— Eu me apaixonei por ópera desde criança, por volta dos oito anos. Comecei a cantar com doze. Aos quinze, eu cheguei a um nível bom e me apresentava nos teatros de Liverpool. Mas não fazia sucesso; existiam outras vozes no centro das atenções. Minha atuação no palco era em conjunto, reservada ao coro de fundo. No entanto, o Willingham já reparava em mim. Aliás, ele não era o único. Por causa da meia-lua que eu tinha em cada olho, as pessoas comentavam. Até então, eu era conhecida pelos meus olhos, não se falava tanto no meu canto. O Willingham era muito gentil; me visitava no camarim após cada apresentação. Eu me sentia acanhada, porque aqueles que recebiam visitantes após a apresentação eram os atores principais. Ele fazia com que eu me sentisse uma principal. Meu grupo de colegas se dividia entre inveja e admiração, pois o Willingham era um homem jovem, muito rico e muito belo.
O maxilar de Kawaki se enrijeceu. Já odiava o início da história.
— Ele tinha vinte e dois anos. Me trazia flores, doces e joias. Principalmente joias. Fiquei fascinada por ele. Os olhos alaranjados da mesma cor dos imensos cabelos lisos que lembravam a juba de um leão. Eu me encantei porque o associava a uma versão da Fera, de "A Bela e a Fera". Bonito, rico e com um ar maduro... eu tinha encontrado um príncipe, eu pensava.
Por trás da boca firmemente fechada do Uzumaki, os dentes se apertavam com força.
— Ele a tocou? — Kawaki se controlou para não elevar demasiadamente a voz. — Ele se aproveitou de alguma forma de ti? Era muito nova, seria fácil ele te seduzir.
Aliviava-se por ter comprovado que sua esposa era virgem, mas imaginar que aquele sujeito podia ter roubado algum carinho...
— Não, durante as visitas, ele sempre me respeitou. Eu sempre aceitava os presentes dele, confirmando antes que eu não assumiria nenhum compromisso. Embora, se eu escolhesse um pretendente, eu o escolheria.
Ada estava sendo sincera em relação à pessoa que era na época. Lembrava-se de como se sentia naquela idade. E quais eram seus sentimentos por Juugo Willingham.
— E por que não o escolheste?
Kawaki perguntou. Devagar, afastou a mão da saia do vestido e cravou os dedos no braço da poltrona. Não queria que sua esposa sentisse a força que se apossava de seu punho. Já sua outra mão continuou firme na cintura dela.
— Porque, quando Delta soube que eu estava sendo cortejada pelo Willingham, avisou-me que, se eu aceitasse me casar com ele, eu deveria dar adeus ao ramo de ópera. Mesmo que ele prometesse que me apoiaria no meu sonho, o futuro podia mudar e ele voltar atrás com a palavra. Um homem apaixonado promete o mundo, mas depois que a fase de conquista passa... muitas mulheres se dão mal, minha irmã reforçava. Ela sabia o quanto eu queria crescer na ópera, por isso, alertou-me. Fiquei com medo. Se eu me casasse com o Willingham e ele mudasse de ideia, eu nada poderia fazer. Já estaria presa a ele. Eu era muito vaidosa e amava atenção. Queria muito mais do que ser apenas a garota com os olhos de meia-lua. Por isso... mesmo muito atraída pelo Willingham, eu tinha que deixar claro que aceitar os presentes dele não era aceitar compromisso. Mas ele não se importava; afirmava que o importante era eu gostar e usar os presentes.
Kawaki coçou a cabeça, acima da orelha, e desceu o braço, batucando o dedo velozmente contra a poltrona.
— E nossa convivência, a maior parte do tempo, era assim. Ele me assistindo no teatro, me visitando no camarim, me presenteando, conversando um pouco comigo e depois indo embora. Em outros eventos, nos encontrávamos, mas não tínhamos muito tempo de conversa. Willingham não tinha um grupo de amigos, mas era educado e gentil, e ninguém o repelia. Ele só era tímido e não tinha muito assunto com os outros. Eu me sentia lisonjeada por ele manter o interesse em mim, mesmo eu recusando me comprometer. Então... com dezessete anos, eu já pretendia me despedir da ópera, já que não me destacava, e enfim aceitaria me casar com Willingham. E também, era algo que meus pais queriam, pois quando descobriram que alguém do nível do Willingham queria a minha mão, até torciam para eu não crescer no teatro.
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Que eu alcance o seu coração
RomanceAda Hanazawa, inglesa, teve um sonho interrompido, por causa de uma tragédia. Ela viveu trancafiada dentro de casa, sem se importar com sua beleza se esvaindo. Kawaki, irlandês, filho mais velho do dono de uma imensa plantação de batata. Quase trint...