O campo se estendia diante deles, mas a sensação de segurança permanecia ilusória. O sussurro na mente de Clara se intensificava, como uma voz entrelaçada às batidas do seu coração. “Eu sou você. Você é minha...” Ela fechou os olhos com força, tentando sufocar a angústia crescente.
“Falta pouco, estamos quase lá,” Amélia garantiu, apertando firme a mão de Clara, mas, no fundo, ela sabia que nada terminaria tão facilmente.
Enquanto continuavam, algo estranho começou a acontecer. A paisagem à frente parecia se distorcer, como um espelho quebrado cujos pedaços tentavam se recompor. A luz do sol piscava, enfraquecendo, e uma névoa fina começou a envolver o grupo.
Dylan parou subitamente, os pelos de sua nuca eriçados. “Vocês estão vendo isso?”
Marco olhou ao redor, com o coração acelerando. A névoa carregava uma familiaridade sinistra — como o mesmo ar pesado da casa que haviam deixado para trás. Ele segurou Lucas com mais força, temendo que aquele pesadelo estivesse se reiniciando.
“Isso não é real...” Clara sussurrou, mas sua voz soou mais como uma prece do que uma constatação.
De repente, uma figura emergiu na neblina: Clara.
Mas não era a Clara que caminhava ao lado deles. Essa outra versão trazia um olhar vazio, com um sorriso torto que congelava o sangue. “Eu disse que não tinha acabado...”
O grupo recuou instintivamente. Dylan se posicionou na frente, o corpo tenso, como um escudo entre aquela presença e seus amigos. “Você não é real,” ele rosnou. “Fique longe dela.”
A falsa Clara inclinou a cabeça de leve, quase em curiosidade. “E se for o contrário? E se a verdadeira nunca tivesse voltado?”
Clara sentiu o chão desabar sob seus pés. Por um instante, a dúvida a tomou. E se... era ela quem havia ficado presa o tempo todo?
Amélia, percebendo o tremor na amiga, agarrou seus ombros e a fez encará-la. “Não escuta! Você é real. Nós te trouxemos de volta!”
Mas a outra Clara deu um passo à frente, a névoa se movendo com ela. “Vocês acham que isso terminou? A escuridão não é um lugar... É parte de quem somos. Ela nunca vai embora.”
Marco apertou os punhos, sentindo a raiva misturada ao medo. “Acabou sim. Não importa o que você seja, não tem mais poder sobre nós.”
A figura sorriu mais amplamente. “Ah, mas vocês mal começaram a entender.” A névoa ao seu redor se intensificou, ameaçando envolver o grupo. “Eu não sou um pesadelo. Sou o que desperta depois dele.”
Foi Clara quem reagiu primeiro. Ela deu um passo à frente, trêmula, mas com a expressão endurecida. “Eu não sou você. E nunca mais vou ser.”
A falsa Clara gargalhou, um som oco e distorcido. “Então prove.”
Sem hesitar, Clara fechou os olhos e se concentrou. Do fundo de sua mente, uma luz suave começou a surgir — a mesma luz que ela havia usado para repelir a escuridão antes. Com esforço, ela alimentou essa chama, tornando-a mais forte.
A verdadeira Clara então abriu os olhos, e eles brilharam com uma intensidade nova. “Acabou.”
A luz irrompeu de seu corpo como uma onda, atravessando a névoa e engolindo a figura sombria. Por um momento, houve resistência — um grito distorcido ecoou, como se a própria escuridão estivesse sendo arrancada das profundezas. E então... silêncio.
A névoa desapareceu, e o campo voltou a brilhar sob o sol da manhã. A falsa Clara havia sumido, e o peso que antes pairava sobre o grupo parecia finalmente ter sido dissipado.
Todos ficaram imóveis por alguns instantes, absorvendo o que havia acabado de acontecer. Marco soltou um suspiro profundo, como se estivesse segurando o fôlego desde que saíram da casa.
“Isso foi... o fim?” ele perguntou, ainda tentando acreditar.
Dylan olhou para Clara, que parecia mais leve, embora exausta. “Talvez não seja o fim de tudo. Mas foi o fim disso.”
Amélia sorriu, puxando Clara para um abraço apertado. “E seja lá o que vier depois, vamos enfrentar juntos.”
Lucas, ainda apoiado em Marco, riu baixinho, mesmo com a dor latejando. “Só espero que o próximo desafio envolva menos correr e mais dormir.”
O grupo riu, pela primeira vez de verdade em muito tempo. E então, com a luz do sol guiando seus passos, seguiram em frente — não para esquecer o que viveram, mas para começar de novo, mais fortes.
Talvez não fosse o fim de tudo. Mas era, sem dúvida, o começo de algo novo.
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Sussuros na noite
Mistério / SuspenseAmélia e seus amigos exploram uma mansão assombrada em uma noite de tempestade, onde encontram Dylan, um misterioso guardião dos segredos da casa. Atraídos um pelo outro, eles se veem envolvidos em uma trama de romance e suspense, lutando contra for...