O sol da tarde já se infiltrava pelas frestas das cortinas do chalé quando Meryl se espreguiçou lentamente na cama, sentindo o corpo ainda pesado de sono. O aroma distante de café e o som de passos leves ecoando pelo espaço indicavam que Christiane já estava de pé.
Quando Meryl se levantou, vestida apenas com um robe macio, encontrou Christiane na cozinha, abrindo armários à procura de algo para comer. A atriz brasileira lançou um sorriso divertido ao vê-la entrar.
— Dormimos como pedras, hein? — comentou Christiane, segurando um pacote de biscoitos e um pote de geleia. — Espero que a Amora não descubra que três das estrelas do filme estão mais para morcegos do que para atrizes de ação.
Meryl riu enquanto pegava uma caneca de café.
- De fato a Amora é mordaz, mas o que os olhos não vêem o coração não sente. Não é assim que vocês costumam dizer lá no Brasil?
— Depois da noite de ontem, acho que merecemos um dia de hibernação. - Completou.
Elas estavam confortáveis na leveza daquela convivência íntima, como se fossem velhas amigas que não precisavam se preocupar com máscaras ou aparências. Dividiam risadas e olhares cheios de histórias não ditas, aproveitando a tranquilidade antes das gravações noturnas.
Poucos minutos depois, Julianne surgiu na entrada da sala, arrastando os pés e com um coque bagunçado prendendo seus cabelos ruivos. Estava envolta em um roupão creme e trazia uma expressão de quem claramente não estava em sua melhor forma. Ela apertou as têmporas com as pontas dos dedos e soltou um gemido baixo.
— Por que eu fui beber ontem?Quis acompanhar vocês duas e olha no que deu. — murmurou com a voz ainda rouca de sono, o tom levemente arrependido. — Minha cabeça parece que vai explodir.
Christiane e Meryl trocaram um olhar cúmplice, e em questão de segundos decidiram o que fazer. Sem perder tempo, ambas se aproximaram de Julianne como se fosse a tarefa mais importante do mundo.
— Vem cá, querida, senta aqui, — disse Meryl, pegando-a pelo braço com delicadeza e guiando-a até o sofá.
— Realmente você é um desastre bêbada, sabia? — provocou Christiane, mas seu sorriso denunciava o carinho por trás da brincadeira.
Julianne revirou os olhos, sem forças para rebater. Christiane correu para buscar uma garrafa de água e um comprimido, enquanto Meryl se acomodava ao lado de Julianne, envolvendo-a em um abraço quente e tranquilizador.
Christiane voltou rapidamente, estendendo o copo d'água e o comprimido com um ar quase maternal. Julianne aceitou com um sorriso fraco, agradecendo em silêncio.
— E nada de reclamar, ouviu? — disse Christiane, divertida. — Você está sendo mimada hoje, então aproveite.
Meryl, já em seu modo cuidadoso, começou a massagear gentilmente as têmporas de Julianne com as pontas dos dedos.
— Isso vai ajudar com a dor, — murmurou, enquanto os dedos deslizavam com leveza e precisão.
Julianne fechou os olhos, deixando escapar um suspiro de alívio.
— Vocês são terríveis... mas não vou reclamar.
Com Julianne bem acomodada entre elas, Christiane aproveitou para pegar um cobertor e jogá-lo sobre as três, aconchegando-as ainda mais. Era um momento de conforto silencioso, onde não havia necessidade de palavras grandiosas. Estavam ali, cuidando uma da outra, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Enquanto Julianne se recuperava, seus iPads apitavam com notificações: Amora Rivera, a diretora, havia enviado o roteiro das próximas cenas. As três pegaram seus dispositivos e começaram a ler, ainda relaxadas no sofá, dividindo frases e impressões em voz alta.
— Olha só essa fala da Carmen, — comentou Julianne, a voz ainda baixa mas já mais animada. — 'Apenas os tolos acreditam que o mundo pode ser comprado. Eu o roubo porque ele já é meu por direito.' É profunda.
— Carmen é realmente audaciosa. Profunda e cheia de subtexto, — concordou Meryl, sorrindo. — Esse filme vai ser mais do que ação pura.
Christiane apoiou a cabeça no ombro de Julianne, já totalmente à vontade.
— E nós? Acha que já estamos no clima para gravar à noite?
Julianne, agora mais revigorada, deu uma risada suave.
— Se eu sobreviver a essa ressaca, prometo que dou o meu melhor.
A tarde seguiu tranquila, cheia de pequenos momentos de cumplicidade. Era como se cada toque, cada olhar e cada sorriso silencioso fosse uma ponte para algo maior. No fundo, todas sabiam que o que sentiam não estava limitado ao roteiro ou às câmeras.
E quando a noite chegasse e os holofotes se acendessem, elas estariam prontas — não apenas para os papéis que interpretavam, mas para aquilo que surgia entre elas, mais poderoso e imprevisível do que qualquer cena de cinema.
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O Legado do Desejo
أدب الهواةTrês mulheres consagradas no cinema se encontram durante as gravações de um filme europeu, em um luxuoso castelo afastado. Meryl Streep, sempre racional e controlada, se vê envolvida em uma teia inesperada de desejo e sedução, ao perceber que há mui...