Capítulo Quatorze: Anotações

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Horário de chegada: Oito da manhã.

Fecho a agenda, me afastando da janela. A porta se abre e eu escondo a agenda nas minhas costas. Bel, a mulher responsável pela casa quando não estamos, pede licença e deixa minhas roupas lavadas na cama e se retira sem demora. Solto o ar e afasto as mãos.

Desço para o café da manhã, mas somente Rian está na mesa. Passo por ele e vou até a geladeira. Ele me acompanha com o olhar enquanto disfarça mexendo no celular. Pego a jarra de suco, coloco na pia e na ponta do pé me estico para abrir o armário e pegar o copo. Em seguida, despejo o líquido no recipiente e me viro.

Desvio o olhar para a porta e vejo meu pai virando o corredor subindo as escadas para o escritório junto do investigador Darson. Me afasto da pia, mas antes que eu possa me retirar minha mãe aparece com Valentina no colo, desejando bom dia para mim e meu irmão.

⏤ Bom dia, mãe. ⏤ me aproximo da mesa. ⏤ O que o investigador Darson está fazendo aqui?

⏤ Ele deve estar reclamando para o nosso pai como é chato ficar supervisionando uma pré adolescente que dorme com criminosos. ⏤ dispara Rian,  rude.

⏤ Rian! ⏤ minha mãe chama sua atenção. ⏤ Isso é coisa para se falar para sua irmã, ainda mais com a Valentina por perto? Não foi essa a educação que eu te dei.

⏤ Está tudo bem, mãe. As ofensas dele não me comovem. ⏤ falo.

O investigador Darson deixa o escritório minutos depois. Saio da cozinha e corro até a porta principal. Ele desce as escadarias e eu vou logo atrás.

⏤ Investigador Darson. Oi, como vai? ⏤ coloco minhas duas mãos no bolso de trás da minha calça jeans.

⏤ Ah Lavínia, eu vou bem. E você?

⏤ Um pouco entediada de ficar presa.
⏤ rio, sem graça. ⏤ Então, o que o senhor queria com o meu pai?

⏤ Os assuntos que trato com o seu pai é confidencial, mocinha. ⏤ diz. ⏤ Por que? ⏤ ele me questiona como se eu estivesse aprontando algo.

⏤ Curiosidade. Meu pai não te contou que sou um garota muito curiosa? ⏤ ele não responde.

⏤ O que você quer, hein? ⏤ pergunta em um tom de acusação.

⏤ Considerando que voltei para casa, você não precisa mais manter seus homens aqui. ⏤ falo e ele cruza os braços.

⏤ Os meus homens e eu somos pagos pelo seu pai, ou seja, não sairemos até que ele nos diga que não precisa mais de nós. ⏤ ele ajeita o chapéu acenando. ⏤ Tenha um bom dia, Lavínia.

Merda, tirar esses policiais todos daqui vai ser mais difícil do que pensei. Olho para os lados e vejo mais deles rondando a casa. Respiro fundo e volto para dentro.

Estou sentada no sofá com minha agenda em mãos. Comecei a marcar os horários de saída e entrada dos guardas ontem à noite e, hoje, já tenho uma folha completa cheia de anotações.

Descobri por Valentina em uma conversa sobre não estarmos mais suportando esse tanto de gente em casa que, depois que os guardas noturnos encerraram o expediente, vinte minutos depois, apareceram outros para ocupar a posição deles. Perguntei a ela como ela sabia daquilo e ela me disse que, em um de seus furtos à geladeira, ela percebeu a movimentação.

⏤ O que você tanto anota aí? ⏤ meu pai aparece por trás e eu fecho a agenda depressa. ⏤ Nossa, calma.

⏤ Você leu alguma coisa? ⏤ pergunto.

⏤ Não, eu juro.

⏤ É sério, pai

⏤ Eu tô falando sério, ora. Por que o medo? ⏤ começo a gaguejar pensando em uma desculpa.

⏤ É o meu diário, algo pessoal meu.

⏤ Desde quando escreve em diários?

⏤ Desde agora. ⏤ me levanto. ⏤ Já está na hora de irmos? ⏤ ele olha o relógio.

⏤ Ainda bem que você falou, estamos atrasados. ⏤ meu pai abaixa o braço. ⏤ Gael. ⏤ ele grita e o guarda aparece. ⏤ Estamos de saída. Tome conta de tudo por aqui.

⏤ Pode deixar. ⏤ ele me olha.

⏤ Vamos.

⏤ Espera vou guardar o diário. ⏤ subo as escadas correndo e guardo a agenda em um local seguro. Volto para o andar de baixo e vejo quando saio pela porta o motorista da família abrir a porta do carro para meu pai. Corro para que ele não feche.

O carro começa a se movimentar. Olho três vezes o percurso inteiro até chegarmos ao hospital para trás, percebendo que as 'nossas sombras' nos seguia, meu pai estava no celular distraído para perceber a minha inquietação.

Aquilo tinha que acabar.

Chegamos ao consultório do doutor que me operou para que pudesse retirar os pontos do ferimento que a bala causou. Não era para eu ter ido embora ontem. O médico ofereceu para que eu ficasse até o dia de hoje para que meus pais não tivessem que perder tempo fazendo uma outra viagem até aqui, mas meus eles optaram por me levar, uma vez que não gostavam de hospitais e da energia que ele trazia.

⏤ Como você está se sentindo Lavinia? ⏤ pergunta o médico medindo minha pressão enquanto estou sentada na maca hospitalar.

⏤ Viva. ⏤ brinco e ele e meu pai riem.

⏤ Isso é bom. ⏤ ele brinca de volta. ⏤ Agora vamos fazer a retirada dos pontos, ok? ⏤ assinto.

Não senti dor alguma.

Na volta para casa, meu pai veio conversando comigo. Quando chegamos subi para o quarto e me olhei no espelho observando a cicatriz. Imagine a cara das minhas amigas quando souberem que levei um tiro.

Me afasto do espelho e sento na cama. Imagina a cara de Bala se ele soubesse que sobrevivi.

Sorrio lembrando daquele trombadinho, mas meu sorriso logo murcha.

Por que ele ainda não veio atrás de mim? Será que aconteceu algo, ou será que eu não significava tanto para ele assim?

Galera, prometo que, nos próximos capítulos, Bala e os Capitães de Areia vão aparecer. Mas antes Lavínia precisa ficar um pouco afastada deles para a história ter nexo, ok?

A história tá fazendo sentindo para vocês? Meu maior medo é me perder nas minhas ideiaskkkj

FearlessOnde histórias criam vida. Descubra agora