Capítulo 09

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Ana Flávia

O resto daquela manhã e o início da tarde foram tomados por Angela e Jéssica fazendo perguntas sobre os detalhes mais sórdidos do que havia acontecido entre eu e Gustavo na noite anterior.

- Pelo amor de Deus, até parece que vocês não sabem de tudo. Vocês fazem a mesma coisa todos os dias. - Falei desanimada.

- Mas nenhum cliente ficou na minha cama até o dia seguinte. - Angela falou.

- Principalmente um cliente como Gustavo Mioto. - Jéssica completou.

- Ele devia estar cansado.

- Qual é, Aninha. Um homem não dorme na cama de uma puta a não ser que esteja bastante confortável.

- Jéssica, se ele estava confortável ou não, eu não sei. Mas não deve ter sido a primeira vez que ele fez isso.

- Bom, - começou Angela - pelo menos aqui ele nunca fez isso. Com nenhuma de nós.

Senti-me subitamente de bom humor, o que tentei não relacionar ao fato de saber agora que estava, de certo modo, em um patamar diferente das outras dezenas de mulheres daquela casa.

Mesmo animada, tentei mudar de assunto. Precisava ficar sozinha.

- Bem, eu vou dar uma volta. É sábado, nada de clientes para me azucrinarem. Vou aproveitar a paisagem.

- Mas ainda está chovendo.

- Ótimo. Menos pessoas na rua para ficarem olhando pra mim.

Às cinco da tarde eu já saía da Casa de Tanya com minha bolsa-mochila no ombro, vestindo um casaco vermelho, calças jeans skinny e um par de tênis pretos.

Eu não tinha guarda-chuva, mas não precisava. Estava chuviscando e as pequenas e finas gotas não me incomodavam. Ao contrário, eram bastante agradáveis.

Constatei que as nuvens estavam pesadas e os trovões estavam cada vez mais freqüentes, então corri para não pegar o dilúvio que eu sabia que viria. Puxei o capuz do casaco para cobrir a cabeça e caminhei até o ponto de ônibus.

Queria ir ao parque do outro lado do bairro, respirar novos ares. Assim que cheguei, corri para uma das muitas mesas redondas de madeira cobertas por telhas vermelhas.

Como não ventava, consegui me proteger da chuva ali. Era um lugar calmo e, obviamente, estava vazio.

Pelo pouco das ruas e casas que consegui analisar, pude constatar que era um bairro de pessoas no mínimo bastante ricas.

Tirei meu livro, um dicionário e uma caneta da bolsa, colocando tudo em cima da mesa e sentando em um dos quatro tocos de madeira que serviam como bancos. Graças a Gustavo, tive que procurar por algum tempo a página na qual havia parado a leitura. Sentindo o cheiro e ouvindo o barulho da chuva, consegui relaxar.

Não sei por quanto tempo fiquei ali. Tudo parecia tão calmo e fácil. O lugar era lindo, a grama era bem aparada, de um verde vivo. As gotas, agora mais grossas e em maior quantidade, caíam pesadamente na superfície do enorme lago que ficava no centro do parque. Aquela atmosfera me contagiava e, naquele momento, aquele lugar era o melhor lugar do mundo para se estar.

Vi alguém correndo através da espessa cortina de chuva, se abrigando em uma das mesas cobertas que ficava do outro lado do parque. Sorri sem nenhum motivo. O homem, como pude constatar depois de alguma análise, retirava seu casaco de couro e balançava seus cabelos molhados como um cachorro que acabara de sair do banho.

Voltei meu olhar para o livro e retomei a leitura. Poucos minutos depois meu celular emitiu um som fraco e morimbundo, me avisando que a bateria tinha se esgotado.

De repente...Amor / MiotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora