Capítulo 20: O fim de tudo?

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O campo se estendia diante deles, mas a sensação de segurança permanecia ilusória. O sussurro na mente de Clara se intensificava, como uma voz entrelaçada às batidas do seu coração. “Eu sou você. Você é minha...” Ela fechou os olhos com força, tentando sufocar a angústia crescente.

“Falta pouco, estamos quase lá,” Amélia garantiu, apertando firme a mão de Clara, mas, no fundo, ela sabia que nada terminaria tão facilmente.

Enquanto continuavam, algo estranho começou a acontecer. A paisagem à frente parecia se distorcer, como um espelho quebrado cujos pedaços tentavam se recompor. A luz do sol piscava, enfraquecendo, e uma névoa fina começou a envolver o grupo.

Dylan parou subitamente, os pelos de sua nuca eriçados. “Vocês estão vendo isso?”

Marco olhou ao redor, com o coração acelerando. A névoa carregava uma familiaridade sinistra — como o mesmo ar pesado da casa que haviam deixado para trás. Ele segurou Lucas com mais força, temendo que aquele pesadelo estivesse se reiniciando.

“Isso não é real...” Clara sussurrou, mas sua voz soou mais como uma prece do que uma constatação.

De repente, uma figura emergiu na neblina: Clara.

Mas não era a Clara que caminhava ao lado deles. Essa outra versão trazia um olhar vazio, com um sorriso torto que congelava o sangue. “Eu disse que não tinha acabado...”

O grupo recuou instintivamente. Dylan se posicionou na frente, o corpo tenso, como um escudo entre aquela presença e seus amigos. “Você não é real,” ele rosnou. “Fique longe dela.”

A falsa Clara inclinou a cabeça de leve, quase em curiosidade. “E se for o contrário? E se a verdadeira nunca tivesse voltado?”

Clara sentiu o chão desabar sob seus pés. Por um instante, a dúvida a tomou. E se... era ela quem havia ficado presa o tempo todo?

Amélia, percebendo o tremor na amiga, agarrou seus ombros e a fez encará-la. “Não escuta! Você é real. Nós te trouxemos de volta!”

Mas a outra Clara deu um passo à frente, a névoa se movendo com ela. “Vocês acham que isso terminou? A escuridão não é um lugar... É parte de quem somos. Ela nunca vai embora.”

Marco apertou os punhos, sentindo a raiva misturada ao medo. “Acabou sim. Não importa o que você seja, não tem mais poder sobre nós.”

A figura sorriu mais amplamente. “Ah, mas vocês mal começaram a entender.” A névoa ao seu redor se intensificou, ameaçando envolver o grupo. “Eu não sou um pesadelo. Sou o que desperta depois dele.”

Foi Clara quem reagiu primeiro. Ela deu um passo à frente, trêmula, mas com a expressão endurecida. “Eu não sou você. E nunca mais vou ser.”

A falsa Clara gargalhou, um som oco e distorcido. “Então prove.”

Sem hesitar, Clara fechou os olhos e se concentrou. Do fundo de sua mente, uma luz suave começou a surgir — a mesma luz que ela havia usado para repelir a escuridão antes. Com esforço, ela alimentou essa chama, tornando-a mais forte.

A verdadeira Clara então abriu os olhos, e eles brilharam com uma intensidade nova. “Acabou.”

A luz irrompeu de seu corpo como uma onda, atravessando a névoa e engolindo a figura sombria. Por um momento, houve resistência — um grito distorcido ecoou, como se a própria escuridão estivesse sendo arrancada das profundezas. E então... silêncio.

A névoa desapareceu, e o campo voltou a brilhar sob o sol da manhã. A falsa Clara havia sumido, e o peso que antes pairava sobre o grupo parecia finalmente ter sido dissipado.

Todos ficaram imóveis por alguns instantes, absorvendo o que havia acabado de acontecer. Marco soltou um suspiro profundo, como se estivesse segurando o fôlego desde que saíram da casa.

“Isso foi... o fim?” ele perguntou, ainda tentando acreditar.

Dylan olhou para Clara, que parecia mais leve, embora exausta. “Talvez não seja o fim de tudo. Mas foi o fim disso.”

Amélia sorriu, puxando Clara para um abraço apertado. “E seja lá o que vier depois, vamos enfrentar juntos.”

Lucas, ainda apoiado em Marco, riu baixinho, mesmo com a dor latejando. “Só espero que o próximo desafio envolva menos correr e mais dormir.”

O grupo riu, pela primeira vez de verdade em muito tempo. E então, com a luz do sol guiando seus passos, seguiram em frente — não para esquecer o que viveram, mas para começar de novo, mais fortes.

Talvez não fosse o fim de tudo. Mas era, sem dúvida, o começo de algo novo.

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