Eu já tinha dito meu nome para Jungwon e também meu endereço, que graças a rota de fuga, estava um pouco longe. Mas agora outra situação estava me intrigando. Minha melhor amiga não se lembrava de mim? Toda aquela confusão me deixou inativa por 2 horas apenas. Pareceu uma eternidade pra mim, mas não tinha sido. Como ela poderia me esquecer? A ideia de que eu estava sendo vítima de uma pegadinha de televisão voltou a minha mente.
_ Você tá bem?_ Jungwon me perguntou me tirando dos outros pensamentos.
_Eu gostaria de entender tudo isso. Mas acho que sou incapaz. _ Confessei e apertei o contato de minha mãe. Eu queria que alguém soubesse que eu estava bem afinal de contas. Mas não tive sucesso com a chamada.
_ Sunoo te contou algo, não contou? _ Ele perguntou me olhando de soslaio. Jungwon dirigia muito bem, sua mão praticamente nem segurava o volante, só encostava nele. Sua postura também me trazia a sensação de confiança, de alguém muito maduro e experiente apesar da aparência jovem, mas eu não sabia se poderia me entregar àquela breve sensação de conforto.
_ O que ele disse é verdade?
_ Bom, ele não tem motivos para mentir.
_ Então... vocês realmente não são humanos? Como é possível? Vocês são criaturas noturnas? O que isso significa? _ Eu soltei o questionário para ele enquanto ele entrava em meu bairro. Se a noite estava quente ou fria lá fora, eu só saberia depois de entender alguma coisa ali dentro.
_ Digamos que existam alguns mundos que muitos humanos não conhecem, s/n. Você faz parte de um e nós fazemos parte de outro. E os nossos mundos se colidiram em um momento. Houve amor entre alguns. Mas nem todo mundo aceitou o fruto disso. E a caçada teve início, de ambos os lados. Nesse momento.. é ... estamos em guerra. Eu e meus amigos lutamos para sobrevivermos. Não é justo entregar nossas vidas só porque não somos bem-vindos._ Ele mostrou uma expressão de lamento._ Os humanos desenvolveram muitas armas para nos eliminar. Invadiram nossos lares, raptaram criaturas inocentes para fazer experiências e ... bem, essa é a sua rua mesmo?
_Sim. _ Eu olhei rápido para frente e voltei a encarar Jungwon. Ele estava me contando uma história de forma tão sentida que eu estava acreditando nele.
_E qual a diferença entre nós? Porque eu não consegui enxergar ainda.
_É porque não foi preciso. Acredite, você não quer ver. _ Ele fitou a estrada com semblante mais sério. Eu cocei minha cabeça e liguei para meu pai. Nesse percurso todo minha mãe não tinha atendido minhas ligações.
_ Alô! Pai. Nossa que bom ouvir uma voz familiar... _ Eu disse quando ele me atendeu no terceiro toque. Jungwon apenas seguiu dirigindo até estacionar em frente a minha casa. Eu morava sozinha, por isso, mesmo sendo quase meia noite eu queria falar com meus pais. Quem sabe eu poderia ir para a casa deles e ganhar um abraço pelo menos naquela noite? Mas o terror parecia não ter fim.
_ Olha moça, eu não sei quem é você, mas é melhor parar de ligar para mim e para minha esposa. Eu olhei o número, você ligou para ela 7 vezes.
_ Pai sou eu! S/n... eu sei que a gente tem nossas diferenças, mas ... eu tô com saudade de vocês.
_ Não tenho filhos, moça, e não acho engraçado passar trote para as pessoas, ainda mais essa hora. Passar bem. _ Ele disse e desligou o telefone. Meu mundo estava caindo. O que estava acontecendo com todos ?
_ S/n.... _ Jungwon me chamou. Minhas lágrimas caíram assim que pisquei._ O que houve?
_Eu ... não sei. De qualquer forma. _Eu sequei minhas lágrimas e guardei meu telefone no bolso. _ Obrigada. _ Dizendo isso eu abri a porta do carro e sai encarando minha casa. Nada estava fazendo sentido, eu só esperava acordar daquele pesadelo. Mas eu não ia acordar tão cedo. Uma moto com barulho de motor velho surgiu atrás de nós e antes que Jungwon pudesse virar com o carro, ele foi metralhado. Eu me abaixei na frente do veículo depois de gritar, ou pelo menos simular um grito, minha voz tinha sumido com o novo susto. Os tiros no carro não pararam e eu continuei chorando forte esperando que alguma bala me acertasse logo. Isso não aconteceu.