Absorto nos meus pensamentos, percorri toda a minha história.
Órfão de pai e mãe, cresci num orfanato e desse lugar só tenho boas recordações.Senti-me amado por aquelas pessoas que tomavam conta de nós. Nunca fui uma criança rebelde. Era alegre, meigo e sempre pronto para ajudar uma ou outra criança que necessitasse mais que eu.
Não tínhamos luxos, mas tínhamos cama, mesa e educação.
Estudei muito e quando optei pela universidade também tive muito apoio. Sou grato e até hoje visito essa instituição e ajudo no que me é possível.Estava nestes pensamentos de olhos postos nas pessoas à minha frente quando a avisto.
Sentada na areia estava uma jovem de cabelos compridos. Estava de costas para mim, mas podia ver que tinha a cabeça apoiada nos joelhos.
Não a conhecia, mas qualquer coisa me impeliu para lá. Levantei-me e caminhei até ela. Sentei-me a seu lado e vi que chorava.
- Oi!
Olhou na minha direcção e que coincidência! Era a moça que encontrara 2 vezes no hospital.
- Tu aqui também?
- É verdade. Porque choras?
- Hoje é de alívio. A minha mãe foi operada e felizmente correu bem.
- Então há que festejar.
- E tu? Pela tua cara também não estás muito bem.
- Fui despedido. Neste momento sou mais um dos desempregados deste País.
- E fazias o quê no hospital?
- Sou médico, mas não falemos de mim. O que tinha a tua mãe?
- Precisou operar o coração.
- Haha! Vai recuperar rápido. O hospital tem os melhores profissionais.
- Eu quis agradecer ao cirurgião, mas ainda não o encontrei. Parece que foge de mim.
Quando o procuro ou está a operar ou não se encontra no hospital. O doutor Rodolffo deve ter muito trabalho.- Tem sim. Conheço bem o meu colega Rodolffo d'Orey.
- Eu chamo-me Juliette. Sou professora.
- Muito gosto Pedro.
Não é de meu feitio mentir às pessoas, mas não me podia identificar e dizer-lhe que fui despedido por ter operado a mãe à revelia das normas do hospital.
Provavelmente nunca mais a verei, então que mal fará esta mentirinha.
Convidei-a para almoçar ali mesmo na praia e ficamos boa parte da tarde a conversar, não sobre nós, mas sobre as nossas profissões que amávamos igualmente.
- Pedro, eu preciso ir. Vou visitar a minha mãe agora à tarde. Obrigada por este dia. Gostei muito de conversar contigo e espero que logo possas voltar a trabalhar.
- Eu deixo-te lá. Vou para casa e fica em caminho.
Rodolffo deixou Juliette e regressou a casa. Tomou um banho e deitado na sua cama fazia pesquisas de hospitais no Reino Unido. Estava decidido. O próximo passo era emigrar.