Eu estava numa correria danada. Minha mãe finalmente ia ser operada. Depois de muita luta consegui um cirurgião disposto a fazer a operação. Eu não tinha o dinheiro pedido.
Vivia apenas do meu salário de professora e quando surgiu o problema de saúde de minha mãe entrei em desespero.Terminei mais uma aula e corri para o hospital. Tive noção do perigo da minha condução, mas eu queria chegar a tempo de dar-lhe um beijo e dizer que estava tudo bem.
- Olha por onde anda, sua maluca!
- Maluco é você. Porque parou de repente? Só para conseguir essa vaga de estacionamento?
- Que por sinal é minha. A jovem está no lado errado. Aqui é só para funcionários do hospital.
- Eu quero lá saber. Estou com pressa. Minha mãe vai ser operada e eu preciso vê-la. Aparece cada estrupício na frente da gente.
- Tem vaga um pouco mais à frente, então estacione lá.
Juliette foi para o local indicado. Estacionou, pegou o elevador e logo estava junto de dona Ercília.
- Mamãe, que bom que cheguei a horas. Vai tudo correr bem.
- Vai sim minha querida, mas se não for como desejamos saiba que eu te amo muito.
- Também te amo mamãe.
Juliette beijou a mãe que logo foi levada por dois enfermeiros.
Ercília estava internada já fazia um mês e aguardava que Juliette conseguisse o dinheiro para a cirurgia ao coração. Ela bateu a diversas portas, mas todos negaram ajuda. Até um crédito bancário foi negado por causa do salário baixo.
Ela vivia desesperada sem conseguir solucionar o caso até que recebeu uma chamada do hospital informando-a de que alguém ia operar sua mãe a custo zero.
Pensou tratar-se de um trote e correu para o hospital. Era verdade. Pediu para falar com o médico, mas este não estava disponível nem se encontrava nas instalações.
Hoje era o dia D, e quando sua mãe foi levada, Juliette ficou na sala de espera envolta numa angústia que fazia doer muito o peito.
- Vai demorar menina. Se quiser sair um bocado.
- Onde é a capela do hospital? Eu vou ficar lá um pouco.
Na entrada da capela cruzou-se com o homem do estacionamento. Ele vinha a sair e ela disse:
- Perdoe-me pelo que aconteceu mais cedo. Estou muito nervosa e quando isso acontece digo coisas sem pensar.
- Está tudo bem. Entre aí e reze. Boa sorte com a cirurgia de sua mãe.
- Obrigada.
Juliette entrou na capela e o dr. Rodolffo seguiu para o bloco operatório. Este era o seu ritual. Antes de cada cirurgia era norma uma passagem na capela. Ali conseguia a serenidade necessária para manejar o bisturi.
- A paciente está pronta? - perguntou ele à equipa.
- Sim doutor. Só estávamos aguardando o senhor.
- Vamos lá.
- Doutor, sabe as consequências desta cirurgia, não sabe?
- Sei, mas no meu juramento eu prometi salvar vidas, não enriquecer. O dinheiro é bom e necessário, mas quando a vida de uma pessoa está em causa eu fico do lado dos pobres. Vamos lá dar qualidade de vida à senhorinha.