Sentada no meio da escada, posso ouvir os gritos acalorados dos meus pais na cozinha, claramente alterados por não saberem mais o que fazer comigo. Já tenho treze anos e, logo completo quatorze. Ainda sim, eles me tratam como criança. Quando eles vão perceber que eu cresci?
⏤ Você causou uma guerra. ⏤ olho para Tina no fim da escada, ela desce e se senta dois degraus acima. ⏤ O que você faz quando vai para à orla? ⏤ gosto das conversas que tenho com minha irmã. Apesar de nova, ela tinha o espírito de uma senhora de sessenta anos curiosa e observadora. Além disso, ela dava os melhores conselhos. Acredita?
⏤ Eu nado. E quando estou em terra firme, faço tarefas para ajudar os comerciantes locais. ⏤ conto.
⏤ Parece chato.
⏤ Você diz isso porque não sabe nadar e porque é preguiçosa. ⏤ provoco.
⏤ Eu não sou preguiçosa, eu tenho cinco anos. ⏤ ela me mostra a língua, me chutando.
⏤ Tina me deixa sozinha com sua irmã.
⏤ meu pai surge de repente.⏤ Não vou deixar que você brigue com ela. ⏤ Tina agarra meu pescoço, meu pai olha feio e eu seguro o braço da minha irmã e olho para ela.
⏤ Tá tudo bem, vai brincar. ⏤ ela olha para o nosso pai, e depois para mim e sorri. Ela beija minha testa e corre para cima, me deixando sozinha com a fera.
⏤ Muito bem, eu estou cansado da sua rebeldia, sua mãe e eu sempre tentamos dar o melhor para você e seus irmãos. E é assim que você agradece? Fugindo de casa e indo para aquele fim de mundo.
⏤ Não diga isso, lá não é nenhum fim de mundo.
⏤ Você ouve o que falam nos jornais, não sou nenhum mentiroso.
⏤ O que você quer de mim, pai?
⏤ Sua obediência, nada além disso. Sou seu pai e quero mantê-la segura, vou mantê-la nem que para isso sua mãe e eu tenhamos que mandá-la para um internato na Suíça.
⏤ Eu fujo. Se me trancarem no quarto, eu pulo a janela, faço o que for preciso e garanto que vocês nunca mais vão me ver.
Após conversar com meu pai, fui para o meu quarto e deitei-me na cama. Fiquei olhando para o teto jogando uma bolinha de tênis para cima. Com a porta aberta, vejo meu irmão passar e me levanto depressa e vou até ele.
⏤ Onde você vai? ⏤ pergunto.
⏤ Não te interessa.
⏤ Você vai no centro? Me leva com você? ⏤ desço as escadas atrás dele.
⏤ Nem pensar, e por que você está aqui e não no cantinho do pensamento. ⏤ debocha.
⏤ Muito engraçado. ⏤ ele ajeita o boné.
⏤ Vai me leva com você, o pai nem vai perceber que sai. ⏤ sem resposta, entro na sua frente e barro a porta. ⏤ Por favor. ⏤ faço carinha de cachorro.⏤ Ok. ⏤ comemoro abraçando-o e ele se afasta, quase que de imediato.
⏤ Não é pra tanto. ⏤ sorrio.
⏤ Só vou pegar um negócio eu já volto.
Quando chegamos no centro da cidade, meu irmão passou pelo carro e agarrou meu braço.
⏤ É para estar aqui ao meio dia. ⏤ assinto e ele aperta mais forte meu braço. ⏤ Eu tô falando sério, Lavínia.
⏤ Tá, eu já entendi. ⏤ ele me solta e sai andando.
Comecei a caminhar olhando as vendinhas próximas, atravesso a rua depois de olhar para os dois lados e dou uma corridinha quando uma moto aparece na esquina.
Andando pela praça, parei na escadaria de uma igreja velha. Percebo três garotos sentados quando vejo um deles rabiscando em uma folha, curiosa, me aproximo e sorrio quando olho para o desenho.
⏤ Isso está lindo, você manda bem. ⏤ falo e então ele me percebe.
⏤ E quem é tu menina? ⏤ pergunta o garoto ao lado.
⏤ Sou Lavínia. ⏤ estico as mãos sorridente, mas ele não aperta.
⏤ Professor. ⏤ responde o garoto do desenho.
⏤ Professor? Você não é muito novo para dar aulas?
⏤ Não sou professor de verdade, mas meus amigos me chamam assim.
⏤ Isso é prata de verdade? ⏤ o outro garoto pergunta, olho para meu colo e seguro com minha mão meu pingente. O 'Professor' acerta um tapa em sua cabeça pela indiscrição.
⏤ Zé. ⏤ me viro quando ouço uma garota gritar e caminhar na nossa direção. ⏤ O que foi que te falei em?
⏤ Calma ele só estava espiando o desenho. ⏤ fala Professor. ⏤ O menino disse que vocês estão sem um teto.
⏤ É, nossa mãe morreu e eu estou procurando um trabalho para conseguir comida.
⏤ Vocês estão dormindo aonde? ⏤ pergunto.
⏤ A gente dormiu no banco ontem, não foi Dora. ⏤ o irmão dela responde.
⏤ Dora é um nome muito bonito. ⏤ Professor comenta. ⏤ Por que você não vem com a gente?
⏤ Tá doido Professor? ⏤ indaga o menino.
⏤ Tô não cara. ⏤ fala sorrindo.
⏤ Eu posso ir com vocês? ⏤ pergunto e, antes de uma resposta, há um silêncio.
⏤ Claro. ⏤ o menino do lado do Professor balança a cabeça como se ele tivesse acabado de ter feito a maior burrada da vida.
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Gente, quero dar um contexto sobre a Lavínia. Ela é uma garota rica com pais que a amam muito, mas ela é o tipo de garota que quer algo a mais, ela quer viver coisas novas e explorar o mundo. Ela vê nos Capitães de Areia a oportunidade perfeita para ser quem ela realmente é, uma pessoa de espírito aventureiro. E é por sua vontade de viver que ela vai ser taxada de 'ingrata'.
Mudei o nome da irmãzinha dela de Isabella para Valentina (Tina).
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Fearless
FanfictionRica e com uma família presente, Lavínia teria tudo o que quer se não fosse por sua vontade louca pela liberdade que seus pais lhe privam de ter. Em um dia quando viaja para Salvador para passar a temporada de verão com parentes diatantes, a garota...