Toda a extensão do corredor era sombria e mal iluminada, Scarlett andava devagar como se temesse algo, ou alguém, como se evitasse ser detectada pelo som dos passos sobre o piso de azulejos decorados e gastos. Procurava a porta certa, com cuidado, tentando encaixar a chave de bronze antiga nas fechaduras. A verdade é que estava desesperada, sentia a urgência de fugir daquele lugar o mais rápido possível, "Anda logo Scarlett, está atrás de você, rápido, rápido!" sua mente girava em ansiedade e horror.
– Te encontrei. – o barulho dos saltos ecoou no corredor,
– Quem é?– a garota rebateu, sem esconder o terror na voz.
– Você sabe quem eu sou, Scarlett, por que tanto medo? – a voz feminina e aguda se aproximava cada vez mais pelas paredes escuras.
– Não, por favor. – as lágrimas embaralharam sua voz, e as sílabas saiam entrecortadas pelos soluços.
– Mas não foi tão bom Scarlett? Você não "curtiu" tanto? – a voz sorria, escondida na sombra do fim do corredor. As pernas da mulher começaram a ser reveladas pelo feixe de luz que vinha do vitral ao alto.
– Isso não pode ser verdade. – A garota temia pela própria sorte, pelo próprio futuro, isso não era o que desejava, não sonhava em viver assim, só queria ser uma acadêmica culta e respeitada.
– Você cavou seu destino com as próprias mãos quando festejou a faculdade inteira, não se faça de inocente. – Scarlett a viu por inteiro. A mulher parecia uma advogada, vestia uma saia lápis e saltos fechados pretos em contraste com a meia calça bege, e o que parecia ser um blazer de ombreiras estruturadas.
– Eu te imploro, por favor. – ela se encolhia no canto da parede, tentando se proteger do que lhe era inevitável, sabia que seu sonho morreria ali.
– Venha Scarlett, não vai ser tão ruim assim. – A mulher carregava uma prancheta na mão, e com a outra girava uma caneta. – O que tem de errado em ser secretária de escola? É uma profissão ótima para sustentar os seus muitos filhos.
–NÃÃÃÃÃOOOO. – ela gritou em negação enquanto memorandos intermináveis surgiam em sua direção, a secretária da escola vinha com a prancheta nas mãos, pronta para lhe matar com a ponta da caneta e seu mimeógrafo, que magicamente começou a flutuar pelo ar.
–Scarlett!! Caralho. – a voz de Helena em meio aos vultos do que parecia ser seu quarto a salvou do pesadelo. – Não acredito que você dormiu até agora bicho. – ouvia as batidas na porta.
Ela abriu os olhos assustada, se levantando de supetão, sentindo a cabeça girar, e com dificuldade caminhou embolando o tapete aos pés da cama, até que por fim conseguiu destrancar a porta do quarto.
– Segundo dia de aula e já está faltando Scarlett ?? Assim não dá minha filha. – a mãe estava ao lado da irmã, com a pior cara do mundo.
– Não mãe, é que... – tentou raciocinar – O professor avisou no departamento que não ia ter aula, é que ele ainda não chegou no Instituto. – mentiu, sua voz baixa e lenta deu veracidade aos fatos.
– Que isso minha filha? Está doente? Que cara é essa Scarlett, vai lá lavar esse rosto. – A mulher rebateu, o instinto da garota foi tapar os ouvidos, já que as palavras estridentes da mãe ecoavam dez vezes mais alto que o normal. – Eu ia levar as meninas ao mercado antes das aulas da tarde, nós até já almoçamos no refeitório, você quer ir?
– Não. – gemia – To morrendo de dor de cabeça mãe, colabora aí. – sussurrou, arrastando seu corpo pesado até o banheiro.
– Se eu não te conhecesse diria que tá de porre. – ela completou, sacudindo as pulseiras pesadas que levava no pulso ao caminhar até a cozinha – Vai lavar o rosto que eu vou pegar uma aspirina. Mas o que aconteceu pra você ficar assim? Pegou chuva ontem né, aposto!
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Castiglia
VampireO Instituto Castiglia respirava a história colonial brasileira, um colégio e faculdade de tradição católica, rígido em suas normas, onde só quem pudesse pagar, e muito bem, conseguiria entrar. É lá que o professor do curso de História, Estevam C, pa...