Sussuros na noite

Capítulo 4: A tempestade interior

A energia que fluía entre Amélia e seus amigos aumentava a cada segundo, pulsando como um coração coletivo. Quando todos tocaram o espelho, uma onda de luz irrompeu dele, fazendo com que a sala ficasse iluminada por uma luz suave, quase etérea. Mas, à medida que a luminosidade crescia, uma sensação de desconforto começou a se infiltrar entre eles, como se a casa estivesse se preparando para se defender.

“Algo não está certo,” Clara disse, com seu tom de voz cheio de ansiedade. “Acho que estamos mexendo com forças que não compreendemos.”

Amélia hesitou, olhando para o reflexo que agora mostrava flashes de memórias — rostos, sussurros, e cenas de desespero. O homem angustiado estava de volta, mas agora seu desespero parecia aumentar. Era como se ele estivesse tentando se libertar de algo que o mantinha preso. “Ele precisa de nós,” Amélia insistiu, mas a tensão na sala era palpável.

“Talvez devêssemos parar,” Lucas sugeriu, com suas mãos tremendo ligeiramente contra o espelho. “Não sei se estamos prontos para isso.”

Antes que Amélia pudesse responder, uma explosão de vento passou pela sala, fazendo as velas se apagarem e o ambiente mergulhar em escuridão. O espelho começou a vibrar e as imagens tornaram-se distorcidas e frenéticas. Os sussurros, que antes eram suaves, tornaram-se gritos, e um frio gélido invadiu o salão.

“Amélia! O que está acontecendo?” Marco gritou, com a voz cheia de pânico.

“Eu não sei!” ela respondeu, tentando se manter calma. “Precisamos nos afastar!”

Mas antes que pudessem recuar, uma força invisível os prendeu. Eles estavam presos em um círculo de luz, e a energia que antes os unia agora parecia uma corrente elétrica, pulsando e os puxando para o espelho.

“Resistam!” Dylan gritou, sua voz quase abafada pelo clamor crescente. “Concentrem-se em se manter juntos!”

Amélia fechou os olhos, tentando focar. Lembrou-se da determinação que a trouxera até ali, da necessidade de entender a história que os envolvia. “Precisamos nos lembrar do porquê estamos aqui!” ela exclamou.

A medida que cada um deles começava a relembrar o que os unia, a força ao redor deles começou a diminuir. Os gritos transformaram-se em murmúrios, e o espelho, em vez de se tornar uma barreira, começou a se apresentar como um portal.

Então, tudo mudou novamente. As paredes da sala começaram a tremer, e as tapeçarias começaram a rasgar-se, como se uma tempestade interna estivesse se desencadeando. Uma sombra imensa surgiu do espelho, tomando forma. Era uma figura indistinta, mas a presença que emanava dela era opressiva.

“Quem são vocês?” a sombra questionou, sua voz ecoava como se viesse de muitos lugares ao mesmo tempo. “O que buscam aqui?”

“Viemos entender o que aconteceu,” Amélia respondeu, com sua voz firme, apesar do medo que sentia. “Estamos aqui para ajudar!”

“Ajudar?” A sombra riu, com um som frio e vazio. “Ajudar não é o que vocês buscam. Vocês estão aqui para satisfazer sua própria curiosidade, não se importando com o preço!”

“Não, não é assim!” Clara gritou, se adiantando. “Nós nos importamos! Queremos saber o que aconteceu com vocês!”

“Vocês não compreendem,” a sombra sussurrou, agora mais próxima, e a atmosfera tornou-se densa. “A curiosidade é uma faca de dois gumes. Aqueles que buscam a verdade frequentemente pagam com suas almas.”

Nesse momento, Amélia sentiu uma onda de desespero. Era como se a história da mansão estivesse se desfazendo diante dela. “Se há algo que possamos fazer, diga-nos! Não queremos causar dor!”

A figura hesitou, e as sombras começaram a recuar. “Apenas um coração puro pode lidar com a verdade. Somente um sacrifício poderá libertar as almas aprisionadas.”

“Sacrifício?” Marco repetiu, com seus olhos arregalados. “O que isso significa?”

“Se vocês realmente querem saber, terão que escolher quem entre vocês está disposto a pagar o preço,” a sombra respondeu, com um brilho sinistro em seus olhos vazios. “O tempo é curto, e a tempestade do passado não espera.”

Amélia olhou para seus amigos, um nó se formou em seu estômago. Eles eram um grupo unido, mas agora a ideia de um sacrifício pesava sobre eles como uma âncora. “Não podemos fazer isso,”disse Amélia, com sua voz trêmula.

“Vocês não têm escolha,” a sombra insistiu, com sua voz se tornando um sussurro. “A verdade não é gratuita.”

Dylan, percebendo a tensão crescente, ergueu a mão. “Não podemos permitir que o medo nos controle. Vamos nos unir e enfrentar isso como um só. Não precisamos escolher um sacrifício.”

Mas, antes que pudessem discutir mais, uma onda de energia os atingiu, e Amélia sentiu seu corpo sendo puxado em direção ao espelho. “Amélia!” gritaram os amigos, mas sua voz foi abafada pela força que a aprisionava.

“Não se separem!” Amélia gritou, mas a luz estava ficando mais intensa, e a conexão com seus amigos estava se dissipando.

No último momento, Amélia teve uma ideia. “Se é um coração puro que pode lidar com a verdade, então me deixe enfrentar isso sozinha!” A ideia soou mais como uma súplica, mas era sua única chance.

A sombra hesitou, e a sala mergulhou em silêncio. “A coragem pode ser uma forma de sacrifício,” murmurou. “Se você estiver disposta a se arriscar, talvez o caminho se abra.”

Com isso, uma nova onda de energia percorreu o salão, e o portal no espelho começou a se abrir, revelando uma luz radiante. Amélia olhou para os amigos, eles estavam com seus rostos cheios de medo e esperança, e assim ela sentiu uma determinação crescente.

“Vou descobrir a verdade!” ela declarou, enquanto a luz a envolvia. “E vocês não vão me perder!”

E, com isso, ela atravessou o portal, desaparecendo na luz, enquanto os amigos a observavam com os corações apertados, sem saber o que o destino lhes reservava. O silêncio tomou conta da sala, e o peso da decisão pairou no ar, enquanto o espelho refletia apenas sombras do que uma vez foi, agora imerso em mistério e expectativa.