O Início

168 44 24
                                    

O Início

Rio de Janeiro, 2015.

POV MARÍLIA

Cresci no meio de câmeras e fotografias. Meu pai, agora um fotógrafo aposentado, foi o maior responsável por tudo isso, o responsável por me despertar essa paixão. Eu amava fotografar desde que me entendia por gente, amava fotografar paisagens, pessoas, objetos, animais e qualquer coisa que a minha câmera pudesse captar.

Quando completei dezoito anos, deixei o Goiás e me mudei para uma cidade no estado do Rio de Janeiro, a fim de estudar fotografia numa das melhores faculdades do país. A faculdade era fácil e divertida. Eu tinha facilidade em lidar com câmeras de todos os tipos, além disso, os professores diziam que eu tinha um olho clínico e extremamente treinado, capaz de captar beleza em qualquer coisa. Por tudo isso e por causa das minhas fotos incríveis, passei a ser uma aluna destaque.

Meu primeiro emprego demorou um pouco para chegar, mas era incrível e me fazia um bem danado. Eu era responsável por fotografar algumas paisagens do Rio de Janeiro, o que me despertou um amor surreal por aquela cidade.

Nessa época, eu ia a muitos eventos de fotografia e exposições, e foi num desses eventos que conheci a Jeniffer. Jeniffer morava na capital e era modelo fotográfica. Com os seus dez anos a mais, esbanjava maturidade e doçura. Desde a primeira vez que nos vimos, houve química. Trocamos telefones e conversávamos quase todos os dias. Aos finais de semana, Jeniffer ia me visitar e fazíamos dezenas de ensaios fotográficos juntas, eu amava tirar fotos dela. Em pouquíssimo tempo, começamos um relacionamento à distância.

Assim que terminei a faculdade, Jeniffer me convidou para morar com ela. Aceitei, aceitei porque minha namorada havia levado o meu portfólio na agência onde trabalhava, a Rio Studio, e estava dando uma força enorme na minha carreira, além disso, eu também queria ficar pertinho dela.

A Rio Studio era uma agência especializada em desenvolver, fotografar e gravar campanhas publicitárias de todos os tipos. Boa parte das campanhas do Rio de Janeiro eram feitas lá.

Graças aos céus, fui aceita como fotógrafa e em pouco tempo me matriculei num curso de marketing. Queria poder desenvolver o meu trabalho como fotógrafa com precisão, além de estar por dentro dos conceitos de publicidade, propaganda e marketing. Resumindo, eu queria entender e ajudar a desenvolver o processo todo.

Eu estava trabalhando na Rio Studio há pouco mais de uma semana e só havia feito algumas fotos e ajudado em poucas campanhas, mas já me sentia extremamente feliz e completa com tudo que estava acontecendo na minha vida.

Certo dia, Jeniffer saiu para gravar uma campanha em uma praia. Na verdade, ela estava concorrendo com outra modelo da agência para ver quem de fato ficaria com a tal campanha, o que era injusto já que tinha sido o agente da Jeniffer quem havia feito a ponte entre a marca e a Rio Studio. Só que, num dia de visita à agência, o cliente viu essa outra modelo e ficou na dúvida. Por isso, ambas fariam as fotos e, no final, a marca escolheria a melhor. Naquele dia, Jeniffer saiu de manhã e me surpreendeu ao voltar antes do meio-dia, tão cedo que eu ainda nem havia saído para trabalhar. Minha namorada estava irritada e chorosa.

-O que aconteceu? Por que já está em casa?

-Porque fui impedida de fazer as fotos.

-Como assim? -franzi o cenho.

-O ônibus, com toda a equipe, fez uma parada no meio do caminho, então fui usar o banheiro. Só que, de algum jeito estranho, fiquei presa dentro da cabine e saíram sem mim. Liguei para a equipe e expliquei o ocorrido, mas de nada adiantou porque o desgraçado do dono da marca surtou, dizendo que eu era uma irresponsável e que eu podia esquecer a campanha. Ou seja, a outra fez as fotos e ganhou essa.

Entre o Presente e o Passado - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora