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Quando Gustavo entrou no táxi, sentiu o peito apertar de uma forma que não esperava. Não era uma viagem longa, mas a ideia de ficar longe de Ana Flávia por três dias parecia insuportável. Ele tentou se distrair, mas tudo o que via do lado de fora das janelas o fazia pensar nela. A cidade passando rápido, o cheiro da jaqueta que ainda carregava o perfume dela, e até o brilho da tela do celular quando a última notificação da chamada perdida de Ana ainda estava lá, como se o aparelho insistisse em lembrá-lo dela.

Enquanto o motorista seguia pelas ruas, Gustavo abriu o WhatsApp. Queria enviar algo simples, mas nada parecia suficiente. Finalmente digitou:

Gustavo: "Já tô com saudade. Não acredito que você deixou seu coração comigo e foi embora."

Ele acompanhou as três bolinhas que indicavam que Ana estava digitando. Logo, a resposta chegou:
Ana: "E você deixou o seu comigo. Tô aqui, guardando direitinho... Mas quem vai guardar o meu quando você estiver lá?"

Gustavo suspirou, a saudade crescendo como um nó na garganta. Antes que pudesse responder, uma nova mensagem chegou:
Ana: "E se eu te disser que já tô pensando em ir te buscar lá?"

Ele sorriu. Ana Flávia sempre sabia o que dizer para tirar qualquer peso do peito dele, mas ao mesmo tempo, ele sentia a mesma saudade.

Gustavo: "Se você fizer isso, eu nunca mais viajo sem você. Aliás, tô achando que essa vai ser a última vez que fico longe por tanto tempo."

O carro parou no aeroporto, e Gustavo pegou a mala, sentindo o frio na barriga crescer. Ao entrar no saguão, uma ideia súbita cruzou sua mente. Ele apertou o passo, tirou o celular do bolso e fez uma chamada de vídeo. Ana atendeu quase instantaneamente, e ele não pôde deixar de sorrir ao vê-la de moletom, com o cabelo preso em um coque bagunçado, e um brilho divertido nos olhos.

— Vai desistir da viagem só pra me ver chorar no aeroporto? — ela provocou.

— Eu pensei nisso. Mas achei que você ia brigar comigo — ele respondeu, com um sorriso que não disfarçava a saudade.

— Mioto... — Ela suspirou, e a expressão brincalhona cedeu lugar a algo mais suave. — Só três dias. A gente aguenta.

— É, mas eu não gosto da ideia de não dormir com você essa noite.

Ana riu, tentando não deixar transparecer que também sentia o mesmo.
— Também não gosto. Mas eu tenho uma condição...

— Diz.

— Quero foto sua todo dia. Senão, vou achar que você esqueceu de mim.

Gustavo ergueu a sobrancelha, divertindo-se.
— Ciúmes? Você? Não acredito.

— Não é ciúme, é precaução — Ana rebateu, mas o sorriso nos lábios denunciava o quanto estava gostando da provocação.

— Pode deixar. Foto de manhã, tarde e noite, só pra garantir.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, se encarando pela tela. Mesmo separados por uma distância crescente, parecia que o mundo parava quando eles se olhavam assim.

— Vou sentir tanto a sua falta, Ana... — ele murmurou, a voz baixa e sincera.

— Eu também. Muito.

Gustavo levou a mão à tela, como se pudesse tocar o rosto dela.
— Eu volto rápido, eu prometo.

— Promete mesmo?

— Prometo. E quando eu voltar... — Ele deu uma piscadela. — Vou te compensar por cada segundo que a gente ficou separado.

Ana gargalhou, mas o som logo foi substituído por um suspiro.
— Vai com cuidado, meu amor. Eu te amo.

— Também te amo, pequena. Já tô contando as horas pra voltar.

Ele desligou a chamada, o peito apertado, mas um pouco mais leve. Enquanto caminhava até o portão de embarque, Gustavo apertou o colar que a Ana tinha dado para ele e sorriu, imaginando Ana com a pulseira de ouro que ele havia deixado para ela. Era como se, mesmo longe, eles estivessem conectados.

Assim que o avião decolou, ele fechou os olhos, tentando afastar a saudade. Mas cada imagem que surgia na mente dele era dela: o sorriso, o jeito engraçadinho, a implicância carinhosa, e a sensação de tê-la nos braços.

No meio do voo, Gustavo pegou o celular e enviou mais uma mensagem:
Gustavo: "Eu volto logo, mas enquanto isso... sonha comigo."

O celular vibrou minutos depois com a resposta dela:
Ana: "Eu já tô, meu amor. E vou contar cada segundo até você voltar."

E pela primeira vez desde que ele partira, Gustavo conseguiu relaxar. Três dias eram pouco. Mas quando se tratava dela, cada segundo longe parecia uma eternidade.

Through His Lens • Miotela Onde histórias criam vida. Descubra agora