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Quando chegamos a enfermaria, ele me coloca na maca com cuidado e explica a situação para a enfermeira que escutava com atenção. Meus olhos ainda então vermelhos e marejados pelas lágrimas, não consigo focar em nada, apenas em um ponto fixo na parede, não havia nada de mais lá, só um buraco. Tudo parecia um borrão, minha visão fica um pouco turva enquanto a conversa entre Tobio e a enfermeira se desenrolava. Mas eu simplesmente não escutava nada, estava presa no vazio de minha mente, e o eco de minhas próprias frustrações.

Mas então, saio do meu próprio mundinho quando meus pensamentos são interrompidos pela enfermeira.

- Tínhamos uma maca e uma paramédica na quadra, não precisava te-la trazido até aqui. - Ela diz com um leve sorriso seguido de uma risada. Ela deve ver diversas situações desse tipo em sua profissão.

- Ah, eu... Eu não tinha percebido. - Ele gagueja, coçando a nuca e desviando o olhar visivelmente envergonhado.

Mas foi até melhor ele ter me trazido até aqui, pude esconder minhas lágrimas enquanto todos olhavam para mim em seus braços. Me sinto segura com ele.

A enfermeira se aproxima para avaliar meu pé já inchado, enquanto ela fazia o que quer que estava fazendo, não consigo prestar atenção em nada. Apenas no ponto fixo na parede enquanto minha mente vagueia. Teria acontecido tanta coisa no jogo de hoje... Se é que não já aconteceu, eu teria a chance de mostrar tudo o que eu treinei por anos o jogo inteiro tudo o que eu esperei por tanto tempo. Mas ao invés disso, estou aqui, fora da quadra. Derrotada pela própria dor.

Odeio perder, simplesmente odeio.

A sensação de impotência parece me consumir por dentro.

Sinto um leve incomodo quando a enfermeira aperta um pouco meu tornozelo, o que me traz de volta a realidade. Ela bate um raio-x do local, o resultado não demora muito a sair.

O veredito? Quebrei a tíbia e torci o tornozelo. Um mês e 15 dias com o tornozelo engessado, seguido com mais 15 dias usando uma bota ortopédica.

As palavras da enfermeira parecem rasgar meu coração, as lágrimas ameaçam escorrer mais as seguro, não vou chorar de novo. Não no mesmo lugar da minha derrota. Kageyama permanece ao meu lado em silêncio, apenas observando a situação. Não quero olhar diretamente para ele, não quero que ele saiba o quanto isso me machuca, mas sinto que ele sabe melhor do que ninguém.A frustração pesa sobre meus ombros como um fardo insuportável. Mais do que a dor física, a derrota e o sentimento de impotência me consomem por dentro.

Sinto o seu toque sobre minha mão, suas mãos que geralmente são quentes agora estão frias, não era como se fosse um gesto romântico, mas sim um de conforto. Não consigo me segurar, as lágrimas que eu lutei para segurar a partir do momento em que eu cheguei aqui finalmente conseguem escapar. Ele me puxa para um abraço enquanto me consola acariciando minha nuca.

- Vou deixar os dois a sós. - A enfermeira diz, logo depois saindo e fechando a porta da enfermaria.

- Não deixe que isso destrua tudo o que você conquistou e suportou para chegar até aqui. - É apenas o que ele diz, desde o momento em que chegamos aqui, e provavelmente até sairmos. Mas uma única frase, desde que seja dita por ele. É como se fosse um livro completo.

KAGEYAMA POINT VIEW:

- Pode me deixar sozinha? - Ela pergunta desfazendo o silêncio e o abraço, enquanto enxugava as lágrimas que deixaram seu rosto encharcado. Coloco as mãos em sua bochecha e as acaricio, limpando algumas lágrimas que ainda estavam escorrendo. Ver ela assim me parte o coração.

- Tem certeza? - Pergunto, ela não parece em condições de ficar sozinha, parece que vai desmaiar a qualquer momento. Mas ela assente, com a expressão ainda triste. - Se precisar de alguma coisa é só chamar, eu vou ficar em frente a porta. - Digo depositando um beijo em sua testa.

- Você tá com o seu telefone?

- Tá. - Respondo olhando para trás, eu estava prestes a sair pela porta.

- Pode me emprestar? - Sua voz manhosa, não de drama, mas pelo choro. - Quero ligar para os meus pais, e o meu ficou na minha bolsa.

- É claro. - Tiro o telefone do bolso e o entrego em suas mãos, ela da um sorriso triste como agradecimento. - A senha é a data de hoje. - Ela parece confusa por um momento, mas logo se dá conta. O dia em que pedi ela em namoro. Hoje seria um dia feliz e um dia triste para ela, na verdade para nós dois.

Saio da sala a vendo discar um número e logo depois o telefone começar a apitar. Fecho a porta atrás de mim a deixando sozinha. Me pergunto se é com os pais biológicos que ela está ligando. As paredes parecem ser finas, feitas de pano. Mas são tijolos, consigo escutar um pouco da conversa, mesmo não conseguindo entender nada o que ela diz.

- Oi mãe... Acabou.- É o que Bia diz, logo seguido de um choro amargo, não entendo o que ela diz, mas parte meu coração. Agora está claro. Tenho que aprender o idioma da minha namorada. Ela continua a falar com a pessoa por trás da linha, mesmo sem entender nada o que ela diz, escuto o meu nome, seguindo de palavras do seu idioma. Me afasto da porta e encosto na parede do corredor. Começo a observar as coisas ao redor, não tem nada de muito interessante. As paredes de cor bege e algumas cadeiras pretas, nas paredes um quadro com avisos e algumas pranchetas médica.

Me pergunto como o time está se saindo, eles estão sem as duas levantadoras. As únicas que tinham no time, elas não tem chance. O primeiro set já foi difícil e perderam, o segundo venceram com dificuldade, mas foi uma bela vitória. Agora o terceiro, o que irá decidir o que vai acontecer. Eu quero muito que elas ganhem, mas por outro lado eu não acredito isso. Sem o cérebro, que é a levantadora, não tem como o corpo funcionar, ele simplesmente morre.

Mas elas são boas, treinaram bastante para isso. É como se tivessem 20% de chance de ganhar sem uma levantadora e 80% de perder. Mas não é com isso que me importo, mas sim com ela.

- Ela tá na enfermaria? - Me disperso dos meus pensamentos assim que escuto a voz da tangerina ambulante ao meu lado. Ele apareceu aqui e eu nem sequer percebi.

- Tá. - Digo, Hinata não diz nada, apenas se escora na mesma parede que eu soltando um suspiro frustrado. - Mas quer ficar sozinha.

- Eu sei bobão. Se ela quisesse ficar com alguém você estaria lá.

Não respondo, apenas reviro os olhos e bufo, pela ignorância dele, elas perderam. Hinata não tem uma personalidade forte, não é do feitio dele, apenas quando temos nossas brigas bestas.

- Quando começaram a namorar? - Intrometido. Mas ele pergunta sem um pingo de emoção, o que é estranho.

- Elas perderam? - Desvio do assunto, Bia disse que queria contar para eles depois do jogo. E assim vou fazer, mesmo que todos já saibam.

- É. - É tudo o que Hinata diz, começo a encara-lo. Quero saber o placar. - Foi de 15x8.

É, não achei que seria um valor tão baixo, mas imaginei algo do tipo. Sem uma levantadora, o time desanda. É como no xadrez, se a rainha sai do jogo todo o reino cai. E assim foi com elas.

- O treinador Ukai pediu para mim vim chamar vocês, o ônibus já vai sair. - Logo após ele sai com o olhar cabisbaixo. Ele está mais triste do que imaginei que ficaria, mas não sinto que é só pelo jogo, ele e Bia ficaram bem próximos esses últimos dias. Também estou triste pela derrota das garotas, principalmente porque Bia deu a vida para marcar aquele último ponto.

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O Olhar Do Oceano Sobre Mim -Kageyama TobioOnde histórias criam vida. Descubra agora