Ciúmes

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Ciúmes

Rio de Janeiro, 2015.

POV MARAÍSA

Ainda na festa da Rio Studio, dentro daquele banheiro nojento, observei o meu reflexo no espelho: maquiagem borrada pelos resquícios de choro, cabelo bagunçado e um semblante derrotado.

Ninguém nunca havia me tratado tão mal e me dito coisas tão ruins referentes a minha personalidade e ao meu caráter, Marília era a primeira. E como já era de se esperar, suas palavras me deixaram com raiva, só que além disso, também me deixaram triste, muito triste. Doía ouvir todas aquelas coisas, como doía.

-Você é patética, Maraísa. -murmurei para a mulher refletida no espelho.

Extremamente patética por estar sofrendo por uma pessoa que não te quer, por uma cretina que não tem o mínimo de respeito por você, por uma mulher que te usou e depois te tratou feito um completo lixo.

"Você não é ela", escutei sua voz rouca no meio dos meus pensamentos e ri com desdém. Imagina querer ser aquela sonsa, sem sal e sem personalidade? Carla Maraísa é totalmente o oposto, Carla Maraísa é o melhor que alguém pode ter, Carla Maraísa é... Patética. Eu não queria ser ela, eu só queria ter o que era dela.

Merda!

Em um acesso de raiva, peguei a saboneteira que repousava em cima da pia e a arremessei em direção ao espelho. O estrondo do vidro se quebrando chegou até os meus ouvidos e cacos perigosos se espalharam por toda a parte, inclusive, um deles atingiu o meu braço, causando um pequeno corte por onde, agora, o sangue escorria.

Imediatamente, ouvi o meu nome ser chamado. Danilo. Depois de tudo que aconteceu, sua presença na festa havia caído no esquecimento. Já era tarde, então provavelmente ele estava me procurando para irmos embora.

-Maraisa, o que aconteceu?

Assim que me viu, Danilo entrou em desespero.

-Você está sangrando! -exclamou com preocupação.

É, sangrando por dentro e por fora, mas por dentro está doendo mais.

-O que foi isso?

Danilo queria uma explicação, queria uma explicação porque se preocupava comigo e pretendia me ajudar. Mas eu não queria explicar nada, eu só queria sumir e me esconder em algum lugar bem longe.

-Só vamos embora. Por favor. -pedi em um fio de voz.

Meu melhor amigo me olhou com uma confusão visível no semblante, mas não questionou, apenas me acolheu e me ajudou, me levando pra bem longe daquela festa nojenta e sendo a pessoa mais legal do mundo comigo. Na verdade, ele sempre era o melhor e mais legal e, infelizmente, eu nunca havia retribuído. Talvez tenha chegado a hora de fazer algo por ele, assim, eu mataria dois coelhos com uma cajadada só, agradeceria o Danilo e descontaria a raiva dentro de mim, muita raiva daquela loira desgraçada.

Por isso, quando entramos no carro, me enrosquei no pescoço do meu melhor amigo e dei um beijo caprichado nele, o nosso primeiro. Foi estranho, foi estranho porque não encaixava de jeito nenhum, alguma coisa ali não batia e não me causava nenhuma sensação prazerosa. Mas Danilo pareceu desfrutar do beijo, pois assim que nos separamos sorriu de orelha a orelha, maravilhado com o que havia acabado de acontecer.

Depois disso, não parei mais, e o meu próximo destino foi a sua cama. O sexo, assim como nossos beijos, também não encaixou. Porém, mesmo assim, continuei a me esforçar e fiz Danilo ter uma das melhores noites da sua vida, palavras do próprio.

No dia seguinte, quando fui acordada aos beijos, soube que estava fodida. Primeiro, por causa da maneira como Danilo estava me tratando, provavelmente acreditando que teríamos um futuro. Segundo, porque Marília ainda não havia saído da minha cabeça e do meu coração.

Entre o Presente e o Passado - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora