Capítulo I

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Eu estava numa correria danada.  Minha mãe finalmente ia ser operada.  Depois de muita luta consegui um cirurgião disposto a fazer a operação.   Eu não tinha o dinheiro pedido.
Vivia apenas do meu salário de professora e quando surgiu o problema de saúde de minha mãe entrei em desespero.

Terminei mais uma aula e corri para o hospital.  Tive noção do perigo da minha condução,  mas eu queria chegar a tempo de dar-lhe um beijo e dizer que estava tudo bem.

- Olha por onde anda, sua maluca!

- Maluco é você.  Porque parou de repente?  Só para conseguir essa vaga de estacionamento?

- Que por sinal é minha.  A jovem está no lado errado.  Aqui é só para funcionários do hospital.

- Eu quero lá saber.  Estou com pressa.  Minha mãe vai ser operada e eu preciso vê-la.  Aparece cada estrupício na frente da gente.

- Tem vaga um pouco mais à frente, então estacione lá.

Juliette foi para o local indicado.  Estacionou, pegou o elevador e logo estava junto de dona Ercília.

- Mamãe,  que bom que cheguei a horas.  Vai tudo correr bem.

- Vai sim minha querida, mas se não for como desejamos saiba que eu te amo muito.

- Também te amo mamãe.

Juliette beijou a mãe que logo foi levada por dois enfermeiros. 

Ercília estava internada já fazia um mês e aguardava que Juliette conseguisse o dinheiro para a cirurgia ao coração.   Ela bateu a diversas portas, mas todos negaram ajuda.  Até um crédito bancário foi negado por causa do salário baixo.

Ela vivia desesperada sem conseguir solucionar o caso até que recebeu uma chamada do hospital informando-a de que alguém ia operar sua mãe a custo zero.

Pensou tratar-se de um trote e correu para o hospital.  Era verdade.  Pediu para falar com o médico, mas este não estava disponível nem se encontrava nas instalações.

Hoje era o dia D, e quando sua mãe foi levada, Juliette ficou na sala de espera envolta numa angústia que fazia doer muito o peito.

- Vai demorar menina.  Se quiser sair um bocado.

- Onde é a capela do hospital?  Eu vou ficar lá um pouco.

Na entrada da capela cruzou-se com o homem do estacionamento.  Ele vinha a sair e ela disse:

- Perdoe-me pelo que aconteceu mais cedo.  Estou muito nervosa e quando isso acontece digo coisas sem pensar.

- Está tudo bem.  Entre aí e reze.  Boa sorte com a cirurgia de sua mãe.

- Obrigada.

Juliette entrou na capela e o dr. Rodolffo seguiu para o bloco operatório.  Este era o seu ritual.  Antes de cada cirurgia era norma uma passagem na capela.  Ali conseguia a serenidade necessária para manejar o bisturi.

- A paciente está pronta? - perguntou ele à equipa.

- Sim doutor.  Só estávamos aguardando o senhor.

- Vamos lá.

- Doutor, sabe as consequências desta cirurgia, não sabe?

- Sei, mas no meu juramento eu prometi salvar vidas, não enriquecer.   O dinheiro é bom e necessário, mas quando a vida de uma pessoa está em causa eu fico do lado dos pobres.  Vamos lá dar qualidade de vida à senhorinha.

Não segurei meu beija-florOnde histórias criam vida. Descubra agora