Ana Flávia
Meu terceiro mês de gravidez estava começando, e enquanto eu me preocupava unicamente com a minha barriga - que finalmente começava a dar sinais de crescimento -, Gustavo se preocupava com absolutamente tudo: A empresa, a mudança e a gravidez. Sua preocupação era exagerada, como eu imaginava que seria. Mas foi só na segunda-feira depois da notícia que notei que seu comportamento superprotetor me daria mais dor de cabeça do que imaginava.
- O que está fazendo? - Ele falou, irrompendo pelo banheiro sem em momento algum pensar que talvez pudesse estar invadindo minha privacidade.
- Escovando os dentes? - Respondi, levantando até a altura de seus olhos a escova de dentes que eu segurava.
- Por que acordou tão cedo?
- Acordei na hora que sempre acordo...
- Exatamente. Acho que você deveria começar a acordar mais tarde...
Olhei-o, genuinamente confusa.
- Meu horário no trabalho não mudou...
- Ahm? Você não pode ir trabalhar! - Ele falou um pouco desesperado, como se eu tivesse acabado de anunciar que estava indo praticar bungee jumping.
- E por que não?
Mas era claro que eu já sabia a resposta. Era a resposta-padrão, motivo de tudo a partir da sexta em que Gustavo soube da notícia.
- Porque você está grávida!
- E...? - Provoquei.
- "E" que você não pode trabalhar grávida!
- Você lembra que eu já trabalhei grávida durante dois meses, né?
- Porque não sabíamos! Agora que sabemos, temos que fazer a coisa certa. Você e o bebê podem correr riscos!
- Me explique como é que eu posso correr algum risco arrumando livros em ordem alfabética?
- Tem escadas naquela porra!
Bem, era óbvio que ele estava certo quanto a esse ponto. Mas eu não era idiota.
- É claro que eu não vou subir as escadas. Vou fazer o trabalho mais leve.
- Você não vai! - Ele me cortou, já tomado pelo desespero.
- Eu vou! Para de mandar em mim!
- Não estou mandando! Estou pedindo!
Sua voz saía esganiçada, o que seria muito engraçado se não fosse assustador.
- Gustavo, pelo amor de Deus. É só no final da gravidez que o trabalho deve ser interrompido. E se isso não for o suficiente pra você, saiba que eu jamais colocaria nosso filho em risco.
Cheguei atrasada no trabalho aquela manhã, por diversos motivos. Primeiro, Gustavo insistiu para que eu levasse dois casacos, alegando que o tempo ainda estava muito frio, mesmo quando nos aproximávamos da primavera. Segundo, porque me fez tomar um café-da-manhã redobrado, dizendo que minhas energias deveriam estar a postos para o dia de trabalho. Terceiro, porque ficou insistindo em me fazer prometer, por todas as almas sagradas do universo, que eu tomaria cuidado.
Quando finalmente me deixou na biblioteca - porque, mesmo tendo que ir pelo caminho inverso ao que ele fazia todos os dias para ir ao trabalho, Gustavo se recusou a me deixar ir a pé ou de taxi -, ele parecia ainda mais temeroso.
- Vou te ligar algumas vezes durante o dia, ok?
- Contanto que "algumas vezes" seja um número normal... - Provoquei.
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De repente...Amor / Miotela
FanficGustavo é um jovem de negócios, embora não saiba nem do que tratam os contratos que assina. Ana Flavia é uma prostituta de luxo, apesar de sentir-se extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar a vida. Como havir de ser, os dois se e...