O Legado do Desejo

6 - A Arte da Provocação

O horário das gravações foi alterado na última hora. Enquanto Julianne Moore e Christiane Torloni haviam sido dispensadas do set naquele dia, Meryl Streep continuaria com duas cenas complexas, ambas em plano-sequência, que exigiam a luz exata do amanhecer. A equipe já se movimentava silenciosamente pelos corredores do castelo, ajustando câmeras e iluminação nos jardins. A cena envolvia um confronto direto entre Agnes, personagem de Meryl, e Carlo, interpretado por Steve Martin, um homem obcecado pelo status e pelas aparências. O casamento dos dois havia se transformado em uma prisão emocional, e Agnes finalmente queria a separação — algo que Carlo se recusava a aceitar.

O camarim de Meryl estava silencioso, exceto pelo leve som suave da música que tocava em seu celular e o farfalhar do tecido da lingerie creme que ela vestia. O vestido verde-musgo, escolhido pelo figurinista para a cena, estava pendurado em um cabide próximo, impecavelmente passado. A luz do camarim era suave, iluminando o espelho à sua frente enquanto ela ajustava as últimas mechas soltas de seu cabelo e conferia a maquiagem, garantindo que tudo estivesse perfeito. Seu personagem precisava parecer ao mesmo tempo cansado e provocante — uma mulher elegante que sabia que, apesar do sofrimento, ainda detinha o controle sobre a própria vida.

Meryl ergueu o olhar, conferindo o reflexo uma última vez, mas algo a fez parar. No canto do espelho, a figura familiar de Julianne Moore surgiu na porta do camarim, observando-a com um sorriso vagaroso e calculado.

— Não sabia que você ficava tão linda assim, tão... à vontade. — Julianne comentou, sua voz baixa, quase um ronronar.

Meryl tentou manter o controle, mas o arrepio que subiu por sua pele foi inevitável. Julianne sempre foi envolvente, mas naquela noite havia algo mais. Uma provocação que não estava disfarçada sob palavras ou olhares furtivos.

Julianne se aproximou sem pressa, seus passos suaves ecoando como um aviso. O perfume de jasmim a precedia, trazendo consigo uma familiaridade que fez o coração de Meryl bater um pouco mais rápido. O olhar da ruiva percorreu o corpo dela, examinando cada curva da pele leitosa exposta pela lingerie. O sorriso em seus lábios denunciava que ela sabia exatamente o efeito que estava causando.

Antes que Meryl pudesse reagir, sentiu os dedos de Julianne deslizarem lentamente pela sua cintura nua, traçando um caminho provocante. O toque era suave, quase caricioso, mas deixou um rastro de fogo por onde passou. Meryl prendeu a respiração por um instante, seus sentidos em alerta, enquanto Julianne se inclinava para mais perto.

O beijo que veio em seguida não foi apressado nem casto. Foi lento e deliberado, um toque quente nos recantos sensíveis do pescoço de Meryl. A atriz sentiu o calor dos lábios de Julianne e, quando a respiração suave soprou em sua orelha, ouviu o sussurro:

— Espero que não demore para estar com a gente.

Julianne se afastou com a mesma calma, os olhos brilhando com uma satisfação silenciosa, como se tivesse acabado de conquistar algo que desejava há tempos. Sem dizer mais nada, abriu a porta do camarim e desapareceu pelo corredor, deixando para trás apenas seu perfume e a sensação latente de um desejo não saciado.

Meryl ficou parada por alguns segundos, encarando seu reflexo no espelho. Sentia o pescoço formigar onde os lábios de Julianne haviam tocado, e seus pensamentos estavam bagunçados. Era raro para ela se sentir tão fora de controle, mas ali estava ela, tentando desesperadamente recuperar o foco para a cena que viria a seguir. Com um suspiro curto, vestiu o longo vestido verde-musgo, ajeitando o decote generoso que acentuava sua figura. Prendeu os cabelos em um coque elegante e se preparou para encarar mais um dia no set.

Quando saiu do camarim e começou a caminhar em direção ao jardim, ainda tentando apagar as memórias do encontro recente, ouviu passos vindos da outra extremidade do corredor. Ela ergueu os olhos e viu Torloni se aproximando. A brasileira, como sempre, estava impecável, com a elegância natural de quem domina cada espaço em que pisa.

— Você está deslumbrante, sabia? Esse verde é uma perdição em você. — comentou Christiane, seu olhar brilhando com algo além de mera admiração.

Meryl tentou manter a compostura, mas o comentário fez com que ela se sentisse subitamente exposta. Christiane diminuiu a distância entre elas, parando tão próxima que Meryl pôde sentir a fragrância floral suave de seu perfume.

Antes que pudesse processar o que estava acontecendo, Christiane segurou o rosto de Meryl com as duas mãos, numa carícia suave e a puxou para um selinho breve, mas cheio de intenções. O toque dos lábios foi gentil, mas firme o suficiente para deixá-la atônita por um momento. Christiane recuou com um sorriso malicioso, a expressão de quem sabia exatamente o efeito que causava.

— Vamos te esperar no chalé. Não demore.

Com uma piscadela e o som característico de seus saltos no piso de pedra, Christiane se afastou pelo corredor, seguindo na mesma direção que Julianne havia tomado pouco antes.

Meryl permaneceu parada por alguns instantes, a respiração ligeiramente alterada. Tocou distraidamente os próprios lábios, sentindo ainda o calor do beijo de Christiane. Sua mente tentava organizar os pensamentos, mas uma coisa era clara: manter a concentração para a cena daquela manhã seria um desafio maior do que imaginava.

Endireitando os ombros, ela respirou fundo e seguiu em direção ao jardim. A luz do amanhecer já começava a tingir o céu, e a equipe estava pronta para gravar. No centro do gramado, Steve a aguardava, o roteiro da cena fresco em sua mente. O diretor fez um sinal para que todos tomassem suas posições.

— Prontos? — perguntou Amora, lançando um olhar atento para Meryl e Steve.

Meryl assentiu, afundando completamente na pele de Agnes. Seu personagem não poderia se deixar distrair, e assim também não poderia ela. Carlo precisava ser enfrentado, e o futuro de Agnes estava em jogo.

Mas, enquanto as falas iam sendo trocadas e a câmera capturava cada nuance da performance, uma pequena parte de Meryl não conseguia evitar o pensamento que lhe rondava desde o momento em que deixara o camarim: o que exatamente a aguardava no chalé ao final daquela manhã?