A cirurgia durou cerca de 4 horas. Juliette estava tão angustiada que por momentos passou mal.
Uma enfermeira percebeu pela palidez, do seu rosto e veio ter com ela.
- Venha comigo. Precisa ser vista por um médico.
- Mas eu quero estar aqui quando a cirurgia terminar.
- Deve estar bem. Doente não ajuda em nada.
- Só preciso comer alguma coisa. Estou há muitas horas sem comer.
- Então vou acompanhá-la à cafetaria. Faça uma refeição nas calmas. Mesmo que a cirurgia termine, não vai poder estar com ela. Hoje vai vê-la apenas pela janela.
Enquanto Juliette estava a comer a cirurgia terminou. Rodolffo veio informar a família. Seu irmão José havia chegado entretanto e foi ele quem recebeu do médico a notícia de que tinha sido um sucesso.
- Já não corre perigo doutor?
- Temos que aguardar as próximas horas, mas dona Ercília está bem e em boas mãos.
- Obrigado doutor.
Juliette regressou entretanto.
- Zé!! Eu não esperava ver-te aqui.
- Oi Ju. Eu tinha que vir. Apesar das nossas desavenças, ela ainda é minha mãe.
O médico disse que correu bem e ela vai recuperar logo.- O médico já veio?
- Sim. Saiu agora mesmo.
- Que pena. Queria ter-lhe agradecido.
- Enfermeira, podemos vê-la?
- Só pela janela. Quando ela sair da UTI vocês poderão ficar com ela.
No dia seguinte no gabinete do director, Rodolffo entrava em choque com o mesmo.
- Tem noção de que decidiu contrariar as normas deste hospital?
- Tenho, mas não podia ser diferente. Eu jurei salvar vidas. Em nenhum momento no nosso juramento menciona que apenas os ricos merecem ser salvos.
- Isto é um hospital privado. A paciente devia saber. Eu dei ordem para que não se realizasse a cirurgia.
- Pois foi doutor. Ordem essa que eu achei por bem não acatar. Estou pronto para receber as consequências do meu acto.
- Vou abrir um inquérito. Está suspenso até chegarmos a alguma conclusão.
- A única conclusão plausível é de que a paciente precisava ser operada. Eu sei que isto vai terminar em expulsão, por isso doutor, vamos evitar essa treta de inquérito e agilizar logo a minha saída.
- Temo que não possa fazer nada por si. As normas do hospital são essas.
- Poder até podia, mas por vezes a ganância do dinheiro é maior que a ética.
- Está a ofender-me e isso não admito.
- Dizer as verdades agora é ofender?
Eu sou um dos melhores profissionais deste hospital e estou a ser dispensado porque não aceitei deixar morrer um paciente que. não tinha condições de pagar uma cirurgia.- Lamento. Não fui eu quem fez as regras.
- Que se lixem as regras. Eu estou tranquilo.
- Espero que encontre logo emprego.
- Com certeza. E voltarei. Eu garanto que voltarei numa posição diferente da que tenho hoje. Passe bem doutor.
Rodolfgo virou costas e caminhou em direcção ao seu gabibete. Arrumou as suas poucas coisas, despediu-se de alguns elementos da equipe e foi embora.
Não foi para casa. Dirigiu para a costa e numa esplanada de praia pediu um café e ali ficou sentindo a brisa e apanhando sol.