam que o verdadeiro desafio não seria apenas dar vida a Agnes, Tereza e Carmen, mas lidar com os sentimentos que haviam despertado uma nas outras. E como Carmen, nenhuma delas estava pronta para desistir sem lutar.