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Eu saí de casa no momento certo, se tivesse esperado mais, ela já teria ido. Bia havia acabado de sair de casa e estava trancando o portão. Quando entro em seu campo de visão, ela solta um sorriso tímido enquanto guarda as chaves na mochila. Parecia surpresa, talvez pelo fato de eu estar ali. Retribuo o sorriso, sentindo o ar frio da manhã envolvendo-nos e caminho até ela.


— Bom dia. — Digo parando em sua frente, notando como seus olhos castanhos parecem se iluminar levemente com a luz suave do amanhecer.

— Bom dia, você sempre sai de casa tão cedo assim? — Ela pergunta, sua voz leve mas curiosa. Eu geralmente sou um dos últimos a chegar na sala de aula, então sua surpresa era justificável.

— Não. — Começo a dizer enquanto caminhamos em direção à escola, ouvindo o som dos nossos passos se misturando ao cantar distante dos pássaros. — Mas eu queria te ver. — Olho para a garota ao meu lado enquanto andamos. Abaixo um pouco a cabeça para consegui-la enxergar bem, ela é bem mais baixa do que eu. Mas gosto disso. Há algo reconfortante na sua presença, como se o mundo desacelerasse quando estamos juntos. Com ela é sempre assim.

Ela parece não escutar minhas palavras de imediato. Seus dedos inquietos começam a mexer no cabelo, num gesto que percebo ser um reflexo do nervosismo. O penteado era sutil e simples, com duas mechas da parte da frente presas atrás e a franja torta solta sobre a testa. Sinto que foi ela mesma quem cortou o cabelo, provavelmente sozinha. Isso só a faz parecer ainda mais... genuína.

— Eu tô bem mais nervosa do que o normal, eu não costumava ficar assim nos outros jogos. — Ela diz de uma forma rápida, como se estivesse tentando se livrar da ansiedade através das palavras. Dá para sentir a tensão em sua voz.

— Você está em um país novo, novas pessoas, novas oportunidades e novas técnicas. — Paro de andar e ela faz o mesmo, agora me olhando, seus olhos carregando um misto de incerteza e expectativa. — Mas tenho certeza de que você se sairá bem.

— Eu espero... — Ela murmura, sua expressão preocupada, mas agora há uma calma sutil pairando entre nós. — Obrigada. — Ela solta um sorriso, um sorriso sincero. Retribuo o mesmo.

Continuamos caminhando em silêncio. O vento sopra suavemente entre as árvores, e as folhas caem ao nosso redor, mas o que sinto é apenas a presença dela. Quando estou nervoso, nada é melhor do que o silêncio, e sinto que para ela também é assim. O silêncio por vezes, é mais reconfortante do que mil palavras.

— Então... — Ela começa a falar quebrando o silêncio entre nós, sua voz carregada de um nervosismo que reconheço. Seus braços balançam de um lado para o outro, como se estivesse buscando coragem em meio ao movimento, feito uma criança. Seus olhos passeiam pelas coisas ao nosso redor, casas, árvores, o céu azul pálido que começa a se iluminar com o nascer do sol, os pássaros que voam despreocupados. Tudo. Menos em mim. — Quando vai me pedir em namoro?

Meus pés parecem grudar no chão. O tempo ao nosso redor desacelera, e por um momento, eu me pergunto se ouvi direito. As batidas do meu coração ficam mais fortes, não de nervosismo, mas de antecipação. Eu pensei sobre isso a noite toda, e mal consegui dormir, o que eu falaria para ela? Como faria o pedido? Chamaria ela para sair? Para onde iríamos, o que faríamos... Mas agora, olhando em seus olhos eu percebo, não existe um momento perfeito. Nós que o fazemos ser perfeito.

Viro-me para ela, ainda absorvendo o que acabou de acontecer, com um leve sorriso no rosto. Meu corpo se inclina em sua direção, até ficar na sua altura. Sua expressão expectante, mas ao mesmo tempo suave.

O Olhar Do Oceano Sobre Mim -Kageyama TobioOnde histórias criam vida. Descubra agora