Capítulo 22: O coma de Amélia

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Amélia acordou com um sobressalto, o som suave de um monitor cardíaco batendo ao fundo. A luz do hospital era ofuscante, e o cheiro de desinfetante invadia suas narinas. Confusa, ela olhou ao redor e viu rostos familiares, mas estranhos ao mesmo tempo: seus pais, o médico, e uma enfermeira, todos observando-a com uma mistura de alívio e preocupação.

Quando sua mãe se aproximou, lágrimas escorriam de seus olhos. “Amélia! Você voltou!”

Ela tentou responder, mas as palavras se perdiam em sua garganta. A memória de tudo o que havia vivido — as aventuras com Clara, Dylan, Marco e Lucas, a luta contra a escuridão — começou a se desvanecer como um sonho ao amanhecer. O que antes parecia tão vívido e real agora se tornava nebuloso, distante.

À medida que a realidade se estabelecia, uma onda de desespero a atingiu. “Foi tudo um sonho?” sua voz soou baixa e trêmula.

O médico assentiu, a expressão grave. “Você estava em coma, Amélia. O que viveu enquanto estava inconsciente não aconteceu de verdade. Era a sua mente lidando com a situação.”

As lágrimas começaram a escorregar por suas bochechas, quentes e pesadas. O peso da perda a esmagava. Todos aqueles momentos de amizade, coragem e a conexão que sentia por Dylan — tudo aquilo que acreditava ter vivido era apenas uma construção de sua imaginação.

“Então, eles não eram reais...” ela sussurrou, seu coração apertando ao pensar na ideia de que não teria a chance de ver Dylan novamente, de sentir a conexão que tinham. “Clara, Lucas, Marco... Dylan...”

Um soluço a pegou de surpresa. Ela não apenas havia perdido amigos; perdera uma parte de si mesma que acreditou ter encontrado.

“Amélia,” o médico disse com suavidade, “o que você experimentou pode ter sido uma ilusão, mas as lições que você aprendeu e a força que encontrou dentro de si são muito reais. Você tem uma nova chance agora.”

Mas as palavras não eram suficientes para acalmar a tempestade em seu coração. Ela queria gritar, queria que tudo aquilo fosse verdade, que os momentos compartilhados não fossem apenas frutos de sua mente. “Eu queria que eles fossem reais,” ela murmurou, a dor transbordando em seu peito. “Eu queria que ele fosse real.”

“Quem?” sua mãe perguntou, preocupada.

“Dylan,” ela respondeu, a voz embargada. A simples menção do nome trouxe à tona um mar de emoções. A conexão que sentira por ele, a química, o conforto em sua presença — tudo parecia tão significativo, tão profundo. E agora, tudo isso não passava de uma invenção.

Conforme as lágrimas escorriam, Amélia percebeu que, embora o que viveu não fosse real, as emoções que experimentara ainda eram parte dela. A força que encontrou em sua mente a ajudaria a enfrentar o que estava por vir. O que quer que tivesse enfrentado em seu sonho a preparava para a vida que a esperava.

Ela respirou fundo, decidindo que, embora a realidade fosse dura, não permitiria que essa experiência a definisse. Ao invés disso, usaria as lições aprendidas — sobre amizade, coragem e amor — como um guia para reconstruir sua vida, mesmo que seus amigos não estivessem ali ao seu lado.

E talvez, um dia, ela pudesse encontrar novas conexões, novos laços, que fossem igualmente profundos. A vida ainda tinha a capacidade de surpreendê-la, e ela estava determinada a viver cada momento com autenticidade.

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