Era um sábado à tarde. Eu e Dianna tínhamos ido comprar os uniformes na loja indicada por Dina.
Foi então que eu decidi passar na casa dela.Estacionei o carro do outro lado da rua e fiquei ali um pouco. Dianna estava entretida com um dos seus jogos e nem prestou atenção.
Ouvi vozes e vinham da casa dela. A porta abriu-se e uma criança saiu a correr seguida de um homem.
- Guilherme não corras, espera. - gritava o homem.
Ouvi o som de um carro em alta velocidade e apenas tive tempo de sair do carro e segurar a criança evitando que fosse atropelado.
- Eu e a mamãe não te proibidos já de correr?
- Rodolffo segurava a criança que tremia nos seus braços.
- Já passou, mas não corras de novo.
Juliette saiu naquele momento. Tinha ouvido a derrapagem do carro e percebeu tudo quando se aproximou.
- Que aconteceu? Que fazes aqui, Rodolffo?
- Estava de passagem. Desde quando está rua se tornou perigosa?
- É. O sossego de outrora já se foi, como outras coisas. Filho, a mamãe quantas vezes já falou. Não atravessar a rua sózinho.
- Desculpa mamãe. Obrigado senhor.
- Obrigada Rodolffo. Vasco, podes trazer o carro?
- Vou já. Obrigado senhor por proteger esta pestinha.
- Eu não sou pestinha, sou Guilherme.
- Papai, vamos embora? Quero ir na sorveteria. - falou Dianna colocando a cabeça fora da janela.
- Nós também vamos, não vamos mamãe?
- Não sei se o Gui merece depois do susto que nos pregou.
- Eu juro que não faço mais, mamãe. Aquela é tua filha?
- Sim. É a Dianna. Queres ir lá falar com ela?
- Estamos atrasados Rodolffo. O Vasco já vai chegar com o carro.
- Deixa eles conhecerem-se Juliette. Não transfiras para eles a raiva que tens de mim.
- Não tenho raiva. Só me és indiferente tal como eu fui para ti.
- Podemos conversar um dia sobre as nossas vidas.
- Não preciso. A tua vida pouco me interessa. Infelizmente vou ter que suportar ver-te por causa da tua filha. Talvez se a mãe dela for levá-la à escola ...
- A mãe dela morreu. Só me tem a mim.
- Lamento. Lamento mesmo, sem deboche.
- Se vamos à mesma sorveteria podemos conversar mais um pouco?
- Melhor não. O Vasco chegou. Vem Guilherme. Obrigada mais uma vez
por salvares o meu filho.Rodolffo não respondeu. Apenas viu-a entrar no carro e partirem.
A vontade era conduzir para casa, mas tinha prometido à filha. Quando entraram na sorveteria já lá estava Juliette, Guilherme e Vasco.
- É ele não é, Juliette?
- É. A ti não posso mentir.
- E o que sentiste?
- Vontade de o esganar. Por outro lado queria que tudo tivesse sido diferente e que tivesse restado amizade.
- Está casado e tem uma filha?
- Parece que é viúvo. A mãe da menina morreu.
- Chama-o para esta mesa. Vocês têm muito para esclarecer
- Eu não lhe devo qualquer explicação. Quero-o longe de mim, embora seja difícil porque a filha vai ser minha aluna.
- Por isso mesmo é que devem conversar.
Juliette foi ao balcão pedir os sorvetes e voltou para a mesa. Vasco inventou um assunto urgente para resolver e deveria levar o carro.
Rodolffo esperou um pouco e depois foi com a filha e sentou-se na mesa dela.
- Qual é a tua ideia?
- Conversar. Só conversar.