me pego olhando o rosto dele, as rugas finas que o tempo desenhou sem pedir permissão. eu o vejo, distraído, como quem se esquece de que a vida está ali, acontecendo devagar. ele me pergunta se está tudo bem. e eu respondo que sim, da mesma forma metódica. como quem não sabe mais o que dizer. falamos pouco.
perguntas sobre o tempo, sobre a semana. respostas rápidas e rasas. nesses dias, tem uma tristeza que eu não sei de onde vem. ela aparece, sem aviso prévio. não somos próximos. nunca fomos. o tempo apagou tantas coisas, e o silêncio preencheu o resto. como quem sente falta de algo que nunca teve. observo ele ficando menor, como uma fotografia desbotada. os olhos, um pouco mais opacos, os gestos, mais lentos. tem dias em que saio da mesa
com uma sensação de peso nos ombros. ele fica ali, terminando o café, sem saber que eu também estou indo embora. um pouco mais a cada dia.
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o doce amargo das despedidas
PoetryEste livro é um convite para se despedir e, eventualmente, recomeçar, mesmo que esses começos te levem a novos finais.