— Como ela está? — pergunto, olhando pela pequena janela fixa na parede do quarto.
A Dra. Moore, parada ao meu lado, solta um longo e cansado suspiro.
— Mal — admite. — Foi uma noite extremamente difícil pra ela. Sentiu dores fortes, tivemos que aplicar morfina, e também vomitou bastante. Detectamos uma infecção grave, estamos tentando tratar.
Engulo em seco.
— O que podemos fazer?
— Esperar. No estágio dela… — ela faz uma pausa e depois balança a cabeça. — Bom, vamos torcer para que ela reaja aos medicamentos, e que eles tornem essa experiência um pouco mais suportável tanto pra ela quanto pra família.
Sinto uma fisgada no peito enquanto olho pela janela. Mesmo de longe, Ann parece arrasada. Eu queria fazer alguma coisa para poder ajudar, mas estou impotente. Não sou eu que faço as leis da vida.
— Está tudo bem, Weston? — pergunta Juliette, em um tom de preocupação.
— Ela não merece isso — digo, baixinho.
— Ninguém merece, Weston — retruca gentilmente. — Mas o câncer é algo imprevisível, cruel e doloroso. Mesmo depois de anos trabalhando na área, ainda não consigo me acostumar com essa situação.
— Ela é só uma criança — sei que meu trabalho é ser imparcial, mas não consigo esconder a dor na minha voz. — Tem uma vida toda pela frente.
Juliette segura o meu ombro, como que para me consolar.
— A vida tem data de validade, Weston. Infelizmente o tempo acaba para uns mais rápido do que para outros, mas ainda assim, tenho certeza que ela foi feliz. Você está fazendo um trabalho excepcional aqui, nunca duvide disso.
Ainda assim, não parece ser suficiente. Estou dando tudo de mim, mas parece que meus esforços estão sendo em vão. A minha vida tem sido dessa maneira ultimamente. As coisas deram tão errado na minha vida pessoal, que me afundei no trabalho até apagar de exaustão, mas as coisas não estão fáceis por aqui também. Sinto como se estivesse preso em um ciclo vicioso de dor, onde a cicatriz em meu peito se recusa a parar de sangrar.
— Achei que ela fosse melhorar depois do transplante de células-tronco — comento.
— A medicina nem sempre traz os resultados que esperamos. O tratamento da Ann foi um tiro no escuro; o transplante, a quimioterapia, a radioterapia… nunca tivemos certeza de que isso iria funcionar, mas é nosso dever explorar todas as opções até que não reste mais nada a se fazer.
Engulo o caroço que ameaça se formar na minha garganta.
— Eu tinha esperanças — admito, baixinho.
Ela me lança um olhar cheio de pena.
— Sinto muito, Wes.
Juliette tem razão: eu não deveria me apegar tanto assim aos pacientes, mas eu passo a maior parte do meu tempo aqui, compartilhando todas essas histórias, e é praticamente impossível não se envolver. Essas pessoas significam algo para mim, e eu só quero o melhor para elas — é por isso que trabalho arduamente —, principalmente para Ann, a quem estou supervisionando há tantos anos. Somos praticamente uma família, e sei que vou sofrer quando ela se for.
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QUERIDO VIZINHO
RomanceQuinn Hart não é o tipo de pessoa que perde o controle, mas isso não se aplica quando o seu vizinho de porta enigmático, Weston Wade, está na jogada. Eles nunca se encontraram pessoalmente, mas as "atividades" barulhentas de Weston, principalmente...