Eu observava Dick ali, ao lado de Clara e não conseguia deixar de sorrir.
Ele parecia tão à vontade, tão natural sendo esse irmão mais velho, cuidadoso e protetor. Era difícil acreditar o quanto ele tinha mudado ou talvez ele sempre tivesse sido assim e eu apenas não tinha enxergado.
Estava ficando cada vez mais claro que ele era muito mais do que eu imaginava e isso me fazia sentir algo novo, algo que talvez eu ainda não conseguisse dar nome.
Quando Clara finalmente cansou e adormeceu no sofá, Dick e eu saímos para tomar um ar no lado de fora. A noite estava tranquila, com uma leve brisa e o silêncio nos envolvia como um cobertor acolhedor, fiquei em pé ao lado dele, olhando para as luzes da cidade.
— Você tem jeito com ela, sabia? — comentei rompendo o silêncio.
Ele deu um sorriso tímido, encolhendo os ombros.
— Acho que só estou tentando fazer por ela o que eu queria que tivessem feito por mim.
As palavras dele me acertaram em cheio, fiquei pensando no que ele disse enquanto ele olhava para o céu, como se estivesse perdido em pensamentos.
— Sabe... — comecei hesitante. — Eu pensei que crescer significava... assumir tudo sozinho. Carregar as responsabilidades, não deixar ninguém ver quando as coisas pesam. — Dick me olhou, surpreso, era raro eu falar tão abertamente sobre essas coisas.
— Você não precisa fazer isso, Lorenzo. — Ele disse com a voz firme, porém suave. — Crescer não é carregar o mundo sozinho. É saber quando pedir ajuda, quando compartilhar o peso.
Essas palavras mexeram comigo, eu tinha passado tanto tempo tentando ser forte para minha mãe, para mim mesmo, que esqueci que tinha alguém ao meu lado.
— Dick... você acha que estamos prontos para... sabe... algo mais? Tipo, levar isso aqui mais a sério? — perguntei sem saber exatamente como expressar tudo que sentia, mas sabendo que ele entenderia.
Ele me olhou, com um brilho nos olhos que eu nunca tinha visto antes.
— Lorenzo, eu já me sinto comprometido com você de verdade e se a gente está pensando no futuro... eu quero estar lá, sabe? Com você. — Ele respirou fundo depois de um momento. — olha pra gente, já moramos juntos.
Meu coração acelerou, mas não era medo, era uma sensação de paz. Não precisávamos resolver tudo de uma vez, mas só saber que estávamos caminhando na mesma direção, com os mesmos objetivos, já era suficiente, sorri e segurei a mão dele, apertando levemente.
— Então... vamos fazer isso juntos. — Senti o peso de tantas dúvidas e preocupações diminuírem um pouco. Talvez crescer fosse exatamente isso, entender que nessa altura do campeonato que eu não estava mais sozinho, me dei conta de que já tínhamos dado esse passo adiante.
[...]
Clara e eu começamos um bom tempo juntos, era engraçado e ao mesmo tempo adorável ouvir-me chamar de "tio Lorenzo." Brincamos com Lara e para ser sincero, não me lembro da última vez que corri tanto e dei tanta risada.
Ela é a cara do Dick: mesma pele morena, cachinhos alongados e até uma marca de nascença idêntica no braço direito.
Separei alguns materiais de colorir e alguns livros que eu guardei há tempos, esperando o momento certo para colorir...Acabo que faço uma pequena surpresa e entrego a Clara, que pulava de animação, os olhos brilhando enquanto escolhia por onde começar.
Do lado de fora, Dick buzina, coloca que é a hora de levá-la para casa, minha mãe também se apressa, pegando sua bolsa de trabalho e como sempre, deixa um beijo no topo da minha cabeça antes de sair.
— Até mais tarde, amor, já volto! — ela diz sorrindo, mas com a pressa de quem tem mil coisas pra resolver.
Fiquei por um momento parado na porta, observando o carro se afastar com Clara, Dick e minha mãe. Era engraçado como, com eles, tudo parecia mais leve, como se de repente a vida fazia sentido. Clara com sua alegria e inocência, me lembrava do que eu estava construindo ao lado de Dick.
Por tanto tempo, a ideia de "família" me soava distante, algo reservado para os outros, mas agora, era como se eu finalmente estivesse encontrando um lar, um lar onde eu tinha apoio, onde eu poderia ser eu mesmo. Olhei para Lara, deitada no tapete ao lado do sofá, me encarando com uma expressão serena.
— E aí, menina — murmurei me abaixando para afagar sua cabeça. — Parece que a família cresceu, hein? — Ela me encarou como se compreendesse perfeitamente.
Enquanto arrumava algumas coisas pela sala, o celular vibrava, peguei o aparelho e li uma mensagem de Dick
>Ei, você sabia que você é o melhor tio do mundo? Obrigado por tudo hoje.
Soltei um sorriso, engraçado como em meio a todos os momentos da vida, uma simples mensagem poderia me dar forças.
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Segunda Chances - Romance Gay
RomanceDepois de anos sendo atormentado por Dick, Lorenzo finalmente vê uma reviravolta quando Dick confessa seus sentimentos. No entanto, um novo aluno, Marcos, entra em cena e começa a conquistar o coração de Lorenzo com sua gentileza e compreensão. Divi...