Gustavo Mioto
Fui tomar banho na tentativa de esfriar a cabeça e melhorar minha ansiedade, mas não adiantou. Agora que ela finalmente estava ali, eu tinha muitas coisas a dizer. Sabia que simples pedidos de desculpas não seriam suficientes, talvez nunca fossem, mas eu precisava começar por algum lugar.
Mas, e se ela não acreditasse em mim? Lembrei de sua reação ao me ouvir dizer que eu me preocupava com ela, e se ela realmente achasse que aquilo era mentira, então meu problema era maior do que imaginava. Como fazê-la entender que eu me arrependi? Como fazê-la acreditar que eu estava morrendo sem ela? E se ela não quisesse ficar?
Quando dei por mim, já estava tomado por um pânico dominante. Respirei fundo algumas vezes debaixo da ducha fria, tentando organizar os pensamentos, mas não obtive muito sucesso. Tentei convencer a mim mesmo que bastava contar tudo pelo que passei sem ela, mas lembrei do que ela havia passado sem mim, e se a situação dela era realmente pior que a minha, essa não era uma forma de tentar fazer com que Ana Flávia tivesse pelo menos um pouco de pena de mim.
Saí do chuveiro mais perdido e com mais medo do que antes. Vesti um pijama novo e, ainda sem saber o que fazer, fiquei observando os carros na rua muito abaixo de mim através da parede de vidro. Talvez tenha ficado lá por muito tempo, então senti uma presença atrás de mim e me virei, sem lembrar que só podia ser ela.
A rápida surpresa fez com que eu sentisse uma repentina alegria em vê-la ali.
Ela finalmente havia tido o tempo que precisava para pensar, para encarar a situação. Agora ela estava calma, e nós ficaríamos bem, como deveria ter sido há muito tempo, não fosse minha covardia nojenta.
Lembrei que devia estar tarde, embora eu não soubesse que horas eram exatamente, mas era de se esperar que ela estivesse com fome, já que havia se alimentado pessimamente.
- Está com fome?
- Não. - Ela respondeu, me encarando diretamente nos olhos. Eu já havia desistido de resistir ao poder que eles tinham sobre mim toda vez que ela olhava para mim, então me permiti ficar ali, apenas aproveitando aquela conexão.
- Você precisa comer alguma coisa. - Disse mais para continuar falando do que qualquer outra coisa.
- Não preciso de nada.
- Eu posso preparar alguma coisa pra você.
- Por que está me tratando como a sua boneca?
Me surpeendi com seu tom de voz. Saindo um pouco do transe, comecei a notar que ela parecia hostil, então um medo sensato tomou conta de mim outra vez.
- Eu não estou... - Comecei, mas fui interrompido.
- Por que me trouxe pra cá?
- Não é óbvio? - Perguntei, ainda surpreso que ela não tivesse chegado à conclusão evidente.
- Não, não é.
Observei-a melhor e pude notar que ela tremia um pouco. Eu não queria vê-la nervosa, queria que ela se sentisse bem perto de mim. Queria que ela se sentisse confortável...
- Eu quero que você fique aqui.
- Por quê? Pra tornar a brincadeira de me ignorar mais divertida?
Ignorá-la? Era isso que ela achava que eu queria fazer? Ignorá-la? Como ela podia dizer aquilo? Era óbvio que não sabia o quão importante ela era, porque eu jamais conseguiria fazer isso. Aliás, se eu tivesse conseguido ignorá-la quando tentei, muitos problemas teriam sido evitados.
- Não!
- Então por quê?
Por que ela não entendia? Como ela podia não entender? Era algo tão fácil...
VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente...Amor / Miotela
Fiksi PenggemarGustavo é um jovem de negócios, embora não saiba nem do que tratam os contratos que assina. Ana Flavia é uma prostituta de luxo, apesar de sentir-se extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar a vida. Como havir de ser, os dois se e...