Conversas e Flores

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Conversas e Flores

Curitiba, Março de 2024.

POV MARAÍSA

Dias depois, em uma nova sessão da Mila, Marília e eu trocamos telefones e me surpreendi com o fato do número dela ainda ser o mesmo. Mas parando pra pensar, fazia sentido, pois Marília nunca quis fugir de ninguém. Já eu, fiz questão de mudar de número e de endereço e, se fosse possível até de nome, tudo para fugir dela e do nosso passado.

Com os números em mãos, começamos a conversar em dias aleatórios. Inicialmente, nossas conversas se resumiam a Camila e o quanto ela era adorável. Depois, nosso assunto preferido mudou e se tornou a fotografia. Eu passava um bom tempo tirando dúvidas com relação a câmeras e fotos. Marília, prontamente, respondia tudo e sempre se oferecia pra ajudar.

Mais adiante, nossas conversas se tornaram sobre absolutamente tudo. Conversar com ela era ótimo, me dava energia e vivacidade e me provocava sentimentos que há anos estavam adormecidos dentro de mim. Aos poucos, fui percebendo que os anos não nos afetaram em nada, pois nossas conversas fluíam como antes, fluíam como na nossa melhor época, só não tinham um quê de atrevimento e, obrigatoriamente, não deviam chegar a ter.

~•~

Tirei os óculos e cocei os olhos. Minha vista estava extremamente cansada, minha vista e o meu corpo todo. Já eram quase dez da noite e eu ainda não havia terminado de organizar os dados na tela do computador e, provavelmente, nem terminaria. Na real, eu precisava comer alguma coisa, tomar um banho e, quem sabe, até algum remédio para dor.

Me levantei e alonguei o corpo. Caminhei até a cozinha e tomei um copo de água. Pronta pra ir pro quarto, ouvi a chave virar na fechadura. Danilo.

Observei a porta se abrir e a primeira coisa que vi foi um buquê de flores. Apesar das boas intenções, eu odiava receber flores porque me fazia sentir culpa.

-Boa noite, amor! -segurou minha cintura e me deu um beijo rápido. -Pra você. -estendeu o buquê na minha direção.

-Ahn... Obrigada. -forcei um sorriso, fingindo receber o seu presente com alegria e satisfação.

-Quero compensar tudo que vem acontecendo entre nós. -murmurou. -Desde aquela briga, estamos distantes. Além disso, estou trabalhando demais e não tenho comparecido nesse relacionamento. Quero consertar as coisas.

-Ah, Dan, não precisa disso.

-Precisa. -assentiu. -Pedi comida japonesa e um vinho. Vamos aproveitar como merecemos.

-Ahn... Tá bom.

-Já tomou banho?

-Estava indo fazer isso agora.

-Então vem. -me puxou pela mão. -Vamos fazer isso juntos.

~•~

A comida chegou rapidamente. Antes de começar a comer, decidi dar uma olhada na Mila, que já dormia há pouco mais de uma hora. Ao observá-la, não pude deixar de pensar no quanto queria dar coisas melhores e mais verdadeiras a ela. Eu queria ser uma boa mãe e consertar tudo que já havia feito de errado. Infelizmente, ser uma boa mãe significava me separar do Danilo. Eu não queria que Mila crescesse numa casa onde seus pais não se amavam verdadeiramente, isso é pior do que ter pais separados, certo? Nesse aspecto, Danilo estava errado, ele pensava que ter pais juntos e sem amor era melhor do que ter pais separados e que ainda possuíam o mínimo de respeito um pelo outro.

Há dias, minha mente vinha elaborando a ideia de tentar me separar outra vez. Danilo e eu precisávamos ter aquela conversa e alinhar muitos pontos. Só que hoje talvez não fosse o momento certo, não em meio a um jantar de casal. Por isso, deixei a questão pra lá e voltei para a cozinha.

Entre o Presente e o Passado - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora