CAPÍTULO I - Reencontro

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Point Of View – Camila

Sobrevivi ao terceiro dia pós-Lauren, e ao primeiro dia no emprego. Foi uma distração bem-vinda. O tempo voou numa névoa de rostos novos, trabalho a fazer e a presença da Sra. Kristen Stewart. A Sra. Kristen Stewart... ela sorri para mim, os olhos esverdeados cintilantes, ao se recostar contra minha mesa.

— Bom trabalho, Camila. Acho que vamos formar um belo time.

De alguma forma, dou um jeito de curvar os lábios para cima num arremedo de sorriso.

— Acho que já vou indo, se estiver tudo bem para a senhora — murmuro.

— Claro, são cinco e meia. Vejo você amanhã.

— Boa noite, Kristen.

— Boa noite, Camila.

Pego minha bolsa, enfio-me no casaco e caminho até a porta. Lá fora, no ar do início de noite de Seattle, respiro fundo. Ele não chega nem perto de encher o vazio em meu peito, um vazio que está ali desde a manhã de sábado, um lembrete oco e doloroso de minha perda. Caminho de cabeça baixa em direção ao ponto de ônibus, olhando para os meus pés e contemplando a vida sem o meu amado Wanda, meu fusca antigo... ou sem o Audi. Imediatamente bloqueio esses pensamentos.

Não. Não pense nela.

É claro que tenho dinheiro para comprar um carro, um belo carro novo. Suspeito de que ela tenha sido generosa demais no pagamento, e a ideia deixa um gosto amargo em minha boca, mas eu a afasto e tento manter a cabeça tão vazia e entorpecida quanto possível. Não posso pensar nela. Não quero começar a chorar de novo, não no meio da rua.

O apartamento está vazio. Sinto saudade de Dinah, e a imagino deitada numa praia em Barbados, se refrescando com um coquetel. Ligo a tevê de tela plana para que o ruído preencha o vazio e proporcione uma sensação de companhia, mas não a escuto nem olho para ela. Sento-me e encaro a parede de tijolos com um olhar vazio. Estou apática. Não sinto nada além de dor. Por quanto tempo precisarei suportar isso?

A campainha me acorda da prostração, e meu coração dispara. Quem será? Atendo o interfone.

— Entrega para a Srta. Cabello — responde uma voz entediada e distante, e a decepção me atinge em cheio.

Entorpecida, desço até o térreo e vejo um rapaz encostado na porta da frente, mascando ruidosamente um chiclete e segurando uma grande caixa de papelão. Assino para receber o pacote e subo com ela. A caixa é enorme e surpreendentemente leve. Dentro dela, duas dúzias de rosas brancas de caule comprido e um cartão.

Parabéns pelo primeiro dia no trabalho.

Espero que tenha corrido tudo bem.

E obrigada pelo planador. Foi muito gentil de sua parte.

Reservei um lugar especial para ele em minha mesa.

Lauren

Encaro o cartão digitado, o buraco em meu peito se expandindo. Sem dúvida foi enviado por uma assistente. Lauren provavelmente não tem nada a ver com isso. É doloroso demais pensar no assunto. Examino as rosas, são lindas, não consigo jogá-las no lixo. Obediente, vou até a cozinha procurar um vaso.

* * *

E assim um padrão se estabelece: acordar, trabalhar, chorar, dormir. Bem, tentar dormir. Não consigo fugir dela nem em meus sonhos. Os olhos ardentes de Jauregui, o olhar perdido, os cabelos macios e brilhosos me perseguem. E a música... tanta música. Não suporto ouvir música alguma. Tenho o cuidado de evitar a todo custo. Mesmo os jingles em comerciais de tevê me deixam trêmula.

Cinquenta Tons Mais Escuros (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora