Percebo Sem Perna se aproximar do Trapiche mancando, saí da espreita e entro na frente dele, ele para em silêncio.
⏤ E o que você tem pra nós Sem Perna? ⏤ pergunto, erguendo a cabeça. Sem Perna era um de nós, mas morava em um casarão para nosso próprio benefício. No verão passado, infiltramo-os nessa casa para que o plano de invadir fosse fácil, mas falhamos e não levamos nada agora. Neste verão, planejamos outro furto dos grandes na casa da frente onde também vivem, segundo Sem Perna, uma família cheia da grana.
Ele me entrega um saco de pão e eu me dirijo ao Trapiche, erguendo o braço e gritando. Todos os meninos comemoram comigo e se sentam em torno de uma lareira para discutirmos sobre a invasão.
⏤ A casa tá mais para um palácio, mas só mora o casal e os filhos lá. Outro dia ouvi Dona Ester conversando com a mulher da casa. Eles pensam em dar uma festa e depois curtir com os convidados em outro lugar, a gente tem que agir ligeiro para que não sejamos pegos. ⏤ fala Sem Perna, com o braço no joelho.
⏤ Bala, confiar nele é furada. Na última vez confiamos, e ele quase nos entregou.
⏤ Aquilo foi um erro nosso, não só dele.
⏤ Se algo der errado, não diga que não avisei.
⏤ Tá certo Ezequiel, se você não quer ajudar, saia daqui. ⏤ Ezequiel se retira e eu olho de Sem Perna para a garota ao seu lado, Dora. ⏤ E você o que tanto olha?
⏤ Deixa disso Bala, a menina não fez nada. ⏤ fala professor.
Desde que o Professor a trouxe para cá junto com irmão, nunca ouvi um som sair da sua boca. Ela apenas observava tudo em silêncio, ao contrário daquela garota que provavelmente daria com a língua nos dentes.
O assunto se dá por encerrado e eu saio do Trapiche junto de Professor, caminhamos pela grama até estarmos à praia. Então, na ponte velha de madeira, me sentei enquanto ele permaneceu de pé, olhando para o oriente.
⏤ Alguna notícia daquela garota Professor?
⏤ Não, pedi para alguns dos nossos ficar pela orla e, se a vissem, trouxessem-na para cá, mas até agora nada. ⏤ suspiro.
O que a comigo? Passei os últimos três dias obcecado em tentar encontra-lá e fiz meus homens estarem também. E por que? Não havia motivos aparente, mas eu queria vê-la novamente.
Ocupei minha mente com o roubo de hoje, estaríamos ricos em menos de poucas horas e tudo tinha que sair perfeitamente bem. Sem Perna, voltará para casa e ficará de olho na movimentação, depois retornará para cá com o aval para que pudessemos invadir, e então, prosseguirmos.
Deixo a ponte de madeira e vou para o bar. Sento em uma das cadeiras acendo um baseado enquanto seco a bunda da garçonete, que se vira e me olha sorrindo pervertida. Caixote puxa uma cadeira e se senta ao meu lado. Ele acompanha meu olhar e ri. Eu o olho sem entender o motivo da graça.
⏤ Essa aí é confusão na certa, Pedro Bala. ⏤ afasto o baseado da boca, soltando a fumaça. ⏤ Esposa do prefeito.
⏤ Atiradinha assim? ⏤ ele move a cabeça.
⏤ Não sabe que as mulheres casadas são as mais safadas. ⏤ ele olha para ela e a mulher se aproxima da mesa, com uma caderneta na mão anotando algo.
⏤ Vão querer alguma coisas, rapazes? ⏤ pergunta.
⏤ Como que faz pra te ter essa noite? ⏤ ela ri.
⏤ O que foi que você disse, moleque? ⏤ alguém me dá um pescotapa e eu me levanto derrubando a cadeira. Caixote segura meu braço para que eu não avance para cima do sujeito.
⏤ Calma cara. Você não vai querer mexer com ele.
⏤ E quem disse que não? ⏤ puxo meu braço com força, encarando o homem, que desvia o olhar para a mulher e a puxa.
⏤ Vamos embora daqui. ⏤ ordena.
⏤ Estou no meu horário de trabalho. ⏤ fala.
⏤ AGORA. ⏤ grita e todos olham para ele. ⏤ Por favor, amor. ⏤ ele se recompõe. ⏤ a garçonete olha em volta e retira o avental, sem muito o que fazer. Antes de sair, ela desliza a mão pelo meu braço, jogando um papel em minha mão. Aperto o punho e os vejo sair. Caixote toca o meu ombro e eu me afasto, pegando a cadeira e me sentando de novo.
⏤ Você podia ter se metido em um problemas daqueles, Bala. ⏤ fala. ⏤ Você deve se controlar.
⏤ Não tenho sangue de barata não mano. ⏤ respondo-o.
⏤ E o que é isso na sua mão? ⏤ eu também estou curioso. Abro o papel e leio o que está escrito, 'me encontra nesse endereço em uma hora'. Viro o papel entre o dedo e mostro para ele. Ele ri e bate no meu braço. ⏤ Se deu bem cara. ⏤ rio também.
Após uma hora, deixei o bar e me encontrei com a garçonete em um beco escuro e vazio. Mal me aproximo, ela agarra meu pescoço me beijando a força. Eu não paro e continuo só me afasto para respirar.
⏤ E o prefeito, onde tá? ⏤ pergunto.
⏤ Não se preocupe, dei um jeito nele. ⏤ sorrio e volto a beija-la.
Um tempo depois, deixo o beco ajeitando a calça e vou direto ao Trapiche, onde encontrei Sem Perna e os outros a minha espera.
⏤ Onde você se meteu cara? ⏤ pergunta um dos garotos.
⏤ Deixa de ser curioso zé. ⏤ professor se põe a frente junto de Sem Perna.
⏤ A casa está vazia, podemos ir. ⏤ assinto para Sem Perna.
⏤ Vou ficar para fazer companhia a Dora. ⏤ avisa Professor, olho para a garota sentada no colchão.
⏤ Sem sacanagem por aqui, Professor.
⏤ falo. ⏤ Agora vamos.Quando os meninos e eu chegamos ao casarão, não tivemos dificuldade para abrir o portão. A porta estava encostada então entramos facilmente. Já dentro da casa, o silêncio era instantâneo. Separei o grupo em três e decidi ficar só. O alarme disparou em poucos minutos, mas, com sorte, já haviamos pego algumas coisas.
Abri uma caixa sob uma prateira e peguei o que tinha lá dentro, conchas. Isso na orla da uma boa grana. Saio da sala de visita e vou em direção à cozinha, onde me deparo com uma garota com uma barra de ferro na mão pronta para acertar um dos meus parceiros na cabeça. Não penso duas vezes e a agarro por trás, tapando sua boca e a puxando para dentro de uma armário que tinha ali.
Seus gritos logo cessam quando vê que não adiantaria de nada. Solto sua cintura e ligo o interruptor. Quando a luz se fez presente, eu finalmente pude ver quem estava na minha frente. Fiquei em choque ao vê-la ali e ela também parecia surpresa ao me ver.
⏤ Você? ⏤ pergunta. ⏤ O que você pensa que está fazendo?
⏤ Não está claro, estou roubando. ⏤ ela tenta manter distância, mas não consegue. Seu olhar parece perdido tentando assimilar tudo. ⏤ O que foi você parece decepcionada.
⏤ Incrédula na verdade, não te vejo há três dias e, por acaso, encontro-o roubando a casa da minha família.
⏤ Não era sim que planejava o nosso reecontro, princesa. ⏤ sorrio. ⏤ Princesa, faz todo sentido agora. Você é rica.
⏤ Eu não sou rica, meus pais são ricos.
⏤ Isso te faz uma herdeira, logo você é tão rica quanto.
⏤ Que seja, vocês tem que sair. ⏤ falou. ⏤ O alarme foi disparado e meus pais já devem estar chegando. Além disso, meu irmão já deve ter ligado para a polícia.
⏤ O que? ⏤ abro a porta do quarto e saio. Meus amigos já tinham vazado. Corro para a porta da frente e vejo um homem descer do carro e mais duas viaturas o acomphando. Volto e paro na frente dela, então digo: ⏤ Você tem que me ajudar...
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O final é semelhante ao capítulo anterior, apenas para ter encaixe com o capítulo seguinte. Vou escrever mais hoje à noite, então fiquem atentos e obrigada a cada um que está lendo e comentando.
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Fearless
FanfictionRica e com uma família presente, Lavínia teria tudo o que quer se não fosse por sua vontade louca pela liberdade que seus pais lhe privam de ter. Em um dia quando viaja para Salvador para passar a temporada de verão com parentes diatantes, a garota...