Capítulo II

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A cirurgia durou cerca de 4 horas.  Juliette estava tão angustiada que por momentos passou mal.

Uma enfermeira percebeu pela palidez, do seu rosto e veio ter com ela.

- Venha comigo.  Precisa ser vista por um médico.

- Mas eu quero estar aqui quando a cirurgia terminar.

- Deve estar bem.  Doente não ajuda em nada.

- Só preciso comer alguma coisa.  Estou há muitas horas sem comer.

- Então vou acompanhá-la à cafetaria.  Faça uma refeição nas calmas.  Mesmo que a cirurgia termine, não vai poder estar com ela.  Hoje vai vê-la apenas pela janela.

Enquanto Juliette estava a comer a cirurgia terminou.  Rodolffo veio informar a família.   Seu irmão José havia chegado entretanto e foi ele quem recebeu do médico a notícia de que tinha sido um sucesso.

- Já não corre perigo  doutor?

- Temos que aguardar as próximas horas, mas dona Ercília está bem e em boas mãos.

- Obrigado doutor.

Juliette regressou entretanto.

- Zé!! Eu não esperava ver-te aqui.

- Oi Ju.  Eu tinha que vir.  Apesar das nossas desavenças, ela ainda é minha mãe.
O médico disse que correu bem e ela vai recuperar logo.

- O médico já veio?

- Sim.  Saiu agora mesmo.

- Que pena.  Queria ter-lhe agradecido.

- Enfermeira, podemos vê-la?

- Só pela janela.  Quando ela sair da UTI vocês poderão ficar com ela.

No dia seguinte no gabinete do director, Rodolffo entrava em choque com o mesmo.

- Tem noção de que decidiu contrariar as normas deste hospital?

- Tenho, mas não podia ser diferente.  Eu jurei salvar vidas.  Em nenhum momento no nosso juramento menciona que apenas os ricos merecem ser salvos.

- Isto é um hospital privado.  A paciente devia saber.  Eu dei ordem para que  não se realizasse a cirurgia.

- Pois foi doutor. Ordem essa que eu achei por bem não acatar.  Estou pronto para receber as consequências do meu acto.

- Vou abrir um inquérito.   Está suspenso até chegarmos a alguma conclusão.

- A única conclusão plausível é de que a paciente precisava ser operada.  Eu sei que isto vai terminar em expulsão, por isso doutor, vamos evitar essa treta de inquérito e agilizar logo a minha saída.

- Temo que não possa fazer nada por si.  As normas do hospital são  essas.

- Poder até podia, mas por vezes a ganância do dinheiro é maior que a ética.

-  Está a ofender-me e isso não admito.

- Dizer as verdades agora é ofender?
Eu sou um dos melhores profissionais deste hospital e estou a ser dispensado porque não aceitei deixar morrer um paciente que. não tinha condições de pagar uma cirurgia.

- Lamento.  Não fui eu quem fez as regras.

- Que se lixem as regras.  Eu estou tranquilo.

- Espero que encontre logo emprego.

- Com certeza.  E voltarei.  Eu garanto que voltarei numa posição diferente da que tenho hoje.  Passe bem doutor.

Rodolfgo virou costas e caminhou em direcção ao seu gabibete.  Arrumou as suas poucas coisas, despediu-se de alguns elementos da equipe e foi embora.

Não foi para casa.  Dirigiu para a costa e numa esplanada de praia pediu um café e ali ficou sentindo a brisa e apanhando sol.


Não segurei meu beija-florOnde histórias criam vida. Descubra agora