XVI

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Meses haviam se passado desde que Carlos a vira pela última vez, e o vazio que sentia só crescia

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Meses haviam se passado desde que Carlos a vira pela última vez, e o vazio que sentia só crescia. Ele tentava seguir em frente, mas as lembranças dela estavam entranhadas em cada detalhe do seu cotidiano. Em cada corrida, em cada momento de silêncio no hotel ou em seu apartamento, ele sentia sua ausência como uma sombra persistente. Ela tinha se tornado uma cicatriz invisível, uma lembrança constante de que ele havia deixado algo precioso escorrer por entre os dedos.

Naquela noite, Carlos estava em seu apartamento em Madri, folheando um álbum de fotos antigas. Uma imagem dele e do pai, no início da carreira, chamou sua atenção. Lembrou-se da determinação que sempre tivera, do foco em vencer a qualquer custo. E, no fundo, soube que havia algo errado. Todo o sucesso, os troféus, os aplausos... nada daquilo conseguia preencher a falta que ela fazia.

Ele fechou o álbum e pegou o telefone, hesitando por um instante antes de digitar uma mensagem para ela. "Você tem tempo para conversarmos? Preciso te ver."

Para sua surpresa, ela respondeu alguns minutos depois, concordando em encontrá-lo. Marcaram de se ver em um café discreto no centro de Madri. Naquela noite, Carlos mal conseguiu dormir, sentindo uma mistura de ansiedade e esperança que há muito não sentia.

Na manhã seguinte, Carlos chegou ao café alguns minutos antes. Sentou-se em uma mesa no canto e esperou, os dedos tamborilando no tampo da mesa enquanto tentava se acalmar. A porta se abriu e, ao vê-la entrar, seu coração disparou. Ela estava linda, os olhos brilhando com uma leveza que ele não via desde o começo da história deles.

Ela o cumprimentou com um sorriso tímido e sentou-se à sua frente. O silêncio inicial era pesado, mas ele sabia que precisava falar. Carlos respirou fundo e começou:

— Eu queria te ver porque... eu precisava ser honesto. Sei que deveria ter dito isso antes, mas agora eu entendo tudo o que deixei passar. E não acho que vá conseguir seguir em frente se não falar sobre isso.

Ela o encarou, os olhos firmes, mas ele podia ver a cautela em seu rosto, como se não quisesse se iludir com palavras que ele não poderia sustentar.

— Carlos, eu realmente segui em frente — disse ela, num tom calmo, mas Carlos viu a sombra de mágoa em seu olhar. — O que tivemos... foi importante para mim. Mas eu precisei aceitar que você não estava pronto para o que eu queria.

Ele assentiu, engolindo em seco. As palavras dela eram um lembrete doloroso de suas escolhas, mas ele sabia que precisava continuar.

— Eu sei disso, e assumo a responsabilidade. Sei que você merecia mais do que eu estava disposto a dar, e me arrependo profundamente de não ter enxergado isso antes. Mas... — Ele parou, a voz embargada. — Eu não sei se consigo viver sabendo que te perdi por medo. Perdi o que poderia ter sido a melhor coisa da minha vida, porque fui covarde.

Ela permaneceu em silêncio, os olhos desviando por um momento, como se estivesse processando aquelas palavras. Depois, ela falou, com a voz baixa:

— Carlos, parte de mim sempre acreditou que você me amava, mas eu não podia passar a vida inteira esperando que você decidisse. Eu não merecia viver de incertezas.

Ele sabia que era verdade. Ela havia suportado muito mais do que ele tinha direito de pedir.

— Não espero que você me desculpe — ele disse, com sinceridade. — Só queria que soubesse o quanto sinto por não ter sido o homem que você merecia.

Ela o encarou, e, para sua surpresa, havia uma doçura em seu olhar, misturada com uma saudade que ele também sentia.

— E o que mudou agora, Carlos? — ela perguntou, a voz suave, mas com um toque de dor. — Por que, agora, você acha que seria diferente?

Carlos respirou fundo, sentindo-se vulnerável de uma forma que nunca havia experimentado.

— Porque finalmente entendi que nada do que tenho importa se não posso compartilhar com você. Achei que o sucesso me bastaria, que eu poderia seguir minha vida sem amarras. Mas, ao te perder, percebi que... eu te amo. E isso é a coisa mais verdadeira que já senti.

As palavras ficaram suspensas no ar entre eles, carregadas de significados não ditos. Ela o olhou em silêncio, o rosto mostrando uma mistura de surpresa e emoção. Pela primeira vez, ele sentiu que estava sendo completamente sincero.

— Eu não esperava ouvir isso, Carlos. Depois de tudo, eu realmente segui em frente. Mas acho que, lá no fundo, sempre quis que você dissesse isso.

Ele estendeu a mão sobre a mesa, e ela hesitou antes de segurá-la, o toque quente e familiar. Era um gesto pequeno, mas que carregava todo o peso de uma promessa não cumprida.

— Não espero que você volte para mim. Quero que seja feliz, seja comigo ou com outra pessoa. Mas, se houver uma chance, por menor que seja, para recomeçar... eu quero te dar o que você sempre mereceu.

Ela sorriu, e ele viu que as mágoas estavam começando a se dissipar, mas sabia que seria um processo lento. Ainda assim, pela primeira vez, sentia uma esperança genuína. Eles tinham feridas para curar e muitos obstáculos a enfrentar, mas o amor que ainda existia entre eles era o suficiente para tentar.

Saíram do café lado a lado, caminhando pela cidade, compartilhando histórias, rindo e recordando tudo o que viveram juntos. E, naquele momento, sob o céu de Madri, ambos sabiam que, independentemente do que o futuro trouxesse, estavam finalmente prontos para deixar o passado para trás e construir uma nova história juntos.

Assim "Ela" pode descobrir quem realmente ela era.

Fim

Segredo-Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora