Capítulo III

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Absorto nos meus pensamentos, percorri toda a minha história.
Órfão de pai e mãe, cresci num orfanato e desse lugar só tenho boas recordações.

Senti-me amado por aquelas pessoas que tomavam conta de nós.  Nunca fui uma criança rebelde.  Era alegre, meigo e sempre pronto para ajudar uma ou outra criança que necessitasse mais que eu.

Não tínhamos luxos, mas tínhamos cama, mesa e educação.
Estudei muito e quando optei pela universidade também tive muito apoio.  Sou grato e até hoje visito essa instituição e ajudo no que me é possível.

Estava nestes pensamentos de olhos postos nas pessoas à minha frente quando a avisto.

Sentada na areia estava uma jovem de cabelos compridos.  Estava de costas para mim, mas podia ver que tinha a cabeça apoiada nos joelhos.

Não a conhecia, mas qualquer coisa me impeliu para lá.  Levantei-me e caminhei até ela.  Sentei-me a seu lado e vi que chorava.

- Oi!

Olhou na minha direcção e que coincidência!  Era a moça que encontrara 2 vezes no hospital.

- Tu aqui também?

- É verdade.  Porque choras?

- Hoje é de alívio.  A minha mãe foi operada e felizmente correu bem.

- Então há que festejar.

- E tu?  Pela tua cara também não estás muito bem.

- Fui despedido.  Neste momento sou mais um dos desempregados deste País.

- E fazias o quê no hospital?

- Sou médico, mas não  falemos de mim.  O que tinha a tua mãe?

- Precisou operar o coração.

- Haha!  Vai recuperar rápido.   O hospital tem os melhores profissionais.

- Eu quis agradecer ao cirurgião, mas ainda não o encontrei.  Parece que foge de mim.
Quando o procuro ou está a operar ou não se encontra no hospital.  O doutor Rodolffo deve ter muito trabalho.

- Tem sim.  Conheço bem o meu colega Rodolffo d'Orey.

- Eu chamo-me Juliette.   Sou professora.

- Muito gosto Pedro.

Não é de meu feitio mentir às pessoas, mas não  me podia identificar e dizer-lhe que fui despedido por ter operado a mãe à revelia das normas do hospital.

Provavelmente nunca mais a verei, então que mal fará esta mentirinha.

Convidei-a para almoçar ali mesmo na praia e ficamos boa parte da tarde a conversar, não  sobre nós, mas sobre as nossas profissões que amávamos igualmente.

- Pedro, eu preciso ir.  Vou visitar a minha mãe agora à tarde.  Obrigada por este dia.  Gostei muito de conversar contigo e espero que logo possas voltar a trabalhar.

- Eu deixo-te lá.  Vou para casa e fica em caminho. 

Rodolffo deixou Juliette e regressou a casa.  Tomou um banho e deitado na sua cama fazia pesquisas de hospitais no Reino Unido.  Estava decidido.   O próximo passo era emigrar. 

Não segurei meu beija-florOnde histórias criam vida. Descubra agora