Capítulo XIV

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Era um sábado à tarde.  Eu e Dianna tínhamos ido comprar os uniformes na loja indicada por Dina.
Foi então que eu decidi passar na casa dela.

Estacionei o carro do outro lado da rua e fiquei ali um pouco.  Dianna estava entretida com um dos seus jogos e nem prestou atenção.

Ouvi vozes e vinham da casa dela.  A porta abriu-se e uma criança saiu a correr seguida de um homem. 

- Guilherme não corras, espera. - gritava o homem.

Ouvi o som de um carro em alta velocidade e apenas tive tempo de sair do carro e segurar a criança evitando que fosse atropelado.

- Eu e a mamãe não te proibidos já de correr?

- Rodolffo segurava a criança que tremia nos seus braços.

- Já passou, mas não corras de novo.

Juliette saiu naquele momento.  Tinha ouvido a derrapagem do carro e percebeu tudo quando se aproximou.

- Que aconteceu?  Que fazes aqui, Rodolffo?

- Estava de passagem.  Desde quando está rua se tornou perigosa?

- É.  O sossego de outrora já se foi, como outras coisas.  Filho, a mamãe quantas vezes já falou.  Não atravessar a rua sózinho.

- Desculpa mamãe.   Obrigado senhor.

- Obrigada Rodolffo.   Vasco, podes trazer o carro?

- Vou já.  Obrigado senhor por proteger esta pestinha.

- Eu não sou pestinha, sou Guilherme.

- Papai, vamos embora?  Quero ir na sorveteria. - falou Dianna colocando a cabeça fora da janela.

- Nós também vamos, não vamos mamãe?

- Não sei se o Gui merece depois do susto que nos pregou.

- Eu juro que não faço mais, mamãe.   Aquela é tua filha?

- Sim.  É  a Dianna.  Queres ir lá falar com ela?

- Estamos atrasados Rodolffo.   O Vasco já vai chegar com o carro.

- Deixa eles conhecerem-se Juliette.  Não transfiras para eles a raiva que tens de mim.

- Não tenho raiva.  Só me és indiferente tal como eu fui para ti.

- Podemos conversar um dia sobre as nossas vidas.

- Não preciso.  A tua vida pouco me interessa.  Infelizmente vou ter que suportar ver-te por causa da tua filha. Talvez se a mãe dela for levá-la à escola ...

- A mãe dela morreu.  Só me tem a mim.

- Lamento.  Lamento mesmo, sem deboche.

- Se vamos à mesma sorveteria podemos conversar mais um pouco?

- Melhor não.   O Vasco chegou.  Vem Guilherme.   Obrigada mais uma vez
por salvares o meu filho.

Rodolffo não respondeu.  Apenas viu-a entrar no carro e partirem.

A vontade era conduzir para casa, mas tinha prometido à filha.  Quando entraram na sorveteria já lá estava Juliette, Guilherme e Vasco.

- É ele não é, Juliette?

- É.  A ti não  posso mentir.

- E o que sentiste?

- Vontade de o esganar.  Por outro lado queria que tudo tivesse sido diferente e que tivesse restado amizade.

- Está casado e tem uma filha?

- Parece que é viúvo.  A mãe da menina morreu.

- Chama-o para esta mesa.  Vocês têm muito para esclarecer

- Eu não lhe devo qualquer explicação.   Quero-o longe de mim, embora seja difícil porque a filha vai ser minha aluna.

- Por isso mesmo é que devem conversar.

Juliette foi ao balcão pedir os sorvetes e voltou para a mesa.  Vasco inventou um assunto urgente para resolver e deveria levar o carro.

Rodolffo esperou um pouco e depois foi com a filha e sentou-se na mesa dela.

- Qual é a tua ideia?

- Conversar. Só conversar.

Não segurei meu beija-florOnde histórias criam vida. Descubra agora