CAPÍTULO 11 - FINALMENTE, AS AULAS

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– E, por fim, veremos a queda do governo de Rômulo Augusto após o processo de chegada ao longo de muitos anos dos povos germânicos em Roma. – a professora, Dra. Ludia Pacheco, como se apresentou, estava em pé ao lado do quadro negro, e apontava com uma régua para os tópicos listados em ordem, desde a vinda dos Indo-Europeus na Grécia Continental, até o cristianismo em Roma. – Depois, teremos a terceira prova em sala, e sem consulta. – ajustou o óculos quadrado na ponta do nariz. – Mas, como eu sou boazinha, – seus olhos castanhos observavam a sala cheia, e os calouros tomavam nota nos cadernos – o trabalho final vai ser a elaboração de um ensaio acadêmico sobre um desses tópicos, individual, a ser entregue no último dia de aula, e esse obviamente tem consulta às fontes. – sorriu simpaticamente com seus dentes amarelos.

Scarlett estava na primeira fileira, considerando qual assunto da lista de tópicos que anotou no caderno poderia ser melhor para aquele trabalho; pensando que se arrumar para ir a aula foi mais divertido do que a aula em si. "Pelo menos hoje é feijoada de novo." se animou ao lembrar do cardápio do refeitório.

– Agora turma, para finalizar, – a mulher baixinha retornou à mesa, procurando algo por entre os papéis – vou fazer uma chamada, e vocês vão se apresentando, falando a idade, de onde vem e porque escolheram o curso... – a professora arfou, de certo cansada de ter de repetir as mesmas frases todo semestre – Vamos lá, Ana Laura. – leu uma lista com os nomes.

– Aqui – uma garota sentada nos fundos e de voz nasalada levantou a mão, perdida em meio a fileira com outros alunos – Eu sou a Ana, tenho dezoito anos, sou de BH, e quis fazer História porque minha avó era professora, e eu sempre gostei muito de história na escola, ainda mais história medieval, sabe?

– Ah, quem diria... – o ânimo da professora era sofrível.

Vários outros nomes foram sendo chamados, mas logo Scarlett esquecia os rostos em meio aos trinta alunos naquela sala. No canto da folha, com sua caneta rosa, riscou flores, espirais e corações. Ela escutava, ouvia as palavras de seus colegas, mas igualmente as esquecia.

– Aqui, sou eu. – repentinamente, a garota sentada ao seu lado na primeira fileira ergueu a mão cuja pele era de um marrom profundo, assustando Scarlett absorta em seus rabiscos, mas estava perto o suficiente para que a enxergasse direito e com atenção – Eu sou a Rita, tenho dezoito anos – era sorridente, seus dentes eram pequenos e bem quadrados, os caninos um pouco separados dos demais, mas se ornavam com os lábios grossos em formato de coração – e eu moro aqui, mas nasci em São Mateus... não em São Paulo, São Mateus no Espírito Santo. – falou ao perceber os olhares confusos dos colegas – E entrei para o curso porque gosto de ler, e de escrever, e gosto de coisa antiga também.

– Então, porque não faz Letras? – perguntou a professora, escorada no tampo da mesa.

– Gosto de escrever, mas acho as regras gramaticais chatas, cara, Gerúndio? Pretérito? Isso é nome de idoso. – e a sala gargalhou em onda, até mesmo a professora Pacheco. – Mas é verdade, gente. – sorria mais ainda, jogando a cabeça para trás, enrugando os puxados olhos cor de âmbar, franzindo as sobrancelhas negras, da mesma cor de seu cabelo ondulado.

– Certo, certo... – a professora ergueu os óculos, recuperando-se do riso, continuando sua tarefa. – Scarlett Montagori?

Demorou alguns segundos, mas ela estendeu a mão.

– Sou eu. – não soube por que, mas ficara nervosa. – Oi, eu sou a Scarlett. – "Se ela acabou de chamar meu nome, pra que falar de novo? Nossa...", refletiu com razão – Também tenho dezoito anos, sou de Petrópolis, mas agora moro aqui e... – fez uma pausa, tentando recordar qual a outra questão mesmo. – E faço História porque gosto da área, minha mãe é professora também, e desde criança eu lia alguns livros... e fui me interessando, e é isso. – concluiu satisfeita com sua resposta, foi mais palatável do que dizer a verdade, que preferia lidar com gente morta a muito tempo, do que com gente viva.

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