Jay tinha razão. Eu tinha muita sorte. Mesmo com um passado triste e doloroso, isso só fazia com que eu me encaixasse, pois ninguém ali teve facilidades, ninguém foi isento de dor ou tristeza. E provando minha sorte eu tive coisas que eles não tiveram. Tive amor incondicional de meus pais, algo que eles nem sabiam o que era. Eu também tinha meu avô e ele estava vivo. E sempre que precisei, tive alguém para me salvar, inúmeras vezes. Tive cuidados, amparo, fui acolhida e ao fazer essa análise eu não vi motivos para me queixar. Eu era a única ali que podia falar sobre felicidade, mesmo sem minhas memórias verdadeiras. Isso foi outro presente do meu pai. Eu pude me ver feliz, protegida e amada. A vida era conturbada sim, cheia de desafios, mas podíamos nos agarrar em momentos assim, para ter força e continuar. Podíamos parar um pouco e olhar para o céu, respirar devagar e fazer valer cada batida do coração.
Ni-ki e eu demoramos para abrir nossos olhos, o sentimento que habitava em nós não precisava ser visto. Seus lábios, mesmo intensos, conseguiam ser delicados ao explorar os meus. As mãos dele só saíram de minhas costas para segurarem meu rosto. Assim como eu, ele queria ter certeza que eu estava ali e que era tudo real. Felizmente um sonho real. Me afastei um pouco para olhar para ele. Ni-ki arrumou meus cabelos, que agora já estavam completamente molhados e grudando em nossa pele; e sorriu para mim. Eu já estava feliz, mas vê-lo sorrir era como ganhar doses extras de felicidade.
_Queria ver seu sorriso mais vezes Ni-ki._ Falei na dúvida se ele poderia me ouvir devido ao som da natureza. A queda d'água ganhou mais força com nossa presença. Talvez isso fosse um sinal.
_ Acho que você é a única que vê meu sorriso. _ Ele passou o polegar em minha bochecha. Seu olhar era de um encanto para mim que eu poderia me achar a pessoa mais bela por recebê-lo assim._ Na verdade, você é o motivo dele existir..._ Ele contou e eu deixei minhas mãos no rosto dele também, tocando cada gotinha de água que enfeitou aquela linda face. Eu sorri, ele beijou meus dedos e depois mordeu minha mão de brincadeira. Eu ri como uma típica boba apaixonada.
_ Você faz meu ser inteiro sorrir Ni-ki. _ Confessei. _ Eu sou muito grata a meus pais por terem feito esse anel. Porque me permitiu crescer e ... poder estar com você agora.
_ Pensando assim eu também sou. _ Ele beijou meu pulso com nossas pulseiras._Mesmo que seja humana... acho que isso foi necessário.
_ Sim. _ Eu não parei de sorrir.
_ Está com frio? _ Ele encarou meus lábios. Estaria eu com os lábios roxos?
_ Não... mas talvez meu corpo esteja. _ Eu ri._ Acho que a água ficou mais fria por ter vindo com mais força da mata.
_ Hum. _ Ni-ki então deslizou os braços para minhas costas e tirou um braço para segurar minhas pernas e me segurar no estilo noiva. Eu não larguei meu sorriso e nem o pescoço dele._ Vamos sair então, não quero você congelando.
_ Ah. _ Eu descansei meu rosto em sua clavícula. Eu não me importaria em ficar congelando por fora, por dentro eu estava muito aquecida. Ni-ki nos tirou da cachoeira, pegou meu tênis sem me deixar ir pro chão e continuou me carregando pelo caminho que fizemos antes. _ Eu posso ir andando..._ Fiz um carinho em seu pescoço. Eu podia ir andando, mas eu não queria.
_ Eu sei._ Ele respondeu e nada mudou. Ele continuou me levando. Queríamos estar assim.
_ Eu vejo o esforço que você faz Ni-ki. Para controlar ... a questão do desejo pelo sangue e tal. E eu te admiro muito por isso._ Falei no caminho. Estávamos deixando rastros de água por ele.
_ Eu tenho conversado mais com o Jungwon._ Ele confessou em tom calmo. A voz dele era tão boa... Em qualquer momento. Mas assim pertinho de mim era melhor ainda._ Ele parece entender coisas que eu não entendo tão bem.
