VI

8 1 0
                                    

Os dias em Paris passaram como um borrão

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Os dias em Paris passaram como um borrão. As manhãs eram preenchidas por passeios solitários, enquanto as noites eram dele. Carlos a encontrava sempre no mesmo quarto de hotel, os encontros cheios de uma intensidade que só parecia crescer com o tempo. Não havia mais falsas promessas ou desculpas. Ele não tentava esconder o que eles eram: uma fuga do mundo que ele não podia abandonar.

Ela aceitou aquele papel. Aceitou ser o segredo que ele guardava a sete chaves, o refúgio em meio à sua vida caótica. Durante os momentos em que estavam juntos, ela se permitia esquecer a dor, a realidade cruel de que, fora daqueles encontros, Carlos pertencia a outra pessoa — uma pessoa que o mundo via como sua verdadeira companheira.

Mas, nos dias em que ele não estava ali, a realidade voltava com força total. Cada notificação no celular era uma faca cravada em seu peito: fotos de Carlos com a namorada, abraços carinhosos em eventos, sorrisos para as câmeras. O amor de fachada que ele exibia ao mundo era um lembrete constante de que ela era a sombra, a outra mulher que ninguém jamais veria.

Naquela noite, ele a encontraria novamente. Ela estava nervosa, algo diferente no ar. Carlos a havia dito que a deixaria em breve, pois voltaria para os compromissos públicos e para as corridas. Seriam semanas sem vê-lo, sem tocá-lo. Isso sempre era um teste para ela, o afastamento.

Estava pronta, esperando no quarto de hotel, quando ele entrou. Carlos parecia mais cansado do que o normal, o rosto marcado pelas pressões que sempre o acompanhavam. Ele a puxou para si sem dizer uma palavra, e ela se entregou ao abraço, tentando capturar cada segundo daquele momento, cada sensação.

Depois de um longo silêncio, ele finalmente falou:

— Eu vou embora amanhã.

Ela assentiu, já sabendo, mas a confirmação doía mais do que imaginava.

— Por quanto tempo?

— Não sei. — Ele suspirou, afastando-se e passando as mãos pelo cabelo. — Depende das corridas, dos eventos... Você sabe como é.

Ela sabia. Sabia muito bem. Ele voltaria para sua vida perfeita, sua namorada oficial, suas viagens, as festas e as aparições públicas. E ela? Ela ficaria esperando, na incerteza, à margem da vida dele.

— Não me peça para te esperar, Carlos — ela disse, de repente, a voz saindo mais firme do que esperava.

Ele a olhou, surpreso, como se não estivesse preparado para ouvir aquelas palavras.

— O que você quer dizer?

Ela respirou fundo, reunindo coragem.

— Não posso continuar esperando que você apareça quando for conveniente. Eu entendi o nosso acordo, aceitei ser a outra, mas... eu também tenho limites. Você vive sua vida, faz suas escolhas, e eu fico aqui, parada, sempre à sua sombra. Eu não posso fazer isso para sempre.

Carlos estreitou os olhos, o rosto tenso.

— Está me dizendo que quer acabar com isso?

Ela balançou a cabeça, sentindo o peso da confusão em seu peito.

— Não é isso. Eu só... eu preciso saber que você realmente se importa. Que isso que temos significa algo para você. Porque, às vezes, parece que sou apenas um passatempo, algo que você procura quando está cansado do resto.

Ele se levantou da cama, andando de um lado para o outro, claramente desconfortável. Carlos odiava confrontos, especialmente quando envolviam sentimentos.

— Você acha que eu não me importo? — Ele parou e a olhou com intensidade. — Eu estou aqui, não estou? Eu te procurei. Se não significasse nada, eu não estaria fazendo isso.

— Mas você ainda não consegue me escolher — ela rebateu, sentindo o nó em sua garganta apertar. — Você ainda escolhe a vida que tem lá fora, ao lado dela. Eu sou só o segredo.

Ele suspirou, passando a mão pelo rosto.

— Você sabia desde o começo que seria assim. Eu te disse que não posso mudar minha vida de uma hora para outra. Eu tenho responsabilidades. Isso não é tão simples.

Ela se levantou, sentindo a frustração crescer dentro dela.

— Não, não é simples. Mas o que eu estou dizendo é que, se continuar assim, vou me perder. E eu não posso me perder por você, Carlos. Não se você não estiver disposto a me dar mais do que pedaços de si.

Carlos a olhou fixamente, como se tentasse encontrar as palavras certas para dizer, mas o silêncio entre eles foi mais forte. Ele não tinha uma resposta. Não tinha uma solução. E, pela primeira vez, ela se deu conta de que talvez ele nunca tivesse.

— Eu não quero te perder — ele disse finalmente, a voz mais baixa, quase um sussurro. — Mas também não sei como te dar o que você quer.

Ela sentiu as lágrimas começarem a se acumular em seus olhos, mas as segurou. Não choraria na frente dele, não mais. Já tinha derramado lágrimas demais por Carlos Sainz.

— Então talvez eu precise me afastar — ela disse, a voz trêmula, mas firme. — Não quero acabar sendo apenas a sombra de alguém. E, se continuar assim, é isso que vou me tornar.

Carlos não respondeu. Ele apenas a olhou, seu silêncio dizendo mais do que qualquer palavra poderia. E, naquele momento, ela percebeu que ele jamais faria a escolha. Nunca a escolheria de verdade, porque nunca quis abrir mão do que já tinha.

Horas depois...

Eles fizeram amor uma última vez naquela noite, sem promessas, sem garantias. Quando ele saiu de madrugada, ela sabia que era o fim — ou pelo menos deveria ser. Mas, no fundo, uma parte dela ainda se agarrava à esperança tola de que ele voltaria. Que, um dia, ele finalmente a escolheria.

Mas, enquanto olhava a porta se fechar atrás de Carlos, uma coisa ficou clara: ela estava jogando um jogo perigoso, onde o único prêmio era a dor.

Segredo-Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora