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O som da porta fechando atrás dela parecia definitivo, mas o caminho de volta ao quarto de hotel foi lento e doloroso

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O som da porta fechando atrás dela parecia definitivo, mas o caminho de volta ao quarto de hotel foi lento e doloroso. Cada passo era uma batalha contra o desejo de voltar, de dizer a Carlos que ficaria. Mas ela já tinha falado demais, exposto seus sentimentos de um jeito que nunca tinha feito antes. Ele sabia o que ela queria, o que ela precisava. E, mesmo assim, não conseguia oferecer.

Ela entrou no quarto, fechou a porta e se sentou na beira da cama, o silêncio da noite de Paris pesando sobre seus ombros. O cheiro de chuva invadiu o ambiente pela janela entreaberta, e ela deixou as lágrimas finalmente caírem. Já não sabia mais quantas vezes tinha chorado por Carlos, mas naquela noite, as lágrimas eram diferentes. Não era apenas tristeza, era uma luta interna. O que fazer quando amar alguém significa também aceitar a própria dor?

O celular vibrou ao seu lado, e ela soube imediatamente que era ele. Carlos sempre sabia o momento certo — ou talvez o momento errado — para reaparecer.

"Por favor, não vá. Eu preciso de você."

Ela leu e releu aquelas palavras, sabendo exatamente o que elas significavam. Ele não a escolheria, não publicamente, não de uma maneira que mudasse sua vida. Mas ele precisava dela. A conexão entre eles era inegável, e por mais que tentasse negar, ela também precisava dele. O calor do toque de Carlos, a intensidade dos momentos que compartilhavam, a maneira como ele fazia o mundo ao redor desaparecer... Tudo isso era real, mesmo que o resto da vida dele fosse uma mentira.

Ela se odiava por isso, mas a ideia de nunca mais vê-lo, de perder aqueles fragmentos de felicidade, a deixava vazia. Como seguir em frente sem ele, mesmo que fosse apenas em pequenos momentos? O amor que ela sentia por Carlos era grande o suficiente para que aceitasse ser apenas a outra?

Com os dedos trêmulos, ela digitou uma resposta.

"Eu estou cansada de lutar contra isso. Eu aceito, mas com uma condição: eu não quero mais promessas vazias. Se vou ficar, quero apenas o que você pode me dar. Sem mentiras."

Houve um longo silêncio após o envio da mensagem. Ela se jogou de costas na cama, sentindo o peso do que acabara de fazer. Teria ela realmente aceitado ser a outra? O que isso dizia sobre ela, sobre sua própria dignidade? Mas, no fundo, sabia que aquele amor era mais forte do que qualquer princípio. Se ela pudesse ter Carlos, mesmo que fosse só por momentos roubados, talvez isso fosse o suficiente.

A resposta veio minutos depois, curta e direta, como ele sempre era.

"Eu não te prometo mais nada além de ser honesto. Quero você como é. Por favor, desça."

Ela se levantou da cama, o coração batendo forte. Não havia mais ilusões. Sabia o que estava aceitando. Sabia que Carlos nunca a colocaria à frente de sua vida pública, que continuaria aparecendo com a namorada nos eventos, sorrindo para as câmeras. Mas, nos bastidores, ela teria ele. Mesmo que fosse pouco, seria melhor do que nada.

No lobby do hotel...

Quando desceu, Carlos estava parado exatamente no mesmo lugar onde o deixara, as mãos nos bolsos e o rosto sombrio. Ele não tentou sorrir, não tentou disfarçar o alívio evidente em seus olhos ao vê-la se aproximar.

Ela parou diante dele, sentindo o coração acelerar. Não sabia o que dizer. As palavras não seriam suficientes para explicar a escolha que acabara de fazer.

— Você realmente quer isso? — ele perguntou, a voz mais baixa do que o habitual, quase em tom de súplica. — Eu não quero te machucar mais.

Ela suspirou, cruzando os braços ao sentir o frio da noite.

— Eu já estou machucada, Carlos. Sempre estive. Mas, se eu não puder ter tudo, vou aceitar o que você pode me dar. Só não quero mais mentiras. Quero saber onde estou pisando.

Ele assentiu lentamente, dando um passo em sua direção. Por um momento, a tensão entre eles pareceu insuportável. Ele levantou a mão e, com cuidado, tocou o rosto dela, os dedos quentes contra sua pele fria.

— Você não é só mais uma, sabe disso, certo? — ele disse, a voz grave, quase um sussurro. — Nunca foi. Eu só não sei como lidar com isso. Mas vou tentar ser honesto, como você pediu.

Ela fechou os olhos por um segundo, sentindo o toque dele trazer de volta todas as emoções que havia tentado suprimir. A verdade estava ali, bem na frente dela: Carlos nunca seria completamente dela, mas o que tinham, por menor que fosse, a consumia de uma forma que ela não conseguia explicar.

— Tudo bem, Carlos — ela disse, abrindo os olhos e encarando-o. — Eu sei o que estou aceitando. Só me promete que, quando estivermos juntos, eu não vou ser apenas uma sombra.

Carlos a olhou por alguns segundos antes de incliná-la levemente para si. Quando seus lábios se encontraram, ela soube que havia cruzado a linha que jurou não cruzar novamente. Era uma rendição. Mas, por mais amarga que fosse, era a escolha que ela havia feito.

No quarto...

Horas depois, deitados na cama do hotel, o silêncio entre eles não era mais desconfortável. O corpo de Carlos estava relaxado ao lado do dela, sua respiração profunda e lenta. Ela, por outro lado, estava acordada, olhando o teto e pensando no que o futuro lhes reservava.

Agora que aceitara ser a outra, o que isso realmente significava para ela? Seria capaz de suportar ver Carlos continuar sua vida pública com outra pessoa? Conseguiria viver apenas pelos momentos roubados, sabendo que nunca teria mais do que aquilo?

Ela não sabia as respostas. Mas, por enquanto, Carlos estava ali, ao seu lado. E, naquele momento, era o suficiente.

Segredo-Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora