Meryl mal conseguia pensar claramente enquanto as luzes se apagavam e a equipe começava a aplaudir. Ela permanecia ali, parada, sem saber como reagir, sentindo seu coração ainda disparado. A intensidade do que acabara de acontecer reverberava em seu corpo, e uma confusão densa envolvia seus pensamentos. Por anos, a atriz se dedicara a suas cenas de corpo e alma, sempre mantendo a linha tênue entre ficção e realidade. Mas o que acontecera agora... o que sentira ao contracenar com Christiane foi inesperado, um ponto fora de qualquer script que já tivesse experimentado.
Durante as gravações, Tereza, a personagem de Christiane, a tocara de um jeito que ninguém mais havia feito em cena. Não foi apenas o toque físico, mas a forma como os dedos de Christiane pareciam decifrar sua pele, despertando nela algo profundo e visceral. E, quando a intensidade da cena chegou ao seu auge, o prazer que invadiu seu corpo foi tão real, tão incontrolável, que um arrepio a percorreu da cabeça aos pés.
Meryl prendeu a respiração, sentindo o peso da realidade cair sobre si. Como pôde deixar isso acontecer diante de tantas pessoas? Sentia o rosto queimar de vergonha, o corpo ainda trêmulo pelo que acabara de vivenciar. Nenhum outro ator, em anos de carreira, a afetara dessa forma. Aquilo a deixava desorientada. Nunca se permitira perder o controle assim em cena, mas ali, na frente de todos, com o olhar firme de Christiane sobre ela, tudo se desfez.
Quando Amora começou a aplaudir, e os outros se juntaram, celebrando o desempenho das duas, Meryl sentiu um misto de pânico e vergonha tomar conta. Sorriu de forma mecânica, tentando esconder o quanto estava abalada, mas seus olhos buscavam uma rota de fuga. E então viu o olhar de Julianne, fúria misturada a uma inquietação reprimida, o que a deixou ainda mais exposta. De alguma forma, Julianne sabia que algo naquela cena havia ultrapassado os limites cênicos. Ao mesmo tempo, Christiane parecia divertida, como se estivesse imersa em uma satisfação triunfante, o que apenas aumentava o desconforto de Meryl.
Ela mal conseguia encarar Amora, que se mostrava extasiada com o resultado. O aplauso parecia ecoar como um julgamento surdo em seus ouvidos, e tudo o que Meryl desejava era desaparecer dali. Não podia suportar a ideia de discutir o que acabara de acontecer ou lidar com as reações ao seu redor. Sentiu um alívio quase desesperado quando alguém da produção anunciou que estavam dispensadas por hoje. Aproveitando a brecha, ela agarrou suas coisas e se apressou em sair.
— Meryl! — Christiane chamou atrás dela, a voz soando surpresa, mas Meryl não parou.
Ignorou as perguntas, as palavras que não foram ditas, e seguiu decidida para o estacionamento, onde pediu um carro pelo aplicativo sem olhar para trás. Sua mente estava em turbilhão, e ela sentia um nó apertado de vergonha e confusão. Era quase insuportável encarar Christiane ou Amora naquele momento, ou mesmo se deparar novamente com o olhar de Julianne.
Assim que entrou no carro, fechou a porta com força, como se tentasse deixar para trás a sensação de mãos ainda queimando em sua pele. Os olhos ardiam com a pressão das lágrimas não derramadas, e ela se recusava a pensar mais sobre o que tudo aquilo significava. Sentiu o veículo começar a se mover, levando-a para longe dali, e só então, com o rosto voltado para a janela, Meryl permitiu que uma lágrima teimosa escapasse.
Não era apenas o erro de ter se deixado levar; era o impacto de perceber que fora Christiane Torloni quem a fizera ultrapassar uma linha tão fundamental. Uma linha que, até então, jamais havia sido sequer desafiada.
Ao entrar no chalé, Meryl se sentia sufocada pela onda de emoções que não conseguia controlar. Seu corpo ainda pulsava com a lembrança recente, e seu coração batia como se estivesse tentando escapar de dentro do peito. Largou sua bolsa na entrada e foi direto para o banheiro, sem pensar em mais nada além da necessidade de apagar aquela sensação persistente de sua pele. Abriu o chuveiro e deixou a água fria cair sobre si, na tentativa desesperada de trazer clareza aos seus pensamentos.
Mas, debaixo da ducha, enquanto a água gelada percorria cada centímetro de seu corpo, Meryl não conseguia fugir do turbilhão que a assombrava. Sentia-se como se estivesse presa em uma espiral, um redemoinho de dúvidas e autocrítica. As cenas repetiam-se em sua mente como um filme fora de controle, cada toque, cada suspiro, cada olhar de Christiane. E então, a pergunta inevitável: "Como eu deixei isso acontecer?"
A água fria não conseguia esfriar o calor que ainda queimava em seu interior. A cena se desenrolava como se estivesse acontecendo novamente, e Meryl sentia o corpo reagir ao toque que não deveria ter sido tão real. Sua mente se dividia entre o que fora atuação e o que se transformou em desejo genuíno. Por mais que tentasse, não conseguia separar completamente a personagem de si mesma, não naquele momento.
— Como eu pude ser tão descuidada? — sussurrou para si mesma, pressionando a testa contra o azulejo frio.
O frio ajudava a acalmar sua respiração, mas não afastava a angústia. Ao longo dos anos, Meryl se orgulhara de sua capacidade de mergulhar em papéis e sair deles sem carregar nada consigo. Sempre separara sua vida pessoal das histórias que criava na tela. Nunca antes havia experimentado uma linha tão tênue entre o personagem e a realidade, e isso a deixava profundamente perturbada.
Cada toque de Christiane agora parecia estar gravado em sua pele, e a memória daqueles olhos intensos fazia seu coração disparar novamente. O pensamento de que tudo aquilo estava registrado em uma cena, à vista de todos, a torturava. Sentia-se exposta de uma forma que nunca imaginara ser possível.
— Eu deveria ter parado... — murmurou, sua voz entrecortada pela mistura de raiva e desespero.
Mas, no fundo, sabia que não havia como parar. Não naquele momento. Algo entre ela e Christiane havia transcendido o roteiro, algo que ambas sentiram e que nenhuma delas conseguiu controlar. Talvez fosse isso que mais a assustava: a perda do controle, a sensação de ser arrastada por um desejo inesperado e avassalador.
Meryl fechou os olhos, tentando se acalmar. Não sabia como enfrentaria Christiane novamente, ou Julianne, que claramente percebera algo diferente naquela cena. Tampouco sabia como esconderia o que realmente acontecera de Amora, que aplaudia acreditando ter capturado um momento de atuação magistral.
A água fria escorria pelo seu rosto como se pudesse levar embora sua vergonha, mas não era suficiente. As perguntas permaneciam, cortantes: Como aquilo fora acontecer? Por que Christiane a afetara tanto? E, o mais angustiante: o que ela faria a partir de agora?
A mente de Meryl estava um caos, e enquanto a água caía incessantemente sobre ela, a única coisa clara era o peso de sua própria confusão e o medo de encarar a verdade do que sentira.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Legado do Desejo
FanficTrês mulheres consagradas no cinema se encontram durante as gravações de um filme europeu, em um luxuoso castelo afastado. Meryl Streep, sempre racional e controlada, se vê envolvida em uma teia inesperada de desejo e sedução, ao perceber que há mui...