Cara a cara com o passado, capítulo 4

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Eu daria tudo para estar presente quando a minha vizinha saísse do apartamento e desse de cara com o que deixei à sua porta

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Eu daria tudo para estar presente quando a minha vizinha saísse do apartamento e desse de cara com o que deixei à sua porta. Esse é o motivo pelo qual eu fico rindo sozinho, imaginando a cara dela, e principalmente dos variados nomes que ela provavelmente me xingou.

Preciso ser honesto: normalmente, não ajo como um babaca infantil. Entrei na casa dos 30 recentemente, e sei me comportar, ao contrário do meu irmão caçula. E eu estava disposto a deixar essa história para lá, me desculpar com a vizinha e garantir que ela não fosse mais importunada pelas aventuras noturnas do meu irmão libertino. É só que… caramba, o nosso encontro súbito no elevador foi muito divertido, e percebi que consigo tirá-la do sério com o mínimo de esforço.

Mesmo com a pele cor de chocolate dela, consegui enxergar o tom vermelho em seu rosto por conta da raiva. Ela me encarou com tanto asco que poderia facilmente abrir um buraco no meio da minha testa.

Claro que não me preocupei em desmentir toda a história, em informá-la que não sou eu o causador de toda essa confusão, mas não é problema meu se ela decidiu tirar as próprias conclusões — a mulher simplesmente apareceu na minha porta me acusando, sem me dar direito de resposta. Só respondi à altura.

Mas eu realmente pretendo colocar algum limite no meu irmão inconsequente. Normalmente não me incomodo com a barulheira no quarto de hóspedes porque tenho meus próprios tampões de ouvido, e também utilizo bastante fones de ouvido fora do trabalho, seja para ouvir audiobooks ou música. Mas não quero problemas com a vizinhança, e sei que a senhorita Regina — preciso descobrir o nome verdadeiro dela — vai cumprir com sua palavra e fazer uma reclamação ao síndico sobre a minha pessoa.

Sou um cara tranquilo, não gosto de problemas, principalmente de ser chamado a atenção. Adoro o meu irmão, mas compartilhar o mesmo apartamento com ele não é uma experiência que eu aprecie muito — já tive uma experiência semelhante quando estávamos na faculdade, e posso dizer que não gostei nada. Mas o apartamento dele está em reforma, e ele precisa de um lugar para ficar até tudo ficar pronto.

O problema é que somos duas personalidades completamente distintas. Eu sempre fui reservado, caseiro, e prezo muito um momento de tranquilidade e silêncio. Dominic, pelo contrário, é uma bagunça completa. Ele é do tipo que gosta de festas, barulho, seja ele fora ou dentro do quarto. O idiota vive a vida como se ainda tivesse vinte anos, com sua fama de garanhão da faculdade, e ele pode conseguir a mulher que quer com um estalar de dedos, e por esse motivo eu sempre acabo dando de cara com uma desconhecida na minha cozinha. É uma situação embaraçosa, e eu não me sinto confortável com isso, e é por isso que eu decidi assumir a personalidade de irmão mais velho chato e dar um basta nessa situação.

Ou aquele merdinha segue as minhas regras ou estará no olho da rua antes que ele consiga soletrar a palavra "avião". E não adianta vir com aquele olhar de cachorrinho sem dono para cima de mim.

— O que é tão engraçado?

Olho para Ann, e percebo que eu estava divagando enquanto ela estava falando.

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