Untouchable

17. Inesperado

NATASHA ROMANOFF

Revirei os papéis que estavam sobre minha mesa, apenas para acalmar um pouco a mente. Eu já deveria estar me encaminhando para o consultório da Dra. Jean a esse ponto, mas estava adiando isso.

As consultas estavam sendo... difíceis, para dizer o mínimo. Estávamos fazendo progresso, pelo menos eu pensava que sim, mas isso não facilitava as coisas. Conversar com Kate e Wanda de uma maneira tão aberta me fez engrenar, até mesmo os sermões de Yelena tinham sua parcela de "culpa" nisso, tinha me feito ir mais a fundo em todo o meu trauma.

Como eu disse, isso não facilitava as coisas, era muito intenso encarar tudo desde o começo, revisitar certos sentimentos, como se eles estivessem bem aqui na minha frente outra vez.

"Você vai ver, vai valer a pena. Existe uma luz no fim do túnel e eu estarei lá te esperando". Wanda me disse uma vez e eu estava me agarrando às suas palavras.

Sempre parecia funcionar.

– Você parece inquieta hoje, Natasha. -Jean Grey observou apenas alguns segundos depois de eu ter me sentado.

Era como se ela tivesse um super poder de ler mentes ou era só muito boa em ler pessoas, realmente. Dei um breve sorriso, porque tinha sido assim das últimas vezes, Jean observava algo extremamente assertivo e logo em seguida eu estava vomitando um milhão de traumas em seu sofá extremamente chique e confortável.

– Eu sonhei que tocava a Wanda. -mudei um pouco de assunto e ouvi sua risadinha levemente irônica. – Não dessa forma, como você está pensando. -retifiquei com rapidez.

Ela riu mais uma vez, cruzando suas pernas e parando de olhar para o seu pequeno caderno de anotações e me encarando logo em seguida.

– De que forma você a tocava? -questionou.

– Era um toque singelo, sua mão encostava na minha e não havia desespero, nem sentimentos ruins ou qualquer coisa remotamente parecida com o que acontece quando alguém encosta em mim. Havia apenas paz. -expliquei e ela assentiu como se entendesse perfeitamente o que eu estava dizendo.

– Você imagina muito esse momento? O momento em que você vai finalmente tocá-la?

– Algumas vezes sim. -confessei com um pouco de receio do seu julgamento. – Ao mesmo tempo, tento não pensar muito porque isso me deixava frustrada e com a sensação de estar estagnada e presa nessa situação. Além disso, estou cansada da minha irmã jogar na minha cara que isso tudo é por ela.

Jean anotou algo por um breve momento e então seus olhos estavam em mim outra vez, me deixando um pouco inquieta. Tinha medo dos seus julgamentos.

– E não é? -sua voz saiu leve, suave e quase compreensiva. – Não é pela Wanda que você está aqui?

Parecia uma pegadinha ou uma pergunta capciosa que eu estava prestes a responder de maneira errada. Não importa o que eu dissesse.

Eu estava aqui, de fato, pela Wanda. Não tinha como negar, mas também estava aqui por mim, pela minha irmã, por Kate e por tudo.

Mas não sei se teria tomado coragem se as coisas fossem diferentes.

– Nada do que eu responda parece ser bom. -disse sem rodeios. – É estranho que eu esteja com tanto medo dos seus julgamentos?

– Não estou aqui para julgar, Natasha. -ela deu um risinho. – Não que a Jean Grey pessoa não faça isso, mas aqui esse não é o meu papel. Eu só quero saber a verdade, saber o que se passa ai na sua mente para poder te ajudar.

Bufei, pensando que eu provavelmente teria virado assunto em uma roda de conversa com suas amigas. "A estranha paciente que não toca em ninguém".

Tentei limpar meus pensamentos, esse não era o tipo de coisa que eu gostaria de ter na mente agora.