CAPÍTULO 14- DESCE UMA CAIPIRINHA, FAZ FAVOR.

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Felizmente, mais se beijaram do que conversaram, não havia brecha para palavras. Infelizmente, foram poucos minutos, e logo a consciência os trouxe de volta, e tão cedo estava novamente no prédio de tijolos antigos, subindo as escadas de volta ao apartamento assim como o plano de Estevam sugeria. Naquele dia já tinha jantado antes de sair para a aula, por isso a mãe não estranhou quando ela apenas comeu pão com ovo mexido e tomou o restante do suco de maracujá. Sentadas no sofá, entre os comerciais, conversou com a mãe, que revelou o cansaço da primeira semana de aula.

–Eu acho que vou tomar um banho e ir deitar. – anunciou a matriarca das filhas assim que desligou a TV. – To com uma enxaqueca. – e levantou-se com preguiça.

–Eu pego seu remédio mãe, tá na mesinha de cabeceira não é? – levantou-se do sofá, colocando o travesseiro sobre o colo da irmã, praticamente adormecida escorada no braço acolchoado do móvel.

Scarlett pegou dois comprimidos do Clonazepam, sabia que quando a mãe estava muito estressada tomava dose dupla do remédio de qualquer forma. Levou o copo de água para a mãe no banheiro, que, menos de meia hora depois, já estava dormindo no quarto, ao lado de alguns papéis que se esforçou em analisar antes de desmaiar. Ela se arrumou uma última vez, checando cada detalhe da roupa, tomou um verdadeiro banho de perfume e se dirigiu à sacada, sem não antes colocar a cama estrategicamente montada e a porta do quarto fechada. Ele a esperava na sacada do quarto ao lado, havia trocado de camisa. Com jeito, ela subiu na cadeira, segurando as mãos do homem, que a atravessou o pequeno espaço entre os dois apartamentos, aterrorizada com a altura.

– Eu te seguro. – suas mãos firmes e geladas abraçaram a cintura, segurando-a com firmeza. – Você está linda. – sussurrou antes de colocá-la no chão, a poucos milímetros de seus ouvidos.

– Eu sei. – respondeu, desvencilhando-se dos braços do homem. Scarlett não tinha reparado como Estevam era forte, não apenas a força de um homem adulto, que consegue abrir latas de tampas apertadas ou carregar sacolas de mercado sem reclamar. Mas era forte de verdade, a segurou como quem pega um pacote de biscoito – Você também dá pro gasto. – acariciou seus braços, duros feito uma parede, olhando-o nos olhos sorridentes.

***

A estrada era escura, e ela não tinha a menor ideia de onde estavam indo, mas apenas observava as árvores pela janela, se distanciando do caminho conhecido.

– Quer ligar o rádio? – a tirou de sua observação. – Acho que toca aquela rádio que passa as músicas que você gosta. – indicou, mexendo o aparelho com a mão direita, fazendo reverberar alguns chiados ao sintonizar na FM.

– Como você sabe as músicas que eu gosto? – ao invés de música, sintonizou em um programa de notícias, contando sobre o enorme trânsito que atrasava a vida no centro de Belo Horizonte.

– Os jovens gostam de coisas parecidas. – deu de ombros, mudando novamente a estação.

– Então, como o senhor é velho. – e ele nem era tão velho assim. – Que tipo de música gosta de ouvir? – finalmente, a melodia de uma canção foi pelo carro, e se atentaram ao instrumental, e logo a voz de Marisa Monte os embalou ao volume máximo, "Bem que se quis...".

– Não me chame de senhor, pelo amor de Deus. Gosto das antigas, – sorridente, ele devolveu as duas mãos ao volante, virando em uma entrada à direita – de piano, violoncelo, música clássica, sabe? Gosto do blues de Nova Orleans, gosto do Robert Johnson, Cartola e... – passou a marcha, o carro seguia uma descida bem íngreme – Chorinho, adoro.

– Quem hoje em dia escuta Chorinho? – segurou-se em um arranco, a estrada parecia se deteriorar àquela altura.

– Alguém de bom gosto. – e ele sorria, despreocupado com a violência do caminho.

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