O céu estava pesado, cinza como a minha alma, enquanto me via cercado por rostos familiares que pareciam tão distantes.
A chuva começava a cair suavemente, mas não era nem comparada com a tempestade que se formava dentro de mim.
Eu me encontrava ali em um lugar que nunca imaginei que teria que visitar tão cedo, no enterro do meu pai.
A cerimônia estava marcada para as duas horas da tarde, mas já era meio-dia e a ansiedade martelava meu peito.
O cheiro do solo úmido misturava-se ao perfume de flores que tinham sido colocadas em torno do caixão, a imagem dele ali, imóvel, parecia surreal, eu queria gritar, queria correr, mas as palavras simplesmente não vinham.
Mia estava ao meu lado, seu olhar era um misto de preocupação e solidariedade, ela tinha sempre as palavras certas, mas agora quando eu mais precisava, tudo que conseguia era sentir o silêncio pesado entre nós
Eu sabia que ela queria confortar, mas o espaço entre a dor e o consolo parecia imenso.
— Lorenzo, estou aqui — Ela murmurou como se pudesse ler meus pensamentos.
A cerimônia começou e as vozes dos familiares e amigos pareciam ecoar de longe.
Cada palavra, cada lembrança compartilhada, parecia mais um golpe no meu coração, eu queria que a terra se abrisse e me engolisse, a dor era insuportável e eu não sabia como lidar com isso.
Quando o padre começou a falar sobre a vida do meu pai, eu me perdi em pensamentos.
Lembrei-me dele ensinando-me a andar de bicicleta, a primeira vez que jogamos futebol juntos, mesmo eu detestando, ele sempre foi o tipo de pai que se esforçava para estar presente, mesmo com os desafios do dia a dia e agora tudo isso estava se esvaindo, eu só queria mais uma conversa, mais um abraço apertado.
O olhar de Dick me alcançou entre a multidão, ele estava ali, firme, como uma rocha em meio ao caos, eu sentia uma mistura de gratidão e tristeza, ele tinha sido meu porto seguro nos últimos meses e agora naquele momento, precisava dele mais do que nunca.
A sua presença me lembrava que eu não estava sozinho, que havia alguém disposto a me ajudar a carregar esse fardo, após algumas palavras de conforto, o caixão foi descendo lentamente.
Meu coração disparou, o som da madeira batendo na terra me atingiu como uma marretada, tudo que consegui fazer nesse momento foi um suspiro sufocado, não, não podia ser verdade, isso não estava acontecendo.
— Lorenzo, calma — Dick sussurrou ao meu lado, percebendo meu desespero, ele segurou minha mão e a conexão entre nós se tornou um pequeno raio de luz na escuridão, eu olhei para ele e por um breve momento, consegui me sentir um pouco mais forte.
Ele também consola minha mãe, ela estava fugindo dessa cena colocando seu rosto sobre o peito dele e ele a abraça com a outra mão, não soltando a minha.
As pessoas começaram a se dispersar, algumas deixando flores ao redor do túmulo, outras abraçando-se em lágrimas silenciosas, eu apenas não sabia como agir.
As regras de um enterro pareciam tão estranhas, como se estivéssemos todos seguindo um script que ninguém realmente queria interpretar.
A chuva começou a cair mais forte e eu percebi que as gotas que molhavam meu rosto não eram apenas água, sentia como se o céu estivesse chorando junto comigo, mia se aproximou e me puxou para mais perto.
— Vamos, Lorenzo, precisamos sair daqui — ela sugeriu suavemente.
Mas eu não queria, eu queria ficar ali perto dele, como se a presença física do meu pai ainda estivesse naquela caixa de madeira.
Dick estava mais próximo agora e mesmo que a dor me consumisse, a conexão que compartilhávamos me trouxe um pouco de paz.
— Você está bem? — ele perguntou com seus olhos cheios de preocupação.
Eu queria mentir, dizer que sim, que tudo ficaria bem, mas a verdade era que eu não sabia, o mundo parecia ter perdido suas cores, a vida que antes pulsava vibrante, agora era um borrão cinza.
— Não sei se algum dia estarei bem — respondi honestamente, as lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Estou tão perdido.
Dick não disse nada, apenas apertou minha mão um pouco mais forte, ele estava ali, firme ao meu lado e isso significava mais do que eu poderia expressar.
— Vamos tia, vou levar a senhora para o carro. — Ele ajuda minha mãe a criar coragem.
Quando finalmente saímos do cemitério, a chuva havia diminuído, mas o peso da perda ainda pairava sobre mim.
O silêncio no carro era ensurdecedor. Jackson dirigia, Mia estava no carona e Dick estava sentado ao meu lado, a mão ainda segurando a minha.
— Você não precisa passar por isso sozinho — Dick quebrou o silêncio e eu olhei para ele.
— Eu sei. É só... tudo isso é tão novo e tão doloroso — confessei.
Ele fez um sinal de que havia compreendendo, eu me perguntava se ele já tinha passado por algo assim, se ele sabia como era perder alguém que amamos, mas não havia tempo para essas perguntas agora, o que importava era que ele estava ali, mesmo que eu me sentisse uma bagunça.
— Não se preocupe com nada, vamos dar um tempo a você, estou aqui e vou ficar — ele prometeu e sua voz tinha um calor que parecia me envolver como um cobertor. — Para a senhora também. — Ele segura a mão da minha mãe que volta para a realidade, parando de encarar a janela, ela apenas agradeceu com a cabeça.
Aquele momento por mais triste que fosse, me fez perceber a força da nossa conexão, a dor era imensa, mas havia espaço para a esperança, para o amor que ainda persistia, mesmo em meio à escuridão.
No fundo, sabia que a jornada seria longa e difícil, mas com Dick ao meu lado, eu sentia que poderia enfrentar qualquer tempestade.
Quando chegamos em casa, a realidade se impôs novamente.
As paredes pareciam mais frias e o silêncio era ensurdecedor, a presença do meu pai ainda pairava por ali, mas agora eu tinha que encarar a vida sem ele.
A dor da perda ainda doía, mas havia uma centelha de esperança nas pequenas coisas que permaneciam.
— Você precisa de um tempo — Dick sugeriu enquanto entrávamos.
Eu assenti, sem saber exatamente como seguir em frente, mas ele estava ali e isso já era um grande passo.
A vida continuava, mesmo quando parecia que tudo havia parado, com isso em mente eu sabia que de alguma forma eu teria que encontrar meu caminho.
O enterro foi apenas o começo de uma nova realidade, uma que me forçaria a crescer e me adaptar, ao lado de Dick, eu sentia que não estava tão sozinho assim.
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Segunda Chances - Romance Gay
RomansaDepois de anos sendo atormentado por Dick, Lorenzo finalmente vê uma reviravolta quando Dick confessa seus sentimentos. No entanto, um novo aluno, Marcos, entra em cena e começa a conquistar o coração de Lorenzo com sua gentileza e compreensão. Divi...