Capítulo 36 - Lorenzo

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Desde aquela segunda-feira, tudo ao meu redor parece desmoronar e eu só quero desaparecer, para ajudar Marcos me segue como uma sombra, não importa aonde eu vá, ele está lá e sempre com aquele olhar que me faz estremecer.

Ele não precisa mais gritar ou levantar a voz, suas palavras vêm como facas afiadas, mas em um tom baixo, quase suave, que só eu consigo ouvir, como hoje quando ele me bloqueou no caminho de volta pra casa.

— E aí, pensou no que eu falei? — ele disse com um sorriso que me arrepiou até os ossos.

Eu queria fazer qualquer coisa que me afastasse dele, mas fiquei ali congelado com o peito apertado, era como se uma mão invisível estivesse me sufocando e eu não conseguisse respirar.

— Você vai terminar com ele, Lorenzo — ele continuou dando um passo à frente, sua presença estava me sufocando ainda mais. — Vou te dar até o fim da semana, caso contrário não respondo por mim e o pai dele vai saber. — Ele falou isso com tanta calma, como se estivesse me oferecendo uma escolha, mas eu sei que não há escolha, não pra mim, ele tem o poder e eu estou preso.

Apenas sigo andando e quando finalmente me livrei dele, meus passos pareciam pesados, como se eu estivesse arrastando toneladas de culpa e medo.

Eu queria correr até o Dick, abraçá-lo e contar tudo, pedir ajuda, mas não consigo e como eu posso arrastá-lo para isso? Como posso colocar ele no meio desse inferno?

Os dias passaram e eu me afastei cada vez mais de todos, Mia que sempre foi meu apoio, agora só me encara com aquela expressão preocupada.

Ela percebeu, claro ela sempre percebe, mas quando ela me segura pelo braço, pedindo para eu falar o que está acontecendo, tudo o que eu consigo fazer é me soltar e murmurar alguma desculpa.

— Eu não posso, Mia. Não agora... — minha voz sai fraca, quase imperceptível, como se cada palavra me custasse um pedaço da alma.

Eu me odeio por isso, Mia não merece isso e Dick também não, mas é como se Marcos estivesse controlando cada movimento meu, mesmo quando ele não está por perto...

Sinto como se estivesse constantemente olhando por cima do ombro, esperando o próximo ataque, a próxima ameaça, ele me consome, até nos momentos mais simples, não consigo pensar em outra coisa.

À noite, deitado na minha cama, a escuridão parece me abraçar, mas não de uma forma reconfortante, desta vez é algo sufocante.

As mensagens de Dick ainda estão lá no celular, piscando na tela, apenas leio cada uma delas, ele está preocupado e quer saber por que estou tão distante.

Eu quero responder, Deus, como eu quero responder, quero dizer que estou com medo, que sinto que estou afundando, mas as palavras se prendem na minha garganta.

O que eu poderia dizer? Como posso contar isso a ele sem que ele sofra também? Seria mais fácil apenas afastá-lo, eu apago a tela e viro de lado, tentando me forçar a dormir, mas o sono nunca vem.

O estômago dói, não de fome, mas de ansiedade.

O peito aperta como se faltasse ar, eu me viro de um lado para o outro, mas tudo o que sinto é o vazio e o medo me consumindo por dentro.

Cada batida do meu coração parece uma facada no peito, o luto pela perda do meu pai já era insuportável por si só, mas agora... agora tem o Marcos.

Estou quebrando e sei disso, mas não consigo parar, não consigo me salvar.

[...]

Dick me olha de longe e eu desvio o olhar, não consigo encará-lo.

Segunda Chances - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora