13 - Um Despertar Fora do Scrip

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O sol já começava a iluminar o quarto quando as três despertaram, tarde demais. O relógio digital ao lado da cama marcava 6:45. Elas tinham menos de uma hora para se arrumar e chegar ao set, e o set ficava longe. Mas naquele momento, de olhos entreabertos e ainda envoltas nas cobertas desarrumadas, Christiane, Julianne e Meryl estavam em um estado de torpor agradável. Era uma manhã inédita para três atrizes que tinham como marca registrada o profissionalismo e a pontualidade. O dia já havia começado com um roteiro imprevisto.

Na noite anterior, algo raro acontecera. Depois de um jantar que começou com risadas e vinhos italianos, a conversa evoluiu para algo mais íntimo, com palavras não ditas sendo expressas através de toques leves e olhares profundos. Elas permitiram que o desejo, até então contido, se tornasse explícito. Corpos entrelaçados, risos abafados e suspiros compartilhados. A noite fora intensa, um misto de paixão e cumplicidade, e agora estavam experimentando a ressaca agridoce de uma manhã repleta de urgências.

— Meu Deus, que horas são? — Christiane murmurou, sua voz rouca ainda marcada pelo calor da noite. Ela piscou, tentando focar no relógio, e então um sorriso debochado apareceu em seus lábios. "Estamos muito ferradas."

Julianne ergueu-se de onde estava, seu cabelo ruivo bagunçado caindo pelos ombros. Ela se espreguiçou preguiçosamente antes de compreender o que Christiane havia dito. Ela abriu os olhos de repente, percebendo o horário.

— Mas o que... Oh, droga, estamos realmente atrasadas!

Meryl estava deitada de costas, seu braço repousando sobre os olhos, como se estivesse tentando bloquear a luz e prolongar o sono. Ela suspirou fundo antes de rir baixinho.

— Isso é inédito. A primeira vez que as três musas da responsabilidade perdem a hora. Como vamos explicar isso para Amora?

A verdade era que Amora Rivera, a diretora, as esperava com expectativas elevadas. O cronograma do dia incluía gravações importantes, e ela planejava filmar mais cenas do que o previsto. Era um dia desafiador e Amora estava pronta para pressionar, extrair o máximo de cada uma delas. Mas, ironicamente, as três atrizes não estavam minimamente prontas.

Ainda assim, mesmo na correria, havia uma leveza incomum pairando no ar. As três se moviam com uma intimidade recém-descoberta, trocando olhares cúmplices e risadas abafadas enquanto tentavam se vestir rapidamente. Era como se compartilhassem um segredo que ninguém mais poderia entender.

Julianne tropeçou ao sair da cama, seus pés enroscando-se nos lençóis.

— Ok, talvez eu precise de mais um café do que o normal hoje.

Christiane, já de pé, vestindo rapidamente uma camisa, riu alto.

— Ou mais um par de pernas, porque com esse salto você não vai durar uma hora meu bem.

Meryl as observava, sua expressão uma mistura de cansaço e diversão. Sabia que elas estavam em apuros, mas também sentia a liberdade de rir do momento. Não era algo que acontecia frequentemente, esse tipo de descompasso em suas rotinas meticulosas. Quando finalmente entraram no banheiro, quase trombando uma na outra, o clima era de pressa, mas sem tensão.

— Acho que nunca tomei uma ducha tão rápida — Meryl comentou enquanto a água quente escorria sobre seu corpo.

— Bem, há uma primeira vez para tudo, certo? — respondeu Christiane, seu sorriso irônico refletido no espelho embaçado.

Quando saíram do chalé, ainda se ajeitando e trocando olhares cúmplices, sabiam que Amora estaria furiosa. Elas se atrasaram juntas, uma tríade que dividira uma noite de prazer e acordara para enfrentar a realidade. A viagem para o set foi marcada por uma ansiedade velada, mas também pela certeza de que tinham vivido algo único.

Amora as aguardava, claramente impaciente, batendo os pés com força no chão. Sua expressão se iluminou com um misto de alívio e irritação ao vê-las chegando.

— Onde vocês estavam? O que diabos aconteceu? — ela exclamou, já gesticulando para a equipe de filmagem, ansiosa para começar as cenas.

As três trocavam olhares, tentando manter uma postura séria enquanto Meryl tomava a frente.

— Tivemos... hum... um contratempo. Uma espécie de... troca de ideias prolongada — Julianne improvisou, contendo um sorriso travesso.

Amora ergueu as sobrancelhas, cruzando os braços.

— Vocês estão se divertindo, é isso? — havia uma pitada de humor em sua voz, mas também uma urgência.

— Um pouco — Christiane murmurou, piscando para Julianne, que mordeu o lábio para segurar a risada.

Elas sabiam que precisariam compensar o atraso com trabalho duro e dedicação, e isso não seria problema. As três eram comprometidas e, de certo modo, estavam mais unidas do que nunca. Apesar do pequeno caos que haviam criado, sentiam-se bem, leves, quase rejuvenescidas pela loucura daquela manhã fora do roteiro.

— Certo, não importa — Amora suspirou, balançando a cabeça. — Vamos direto para a cena três! E por favor, concentrem-se! Eu espero nada menos que a perfeição, mesmo depois de uma noite longa... ou o que quer que tenha acontecido — completou, sua voz repleta de implicância.

À medida que se preparavam para as cenas, as três atrizes não podiam deixar de trocar olhares divertidos, como adolescentes que compartilham um segredo proibido. Aquela manhã de risos e pressa era uma memória só delas — algo que o set de gravações jamais saberia interpretar.

E, por mais incomum que tivesse sido aquele despertar, nenhuma delas trocaria o que viveram por uma noite de sono tranquila e um relógio pontual.

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