Capítulo 62

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Ana Flávia

Aurora sorriu pela primeira vez no exato dia em que completou dois meses, e, é claro, por causa de Gustavo. Ele estava determinado a fazê-la entender seus argumentos sobre música, o que aparentemente a divertia.

– Então você concorda? - Ele falou animadamente, e ela sorriu outra vez.

Estávamos na casa de Wendy e Marco, e os dois pareciam completamente admirados com a cena também. Ela passava a maior parte do tempo encarando Gustavo com atenção absoluta, reparando nas caretas que ele fazia e em como mexia as mãos.

Com mais algumas semanas, ela não só sorria como tentava imitar suas expressões faciais. Gustavo se divertia muito com aquilo, e a desafiava a conseguir fazer as caras mais bobas que conseguia. A cena era adorável, mas frequentemente eu tinha que lembrá-lo de que ele acordava cedo no dia seguinte e que, por isso, o melhor a fazer depois de passar mais de três horas "conversando" com Aurora era dormir.

Aos três meses ela já sorria tanto que eu não entendia como os músculos do seu rosto não ficavam cansados. Ela fazia isso para qualquer um que resolvesse falar com ela, fosse Gustavo, eu, os avós, o pediatra ou alguém na rua. Era como se ela simplesmente adorasse todo mundo.

Além de sorrir para as pessoas, Aurora gostava de conversar com elas. Bastava alguém falar algo com ela que se iniciava um debate. Se a pessoa continuasse com seus argumentos, ela se dispunha a balbuciar e fazer sons em resposta até que estivesse cansada. Às vezes, a palavra não precisava nem ser direcionada a ela.

– Nossa filha é comunicativa, né? - Gustavo riu abertamente, observando Aurora responder ao repórter no canal de notícias da tv a cabo.

–Ela é toda a sua cara. - Argumentei.

– Mas os olhos são seus. - Ele rebateu - E vão ser os olhos mais lindos do mundo.

Aurora já era linda por si só, e essa minha opinião não tinha nada a ver com o fato de eu ser mãe dela (o que, consequentemente, me fazia achá-la linda de qualquer jeito). Minha filha era um daqueles bebês de capa de revista, aquele tipo de criança que parecia um anjo e que fazia com que os outros sorrissem inconscientemente. Mas não havia como ser diferente disso. Sendo praticamente uma xerox de Gustavo, era humanamente impossível ela não ser linda de doer.

Nossas divagações foram interrompidas por um choro estrondoso e repentino.

– Mas você acabou de mamar! - Falei surpresa, pegando-a no colo.

– "Mas eu estou com fome de novo". - Gustavo disse em uma voz fina e ridícula, falando por ela.

– Certo. Se não couber mais leite dentro de você, vomite no papai dessa vez, ok?

Embora o tempo passasse e eu estivesse até ciente disso, não foi o frio ou qualquer decoração brilhante nas ruas que me avisaram em que época do ano estávamos. A notícia do Natal chegou juntamente com hóspedes que, sem o menor aviso, resolveram fazer uma visitinha.

– Ana!

Quando Wendy me ligou perguntando se "eles" podiam me fazer uma visita, eu havia imaginado que Marco tinha saído do trabalho mais cedo e fosse acompanhá-la para dar um alô para a netinha. O que eu não imaginava era que Sabina, Pepe e um bebê muito gordo e com carinha de mau viessem junto.

– Sabina!

– Feliz Natal! - Ela falou, entrando no hall entre um pulinho e outro e me dando um abraço.

Desejei Feliz Natal de maneira mecânica, pela primeira vez fazendo as contas mentalmente e chegando à conclusão de que estávamos no dia 23 de dezembro.

De repente...Amor / MiotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora